A FEIRA—A VIAGEM—O INCÊNDIO
Dois meses se passaram. Somos trazidos a um dia em fevereiro, no qual acontecia o estatuto anual ou a feira de contratações da capital do condado de Casterbridge.
Numa ponta da rua ficavam de duzentos a trezentos trabalhadores alegres e fortes esperando uma oportunidade, todos os homens do moinho para quem o trabalho sugeria nada pior do que uma luta contra a força da gravidade e um prazer nada melhor do que a renúncia do mesmo. Entre eles, carroceiros e condutores distinguiam-se por trazerem um chicote enrolado em volta de seus chapéus; os que faziam telhados vestiam uma peça de palha trançada; pastores seguravam seus cajados, e assim a situação necessária era conhecida pelos contratantes num olhar.
Entre a multidão, estava um jovem atlético de aparência um tanto superior dos demais. Na verdade, sua superioridade era marcante o suficiente para levar muitos dos camponeses rosados a pararem para falar com ele como se fosse um fazendeiro e a usar "senhor" ao terminar uma fala. Ele sempre respondia:
"Eu mesmo estou procurando uma oportunidade para mim, como administrador. Sabe de alguém que queira um?"
Gabriel estava mais pálido agora. Seus olhos estavam mais meditativos e sua expressão era mais triste. Passara por uma provação de infelicidade que mais lhe acrescentara do que retirara. Caíra de sua modesta elevação de rei do pastoril nas profundas covas lamacentas do vale de Sidim. Todavia tornara um homem de uma calma digna que nunca antes conhecera e aquela indiferença com o destino que, embora geralmente transforme o homem em vilão, é a base de sua sublimidade quando não faz. E assim a humilhação fora exaltada e a perda, ganha.
Um regimento havia deixado a cidade pela manhã e um sargento e seu grupo batiam buscando por seus recrutas pelas quatro ruas. Com a chegada do final do dia, encontrando-se sem ser contratado, Gabriel quase desejou que tivesse se juntado a eles e partido para servir seu país. Cansado de ficar no mercado e não se importando muito com o tipo de trabalho que cairia em suas mãos, decidiu oferecer-se para outro cargo além de administrador.
Todos os fazendeiros pareciam estar esperando por pastores. Cuidar de ovelhas era a especialidade de Gabriel. Virando numa rua obscura, e entrando numa via ainda mais obscura, entrou na loja de um ferreiro.
"Quanto tempo leva para fazer um cajado?"
"Vinte minutos."
"Quanto custa?"
"Dois xelins."
Ele se sentou num banco, o cajado foi feito e uma haste lhe foi entregue pela barganha.
Entrou então numa loja que vendia roupas prontas, com cujo dono ele tinha uma grande ligação rural. Como o cajado levou muito do dinheiro de Gabriel, ele tentou e conseguiu uma troca de seu sobretudo por um avental de pastor.
Com esta transação finalizada, de novo ele correu para o centro da cidade e parou no meio-fio, como um pastor com o cajado na mão.
Agora que Oak tinha se transformado num pastor, parecia que a procura era por administradores. No entanto, dois ou três fazendeiros notaram-no e se aproximaram. Seguiram-se alguns diálogos, mais ou menos na forma acrescentada:
"De onde você é?"
"Norcombe."
"É bem longe."
"Quinze milhas."
"De quem era a última fazenda em que esteve?"
"Minha."
Esta resposta invariavelmente funcionou como um barulho de cólera. Este fazendeiro que perguntou afastou-se e balançou a cabeça dubiamente. Gabriel, assim como seu cão, era bom demais para ser confiável e não fez nenhum avanço além deste ponto.