A REVANCHE DE FANNY
"Ainda vai precisar de mim, Madame?", perguntou Liddy, uma hora depois na mesma noite, de pé ao lado da porta com um castiçal na mão dirigindo-se a Bathsheba, que estava triste e sozinha na grande sala de estar ao lado do primeiro fogo da temporada.
"Esta noite, não, Liddy."
"Posso ficar até mais tarde para esperar o patrão se quiser, senhora. Não fico com medo de Fanny se puder me sentar no meu próprio quarto com uma vela. Ela era uma jovem tão infantil e tímida que o seu espírito não apareceria a ninguém, tenho certeza."
"Oh não, não! Vá dormir. Vou esperar por ele até meia-noite e, se não chegar a essa altura, vou desistir e ir dormir também."
"São dez e meia agora."
"Ah, é?"
"Por que não espera lá em cima, senhora?"
"Porque?", disse Bathsheba, enfastiadamente. "Não vale a pena, há fogo aqui, Liddy." De repente, ela disse num sussurro impulsivo e animado: "Já ouviu falar alguma coisa estranha de Fanny?" As palavras tinham mal tinham escapado dela quando uma expressão de pesar indizível atravessou seu rosto e ela explodiu em lágrimas.
"Não, nem uma palavra!", informou Liddy, olhando com espanto para a mulher chorando. "O que é que a faz chorar assim, minha senhora? Há algo lhe incomodando?" Veio para o lado de Bathsheba com o rosto cheio de compaixão.
"Não, Liddy... não preciso mais de você. Mal posso dizer por que eu tenho chorado ultimamente. Não costumava chorar. Boa noite."
Liddy, em seguida, deixou a sala e fechou a porta.
Bathsheba estava só e infeliz naquele momento, não mais solitária, na verdade, do que fora antes de seu casamento. Mas sua solidão estava para a do tempo presente como a solidão de uma montanha está para a solidão de uma caverna. E nos últimos dias vieram esses pensamentos inquietantes sobre o passado de seu marido. Seu sentimento rebelde naquela noite, a respeito do lugar de descanso temporário de Fanny, tinha sido o resultado de uma complicação estranha de impulsos no peito de Bathsheba. Talvez fosse melhor descrita como uma determinada rebelião contra seus preconceitos, uma repulsa de um instinto inferior da falta de caridade, o que teria retido toda a simpatia da mulher morta, porque na vida havia precedido Bathsheba nas atenções de um homem a quem Bathsheba de modo algum deixou de amar, apesar de seu amor estar doente à beira morte agora com a gravidade de uma outra apreensão.
Em cinco ou dez minutos houve outra batida na porta. Liddy reapareceu, de uma forma hesitante, até que finalmente disse:
"Maryann acaba de ouvir algo muito estranho, mas eu sei que não é verdade. E vamos ter a certeza de conhecer os direitos disso num dia ou dois."
"O que foi?"
"Oh, nada relacionado com você ou conosco, Madame. Trata-se de Fanny. A mesma coisa que ouviu."
"Não ouvi nada."
"Refiro-me a uma história perversa que tem corrido por Weatherbury nesta última hora... que..." Liddy chegou perto de sua patroa e sussurrou o restante da sentença lentamente em seu ouvido, inclinando a cabeça enquanto falava na direção da sala onde Fanny estava.
Bathsheba tremeu da cabeça aos pés.
"Não acredito!", ela disse, surpresa. "E há apenas um nome escrito sobre a tampa do caixão."
"Nem eu, senhora, e muitas outras pessoas também. Nós certamente seríamos mais informados sobre isso se fosse verdade, não acha, Madame?"
"Talvez sim, talvez não."