27/03/2018, 16:14
Av. Telles, Rio de Janeiro – RJ
601 A
Eu demorei voltar a existir depois que ele se foi.
Não tinha sido de propósito, nem ao algo que fiz conscientemente. Apenas desaprendi como era vida sem ter Pedro ao meu lado. Tudo que construí na vida tinha sido com ele, todos os meus planos o incluíam e nada em nossas vidas fazia sentido sem o outro. Mas agora, de maneira abrupta e arrasadora, ele tinha sido retirado de mim.
Eu simplesmente não sabia por onde começar, não sabia como me reconstruir. Apenas deixei os dias passarem, inerte na minha própria dor. Me aproveitei do cerco que impressa estava montando para ficar cada vez mais recluso no apartamento, mesmo sabendo que em algum momento isso não seria mais suficiente.
Mari tinha tentado de todas as formas me tirar dali, mas eu não tinha vontade nenhuma de ver a luz do dia. Eu me recusava a seguir minha vida sabendo que ele não poderia seguir a dele. Era como se eu estivesse traindo sua lembrança e o deixando ir de verdade.
Meu único escape era a escrita. Meus dias se resumiam em encher páginas e mais páginas com novos capítulos, que agora pareciam ainda mais sombrios e depressivos que antes. Ao menos não tinha recebido nenhuma reclamação quanto a isso, não sei se estavam realmente bons ou se a editora só não queria me chatear nesse momento de luto.
Ao menos minha dor estava sendo transferida para o papel.
"O tintilar do velho sino soou pela praça do centro, do alto da torre da igreja badalou 32 vezes sinalizando o número de mortos naquele dia. As ruas ainda em chamas quando a procissão saiu do templo carregando os caixões com as vítimas dos ataques de bombas aéreas lançadas pelo exército único.
Caminhava em silêncio por entre os escombros de casa e prédios comerciais totalmente destruídos. Nem mesmo as beatas tinham animo para cantar os cânticos fúnebres que seriam normalmente entoados durante um funeral. Era como se todos ali também tivessem morrido um pouco.
E esse nem tinha sido o ataque mais devastador que tinha sido feito pelo inimigo, mais tinha sem dúvida nenhuma sido o mais cruel de todos. As bombas lançadas por aviões bombardeiros atingiram o coração do pequeno vilarejo, onde não haviam forças militares ou industrias que alimentassem a guerra. O único motivo para toda essa destruição era minha família ainda morar ali.
Isaías sabia que um ataque a Vinália não traria nenhum ganho, mas as mortes ali me atingiriam pessoalmente. Sua crueldade era tanta que ele era totalmente capaz de sacrificar dezenas de vidas inocentes apenas para demonstrar o seu poder e me intimidar. Ele sabia que com a morte de meus pais eu não teria outra escolha senão caminhar até Torre Central e enfrentá-lo frente a frente, mesmo que isso significasse estar cercado por todo o seu poder bélico.
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Desastres em Comum
RomantizmA verdade é que todos nessa vida procuram o seu próprio final feliz, seja ele ter o emprego dos sonhos, a casa perfeita, uma família grande ou qualquer outra coisa que nos traga a felicidade. Para Ravi e Cadu essas metas já foram alcançadas, os dois...