12/06/2018, 11:21
Av. Telles, Rio de Janeiro – RJ
601 A
Há algum tempo não tínhamos mais notícias sobre o acidente na mídia, o assunto enfim tinha esfriado e toda atenção que recebia eram notas curtas em jornais locais. Os dias se tornaram mais calmos e até parecia que finalmente poderíamos voltar à normalidade, ou ao menos o mais próximo disso. Não tínhamos recebido nenhuma notícia relevante da investigação, toda às vezes que tentei contato com a equipe que estava cuidando do caso, recebi sempre a mesma resposta de que não poderiam comentar nada, pois poderia atrapalhar o andamento das investigações.
Então a sensação de continuar suspenso no ar, sem saber o que de fato aconteceu, continua comigo. Falta uma conclusão para essa parte da minha vida, ou sempre restaria a dúvida se ela continua viva, em algum lugar por aí. Eu não sei se conseguirei seguir com a minha vida se não tiver essas respostas.
Mas elas viriam naquele mesmo dia.
Minhas visitas ao apartamento da frente tinha se tornado frequentes, Ravi claramente não tem nenhuma experiência com crianças, e de certa forma eu me sento responsável por não permitir que ele coloque fogo no prédio tentando esquentar uma mamadeira. Por tanto eu tento tirar pelo menos alguns minutos do meu dia para ver como as coisas estão por lá.
— Parece que alguém ainda não consegue dormir à noite toda. — eu disse notando o seu semblante abatido ao me atender na porta.
— Essa criança parece determinada a não dormir de jeito nenhum a noite. — ele respondeu esfregando os olhos fundos de tantas olheiras. — Ele só dorme quando eu não posso dormir, e sempre que eu me deito ele acorda chorando desesperado.
— Ele deve estar sentindo falta da mãe, já levou ele para vê-la? — perguntei.
— Ainda não tive coragem. Não sei se é bom pra ele ver ela daquele jeito. — ele respondeu. — Em todo caso ela continua em coma, não acho que vá ajudar muito.
— Por experiência própria posso dizer que a ausência de uma mãe pode ser terrível para uma criança. — disse a ele, que apenas assentiu sem contestar. — Mas agora vamos checar essa fralda? — falei pegando o pequeno Henry no colo.
— Já troquei essa manhã. — informou.
— Olha, até que melhorou. Pelo menos dessa vez não está de trás para frente. — caçoei.
— Idiota. — ele retrucou.
Nossa convivência se tornava mais amistosa a cada dia, não sei se poderíamos nos considerar amigos, mas ao menos colegas de desastre. Se antes não tínhamos nada em comum que pudesse nos aproximar, agora o destino se encarregou de nos dar várias similaridades em nossas vidas. E de certa forma isso me deixava feliz, não que eu estivesse contente com todo esse horror que nos atingiu, mas por que sempre achei Ravi alguém interessante. Eu via nele algo instigante, daqueles tipos de pessoa a qual eu gostaria ter uma conversa longa sobre a vida.
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Desastres em Comum
RomantizmA verdade é que todos nessa vida procuram o seu próprio final feliz, seja ele ter o emprego dos sonhos, a casa perfeita, uma família grande ou qualquer outra coisa que nos traga a felicidade. Para Ravi e Cadu essas metas já foram alcançadas, os dois...