Capítulo 52

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CAMINHOS CONVERGENTES

A véspera do Natal chegou e uma festa que Boldwood estava oferecendo à noite era o grande assunto das conversas em Weatherbury. Não era a raridade das festas de Natal na paróquia que fazia a de Boldwood uma maravilha, mas era por que ele era o anfitrião. O anúncio tinha um som anormal e incongruente, como se soubessem de um jogo de croqué num corredor da catedral ou que algum juiz muito respeitado subiria num palco. Que a festa se destinava a ser verdadeiramente jovial não havia margem para dúvidas. Um grande galho de visco fora trazido da floresta naquele dia e suspenso no salão da casa do homem solteiro. Azevinho e hera seguiam às braçadas. Das seis daquela manhã até o meio-dia o fogo enorme na cozinha rugia e faiscava alto: a chaleira, panela e o caldeirão aparecendo no meio das chamas como Sadraque, Mesaque e Abede-Nego. Além disso, assados e banhos de temperos eram operações realizadas continuamente na frente do fogão.

Conforme ficava mais tarde, o fogo foi aceso no grande e amplo salão, no qual a escada descia e tudo que pudesse atrapalhar foi esvaziado para a dança. A lenha que formaria a marca do fogo da noite era um tronco sem rachaduras de uma árvore, tão pesado que não poderia ser nem trazido nem rolado para o seu lugar e, consequentemente, dois homens foram vistos arrastando-o e erguendo-o por correntes e alavancas conforme a hora da montagem se aproximava.

Apesar de tudo isso, o espírito festivo estava ausente na atmosfera da casa. Seu proprietário nunca se aventurara antes por tal coisa e agora fora feito como que com tristeza. O esplendor intencional insistia em aparecer como grandezas solenes; a organização de todo o esforço foi realizado com frieza por mercenários e uma sombra parecia mover-se sobre os quartos, dizendo que o processo era natural para o lugar e o homem solitário que vivia nele e, portanto, não era bom.

***

Perto dali, Bathsheba estava em seu quarto vestindo-se para o evento. Tinha pedido velas e Liddy entrou e colocou uma de cada lado do espelho da patroa.

"Não vá embora, Liddy", pediu Bathsheba quase timidamente. "Estou loucamente agitada, não sei a razão. Queria não ter sido obrigada a ir a este baile, mas não há como escapar. Não falo com Mr. Boldwood desde o outono, quando prometi vê-lo no Natal a negócios, mas não tinha ideia de que seria qualquer coisa desse tipo."

"Pois eu gostaria de ir", disse Liddy, que ia com ela. Boldwood foi indiscriminado em seus convites.

"Sim, estarei presente, é claro", disse Bathsheba. "Mas sou a causa da festa e isso me irrita! Não fale nada, Liddy."

"Oh, não, Madame. É a causa dela, minha senhora?"

"Sim. Eu sou a razão da festa. Se não fosse por mim, ela nunca aconteceria. Eu não posso explicar mais... não há mais nada a ser explicado. Queria nunca ter visto Weatherbury."

"Isso é maldade da sua parte, desejar estar pior do que está."

"Não, Liddy. Nunca estive livre de problemas desde que moro aqui, e esta festa é provável que me traga mais. Agora, pegue meu vestido de seda preta e veja como ele fica em mim."

"Mas vai de luto, Madame? Está viúva há quatorze meses e deve iluminar-se um pouco numa noite como esta."

"É necessário? Não! Aparecerei como de costume, porque se eu usar qualquer vestido claro, as pessoas falariam de mim e pareceria que eu estava me regozijando quando estou solene o tempo todo. A festa não é nem um pouco adequada para mim, mas não importa, ficarei e acabarei com tudo."

***

Voltando à casa de Boldwood, ele também estava se vestindo àquela hora. Um alfaiate de Casterbridge estava com ele, ajudando-o na operação de provar um novo traje que acabara de ser levado para casa.

Longe Deste Insensato Mundo (1874)Onde histórias criam vida. Descubra agora