PERPLEXIDADE — O AMOLAR DAS TOSQUIADEIRAS — UMA DISPUTA
Ele é tão abnegado e bom para me oferecer tudo que sempre sonhei", refletiu Bathsheba.
Mas o fazendeiro Boldwood, por sua natureza amável ou pelo contrário da amabilidade, não estava exercitando a bondade aqui. As ofertas mais raras do mais puro amor não passam de comodismo e nada têm de generosidade.
Bathsheba, por não estar nem um pouco apaixonada por ele, podia assim analisar friamente a proposta dele. Era daquelas que muitas mulheres na vizinhança em condições como a dela aceitariam com entusiasmo e divulgariam com orgulho. De todos os pontos de vista, do político ao passional, era desejável que ela, uma moça solitária, devesse se casar, e se casar com este homem sério, rico e respeitado. Morava perto dela, sua situação era suficiente, suas qualidades eram mais do que as desejáveis. Se ela tivesse sentido, e não sentiu, qualquer desejo pelo fato de estar casada abstratamente, não poderia tê-lo rejeitado com sensatez por ser uma mulher que costumava apelar para sua compreensão para fugir de seus caprichos. Boldwood não tinha defeitos para o matrimônio: ela o estimava e gostava dele, mas ainda assim, não o queria. Parecia que os homens comuns arranjam esposas porque a possessão não é possível fora do casamento, e que as mulheres comuns aceitam os maridos porque o matrimônio não é possível sem possessão. Com objetivos totalmente diferentes, o método é o mesmo em ambos os lados. Além do mais, a posição de Bathsheba como senhora absoluta de uma fazenda e de uma casa era nova, e a novidade ainda não havia começado a desgastar-se.
Mas uma inquietação tomou conta dela que, de alguma forma era a seu favor, mas esta atingia a poucas pessoas. Além dos motivos mencionados com os quais ela combateu suas objeções, tinha a forte sensação que, sendo ela quem começou o jogo, devia aceitar as consequências com honestidade. Ainda assim restava a relutância. Ao mesmo tempo em que pensava que não casar-se com Baldwood seria falta de generosidade, não podia fazer aquilo para salvar sua vida.
Bathsheba tinha uma natureza impulsiva sob um aspecto deliberativo. Com o cérebro de uma Elizabeth e o espírito de uma Mary Stuart, ela geralmente desempenhava ações da maior ousadia com extrema discrição. Muitos de seus pensamentos eram raciocínios perfeitos; por azar, não passavam de pensamentos. Poucos eram deduções irracionais, mas, infelizmente, estes eram os que mais frequentemente transformavam-se em ações.
No dia seguinte ao daquela declaração, encontrou Oak no fundo de seu jardim, amolando as tosquiadeiras para a tosa das ovelhas. Todas as cabanas ao redor mostravam mais o menos cenas da mesma operação; o barulho do amolador se espalhava pelo céu de todas as partes do vilarejo como armas antes de uma batalha. A paz e a guerra beijam-se durante sua preparação — foices, foicinhas, gadanhas e tosquiadeiras como se fossem espadas, baionetas e lanças, em sua necessidade comum por pontos e avanços.
Cainy Ball girava a manivela da pedra de amolar de Gabriel, com a cabeça ele imitava o movimento melancólico de vai-e-vem para cima e para baixo a cada volta da roda. Oak estava como Eros é representado quando está afiando suas flechas: levemente encurvado, com o peso de seu corpo jogado sobre as tosquiadeiras e sua cabeça balançava para os lados, com uma compressão crítica dos lábios e contração das pálpebras para coroar a atitude.
Sua patroa chegou e os olhou em silêncio por um ou dois minutos, e então disse:
"Cain, vá até a campina de baixo e pegue a égua baia. Vou girar a manivela da pedra de amolar. Quero conversar com você, Gabriel."
Cain partiu e Bathsheba segurou a manivela. Gabriel levantou o olhar com intensa surpresa, conteve sua expressão e olhou para baixo novamente. Bathsheba girava a manivela e Gabriel colocava as tesouras.