Capítulo XIII

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Elise não se lembrava de ter ido a um concerto e, para falar a verdade, nunca tivera muito interesse. Na arte, sua predileção sempre fora pela literatura, embora apreciasse o melódico som dos violinos, harpas e do piano.

Seu pai também havia sido convidado pelo duque, então a acompanharia. A noite estava fria, e Elise escolheu um vestido azul-escuro de mangas longas, com delicados detalhes em renda branca. Seu cabelo foi preso em uma coroa de tranças adornada com pérolas. Antes de sair, seu pai lhe entregou os brincos de esmeralda que haviam pertencido à sua mãe.

A carruagem chegou por volta das dezoito horas—mas, para sua surpresa, Thomas também veio junto.

— Minha mãe pediu que eu acompanhasse vocês.

— Ótimo, senhor Bradford. Será um prazer ter sua companhia.

Gregory mantinha uma postura cordial, mas ainda guardava certa desconfiança. Não havia gostado do fato de Thomas ter ocultado informações importantes.

A viagem até o concerto transcorreu em silêncio. Ao chegarem, Thomas ofereceu ajuda para Elise descer da carruagem, e ela aceitou. Mesmo através da luva, pôde sentir o calor da mão dele. Um arrepio percorreu sua nuca.

Na recepção, vários convidados conversavam e bebiam antes da apresentação. Perto da escadaria, estavam o duque, a duquesa, Amy e James, engajados em um diálogo com o Marquês de Exeter—um velho rabugento, sem herdeiros e sem esposa.

Ao avistar os recém-chegados, o duque sorriu e disse algo ao marquês, que logo se virou para Elise e seu pai.

— Velho amigo, permita-me apresentar minha futura nora, Elise, e seu pai, Gregory. Mas, claro, o senhor já conhece meu filho, Thomas.

— Milorde, é uma honra conhecê-lo. — Elise fez uma reverência, acompanhada por seu pai.

O marquês a analisou de cima a baixo antes de perguntar:

— A senhorita gosta de ópera?

— Devo confessar, milorde, que não me recordo de ter ido a alguma. Mas aprecio muito os instrumentos.

— Toca algum? Não me surpreenderia se não tocasse.

Elise hesitou. O marquês parecia querer testá-la. Mas então, ergueu o queixo e começou a listar:

— Fortepiano, violino, harpa, violoncelo, flauta... São apenas alguns.

O sorriso ácido do marquês encontrou uma resposta à altura.

Amy soltou uma risadinha discreta, mas sua mãe logo a repreendeu—embora não conseguisse conter um sorriso.

— Espero que aproveite a apresentação, senhorita. — o marquês despediu-se, afastando-se.

O duque sorriu e comentou:

— Não leve para o pessoal, Exeter gosta de tentar constranger todos. Mas parece que, pela primeira vez, alguém virou o jogo.

— Procuro ser sincera, Vossa Graça.

Elise não pôde evitar pensar na última vez que sua sinceridade lhe causara problemas.

Foi então que James interveio, sua voz carregando um sutil tom de ironia:

— Em algumas coisas, Elise. Apenas em algumas, creio eu.

Elise engoliu seco.

Amy, Anelise e Gregory trocaram olhares de dúvida, mas não disseram nada. A tensão foi interrompida pelo anúncio de que o concerto iria começar.

Os Florens e Bradfords se acomodaram em um dos camarotes, cuja entrada dava para uma sala privada, com sofás, poltronas, uma lareira e bebidas dispostas em uma mesa lateral.

Vossas Graças e Gregory se sentaram atrás, junto de Amy e James. Thomas tentou trocar de lugar com o irmão, mas James recusou. Assim, ele e Elise ocuparam os assentos da frente.

A orquestra se posicionou e, sob a batuta do maestro, iniciou sua performance. Os instrumentos compunham uma formação rica: duas trompas de caça, três oboés, um fagote, violino piccolo, dois violinos, uma viola, um violoncelo e um baixo contínuo (cravo).

A melodia era familiar a Elise. Até que Thomas se inclinou discretamente para murmurar:

— Este é o Concerto de Brandenburgo de...

— Johann Sebastian Bach. — ela completou. — Já ouvi algumas composições dele... Mas, para ser sincera, não estão entre as minhas favoritas.

Thomas sorriu.

— Deixe-me adivinhar... Prefere Vivaldi?

— Sim, especialmente Outono, de As Quatro Estações.

— Me lembra as danças dos bailes.

— Esse é um dos motivos pelos quais gosto dela. São animadas!

Thomas soltou uma risada breve e recostou-se na cadeira.

A música seguia um ritmo intrigante—allegro, porém suavemente contido. As flautas conferiam um toque diferenciado à composição. Entre os movimentos, alternavam-se nuances como adagio, larghetto, moderato e vivace.

Foi então que Elise começou a sentir seu corpo esquentar. Primeiro, uma leve tontura. Depois, o mal-estar cresceu, tornando-se desconfortável.

Ela precisava de um copo d'água. De ar fresco.

Levantou-se discretamente e se dirigiu à sala reservada, mas antes que pudesse sair, seu pai segurou sua mão e indagou, preocupado:

— Estás bem, minha querida?

Elise tentou disfarçar.

— Sim, pai. Apenas um mal-estar momentâneo... Já volto.

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