A Descrição de Farmer Oak – Um Incidente
Quando o Fazendeiro Oak sorria, os cantos de sua boca estendiam-se até bem perto de suas orelhas, seus olhos se reduziam a fendas estreitas e apareciam rugas em volta deles, espalhando-se por seu semblante como os raios de um desenho rudimentar do sol nascente.
Seu nome de batismo era Gabriel, e nos dias de trabalho ele era um jovem íntegro, de movimentos calmos, vestimentas apropriadas e bom caráter. Aos domingos, era um homem de aspecto vago, dado a procrastinar, atrapalhado por suas melhores roupas e seu guarda-chuva: no geral, sentia que deveria ocupar moralmente o vasto espaço de neutralidade laudiceia que ficava entre as pessoas da comunhão da paróquia e da seção dos bêbados, ou seja, ele ia à igreja, mas bocejava discretamente quando a congregação chegava à parte do credo niceno e pensava no que havia para o jantar quando devia estar ouvindo o sermão. Ou, para afirmar seu caráter para a opinião pública, quando seus amigos e críticos estavam furiosos, ele se considerava um homem mau; quando estavam alegres, ele era bom; quando não estavam nem uma coisa nem outra, ele era aquele homem, cuja cor de sua moral era como a de uma mistura de sal e pimenta.
Exceto nos domingos no qual ele não trabalhava, Oak tinha seis dias de trabalho, portanto, sua aparência em suas roupas velhas era mais peculiarmente a dele próprio, e seus vizinhos se acostumaram a vê-lo sempre vestido daquele jeito. Usava uma meia cartola de feltro enterrada em sua cabeça, por segurança contra os ventos fortes, e um casaco parecido com o do escritor Dr. Johnson. Suas pernas ficavam encaixadas em calças de couro comuns, e botas enfaticamente grandes, dando aos pés espaço suficiente para que quem as usasse pudesse ficar um dia inteiro num rio e nem perceber a umidade. Quem as fizera fora um homem consciente, que se empenhava para compensar qualquer fragilidade no seu corte com dimensões e solidez abundantes.
Mr. Oak carregava consigo um relógio de pulso de prata. Em outras palavras, era um relógio no formato, na intenção e pequeno no tamanho. Este instrumento que era muitos anos mais velho do que seu avô, tinha a peculiaridade de ficar muito adiantado ou de não funcionar. O ponteiro menor ocasionalmente também escapava do pivô e assim, embora os minutos fossem mostrados com precisão, não se podia dizer exatamente a que hora eles pertenciam. Mr. Oaks remediava a peculiaridade de seu relógio parado com pancadas e chacoalhadas, e escapava de qualquer consequência desastrosa de outros defeitos: o de deduções constantes, da observação do sol e das estrelas, bem como o de pressionar o rosto nas vidraças dos vizinhos até que pudesse decifrar a hora marcada no visor verde do relógio lá dentro. Poder-se-ia dizer que o bolsinho do relógio era de difícil acesso por causa da situação do cós de suas calças (que também ficava a uma remota altura de seu colete). Tirá-lo do bolso requereria esforço, como jogar o corpo para um lado, comprimir a boca e o rosto para puxá-lo pela corrente como se faz com um balde de um poço.
Mas algumas pessoas mais atentas, que o viram atravessando um de seus campos numa certa manhã de dezembro ensolarada e extraordinariamente agradável, podiam julgar Gabriel Oak por aspectos diferentes. Era possível notar em seu rosto que os muitos tons e linhas de sua juventude haviam permanecido em sua fase adulta: até mesmo algumas de suas lembranças de infância permaneceram em suas mais remotas rugas. Sua altura e estrutura seriam suficientes para que sua presença fosse notada, se não fossem exibidas com a devida consideração. Mas há um costume que alguns homens têm, tanto os do campo como os urbanos, que o intelecto é mais importante do que carne e músculos: o costume de reduzir suas dimensões pela forma como as mostra. Oak era de uma modéstia silenciosa que se chamaria casta e não lutava por seu lugar no mundo. Caminhava despretensiosamente e curvado, mas ainda distinto, embora com seus ombros fossem caídos. Isso poderia ser considerado um defeito num indivíduo se ele esperasse maior reconhecimento por sua aparência do que por sua capacidade de estar em boas condições, o que para Oak não era assim.