Capítulo 28 - Em meus olhos

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04/06/2019, 18:43


Helena está outra vez em casa.

Por tantas noites, eu sonhei com esse momento que parecia impossível, mas agora que ele se tornou real, percebo que a realidade não é tão simples como nos meus sonhos. Eu deveria estar aqui dando saltos de alegria, afinal ela está aqui sã e salva depois de tanto tempo longe, mas meu coração continua machucado, já que sua chegada também significou a partida do Ravi.

Ele se foi sem que eu pudesse argumentar ou ao menos me despedir.

Acomodei Helena no quarto que costumávamos dividir, a cama já não era a mesma, nem mesmo os lençóis, tudo tinha sido trocado depois de sua suposta morte. Só as paredes desse cômodo são as mesmas, como se estivéssemos em outra vida e tudo que era dela tivesse deixado de existir aqui.

Se antes eu achava que tudo voltaria a ser como antes em um passe de mágica, agora percebo o quão difícil será esse recomeço, pois a vida já não é a mesma de quando ela saiu por essas portas. Os longos dias de sua ausência não só mudaram os móveis de nossa casa, mas também nossos sentimentos.

— Eu posso perfeitamente caminhar sozinha até a cozinha para beber água, Cadu. — Helena protestou, afastando a minha tentativa de apoiá-la em sua caminhada.

— Não me importo em ajudar. — eu disse, mas sua irritação ficou pior, me fazendo perceber que tinha dito a coisa errada. — Tá bom, me desculpa.

— Só quero sair dessa situação logo, ter minha vida normal de volta. — Ela disse, me encarrando. — Você não tem noção do quanto é frustrante precisar de ajuda para tudo.

— Eu te entendo, só fico preocupado. — Eu disse a ela.

— E eu fico contente que você ainda fique preocupado comigo, eu fiquei todo esse tempo imaginando que eu tinha estragado tudo ao ponto de você nem sentir a minha falta. — ela falou, por um instante nos encarramos e tive a certeza ambos estavam lutando para ressuscitar o sentimento que existia quando nos casamos.

Nos dias que seguiram após o seu retorno, tudo parecia bem estranho entre nós dois. Apesar de dormir no mesmo quarto que ela, preferi usar o colchão inflável que guardávamos para visitas. Eu não sentia que seria certo dividirmos a mesma cama tão cedo, afinal de contas, não era como se eu estivesse todo esse tempo esperando ela aqui. Só não sei ainda como discutir esse assunto com Helena.

A barreira que o tempo e a distância ergueram entre nós dois é quase palpável, a questão é se a convivência será suficiente para derrubá-la. É como se toda a intimidade que tínhamos como casal tivesse se perdido, os únicos toques que consigo lhe dar são os necessários para trocas de curativos. A linha entre eu ser o seu cuidador e o seu marido parece intransponível agora.

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