Capítulo 7

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RECONHECIMENTO—UMA GAROTA TÍMIDA

Bathsheba sumiu nas sombras. Mal sabia se estava mais surpresa pela singularidade do encontro ou preocupada com a estranheza dele. Havia espaço para um pouco de pena, também para pouquíssima exultação: a primeira coisa por sua posição, a segunda por ela mesma. Embaraçada ela não estava, e lembrou-se da declaração de amor de Gabriel em Norcombe apenas por pensar que quase se esquecera dela.

"Sim", murmurou ela, usando um ar de dignidade e virando-se outra vez para ele com certo calor nas bochechas. "Quero mesmo um pastor. Mas..."

"Este é o homem, Madame", disse baixinho um dos moradores do vilarejo.

Uma ideia confirma a outra.

"É, isso mesmo", disse outro, decisivamente.

"É ele mesmo!", falou um terceiro, com sinceridade.

"O próprio!", disse o quarto, fervorosamente.

"Então digam a ele para falar com o administrador", falou Bathsheba.

Estava tudo fácil agora. A proximidade do verão e a solidão foram necessárias para dar ao encontro a plenitude do romance.

Apresentaram o administrador a Gabriel que, percebendo a palpitação em seu peito ao descobrir que esta deusa admirada Astarte, era apenas uma modificação da Vênus tão conhecida, afastou-se dela para falar das necessidades preliminares da contratação.

O fogo diante deles diminuiu.

"Homem", disse Bathsheba, "você precisa de um pouco de descanso depois do trabalho extra. Não quer entrar?"

"Podemos comer e beber alguma coisa de graça, Senhorita, neste caso iremos para o Warren's Malthouse", respondeu o orador.

Bathsheba então cavalgou de volta na escuridão e os homens vagaram para a vila em duplas ou trios, Oak e o administrador saíram sozinhos pela pilha.

"E agora", disse o administrador, "que tudo está resolvido sobre a sua vinda, vou para casa. Boa noite, pastor."

"Pode me arrumar um lugar para ficar?", perguntou Gabriel.

"Isso eu já não posso", disse ele, passando por Oak como um cristão passa pela bandeja do ofertório quando não tem intenção de doar nada. "Se você seguir pela estrada até chegar ao Warren's Malthouse, onde todos já se foram para foram comer, acredito que alguém possa lhe oferecer um lugar. Tenha uma boa-noite, pastor."

O administrador, que demonstrou tal pavor em amar o próximo como a si mesmo, subiu a colina e Oak andou até a vila, ainda pasmo por ter reencontrado Bathsheba, contente pela proximidade com ela, e perplexo com a rapidez com a qual a moça sem prática de Norcombe se tornara a mulher calma e supervisora aqui. Mas algumas mulheres precisam apenas de uma emergência para que se encaixem nisso.

Grato, de algum modo, por privar-se de sonhar para encontrar seu caminho, ele chegou à praça da igreja e deu a volta por baixo do muro onde várias árvores antigas ficavam. Havia uma larga beira de grama e os passos de Gabriel eram amortecidos pela maciez dela, mesmo neste tempo seco do ano. Quando encontrou um tronco, que parecia ser o mais velho de todos, notou que alguém estava parado atrás dele. Gabriel não parou sua caminhada e em outro momento acidentalmente chutou uma pedra solta. O barulho foi o bastante para incomodar o estranho imóvel, que assumiu uma posição mais descuidada.

Era uma moça esbelta, com poucas roupas.

"Boa noite", disse Gabriel, cordialmente.

"Boa noite", respondeu a garota a Gabriel.

A voz era inesperadamente atraente. Era a nota baixa e melodiosa sugestiva do romance, comum nas descrições, rara na experiência.

"Ficaria grato se me dissesse o caminho para o Warren's Malthouse", continuou Gabriel, inicialmente para obter a informação, indiretamente para ouvir mais daquela melodia.

"Muito bem. Fica no pé da colina. E você sabe..." A garota hesitou e depois continuou. "Sabe se o Buck's Head Inn fica aberto até tarde?", ela parecia conquistada pela cordialidade de Gabriel como ele fora conquistado pela musicalidade dela.

"Não sei onde fica o Buck's Head ou coisa assim. Está pensado em ir para lá esta noite?"

"Sim..." A mulher pausou novamente. Não havia necessidade alguma de continuar a conversa e o fato de ela ter continuado parecia vir de um desejo inconsciente de mostrar despreocupação, afirmar algo que era percebido na ingenuidade quando estão agindo em segredo. "Você não é de Weatherbury?", disse ela timidamente.

"Não. Sou o novo pastor. Acabei de chegar."

"Só um pastor... mas parece quase um fazendeiro por seus modos."

"Só um pastor", repetiu Gabriel, numa cadência tola de determinação. Seus pensamentos dirigiram-se para o passado, e seus olhos aos pés da moça e pela primeira vez ele viu ali um tipo de inquietação. Ela deve ter percebido a direção do rosto dele, pois disse lisonjeiramente:

"Você não vai dizer nada na paróquia que me viu aqui, vai? Pelo menos por um ou dois dias?"

"Não se você não quiser que eu diga", respondeu Oak.

"Muito obrigada", retorquiu ela. "Sou bem pobre e não quero que as pessoas saibam nada sobre mim." Ela então ficou em silêncio e estremeceu.

"Você precisa de um casaco para uma noite tão fria", observou Gabriel. "Eu a aconselharia a entrar."

"Ah, não! Se importa de continuar e me deixar? Agradeço-lhe muito pelo que me disse."

"Vou seguir em frente", disse ele. Hesitantemente, ele continuou. "Como você não está em condições muito boas, talvez aceite o pouco que tenho. É só um xelim, mas é tudo o que tenho de reserva."

"Sim, vou aceitar", disse a estranha, com gratidão.

Ela estendeu a mão, e Gabriel, a dele. A sensação das mãos que se tocaram na melancolia antes que o dinheiro fosse passado, um incidente momentâneo que disse muita coisa. Os dedos de Gabriel pousaram no pulso da jovem e este pulsava com um batimento de intensidade trágica. Ele frequentemente sentia a mesma velocidade, um batimento forte na artéria femoral de seus carneiros quando estavam cansados. Parecia que ela estava passando por uma situação devastadora, grande demais numa vitalidade que, a julgar pela sua aparência e estatura, era pouca.

"Qual é o problema?"

"Nada."

"Mas existe um", afirmou ele.

"Não, não, não! Guarde segredo que me viu."

"Muito bem, vou guardar. Boa noite outra vez."

"Boa noite."

A jovem continuou imóvel perto da árvore e Gabriel desceu até a vila de Weatherbury ou Lower Longpuddle como às vezes era chamada. Pensou sentir a penumbra de uma tristeza muito profunda ao tocar aquela criatura débil e frágil. Mas a sabedoria está em moderar meras impressões, e Gabriel esforçou-se para pensar pouco naquilo.

Longe Deste Insensato Mundo (1874)Onde histórias criam vida. Descubra agora