red moon - hyunho

dezesseis

JEONGIN
point of view (aviso: menção a estupro)

Me sentei na beirada da cama enquanto via Seungmin assistindo televisão.

— O que está vendo?

— Não sei. — Riu. — Pareceu legal e eu deixei nesse canal.

— Essa confusão que aconteceu mais cedo... — Comecei, com certo receio. — Acontece sempre?

— Não. Essa é a segunda vez, na verdade. Ainda não sabemos como Sunghoon achou o irmão do Hyun.

— Deve ser difícil. Quando... foi a primeira?

— Quando Sunghoon achou a irmã do Hyun, aquela mesma ruiva que estava lá embaixo.

— E...

— Ele tentou abusar da Yeji, foi um pouco antes de vocês chegarem aqui. Hyunjin tem uma política extremamente rígida de proteção com os Hwang, já que eles foram os únicos que restaram de sua família de sangue. Cho sabe disso e usou para contra-atacar no "ponto fraco" dele.

— Minnie...

— Hm? — O garoto com olhos de cachorrinho me encarou, desviando a atenção do programa de televisão.

— Você tem irmãos?

— Não, sou filho único.

— E cresceu sozinho?

— A maior parte do tempo. — riu sem humor. — Meus pais trabalhavam muito, então eles não podiam me dar atenção. Mas eu entendo o lado deles, era tudo para me dar uma vida boa. E você?

— Sabe, meu pai era um homem muito, muito ruim...

— O que ele fez para ser tão desprezível?

— Hm. — engoli a seco. Aquela estória é verdadeira, então seria muito simples entrar no "personagem". — Eu sou fruto de um estupro.

Seungmin arregalou os olhos e sua única reação foi me abraçar. Não o abracei de volta, estava estático o suficiente para esboçar qualquer reação possível. Falar sobre esse assunto ainda é tão traumático, por isso só Minho sabia.

— Eu sinto muito, Innie.

— A minha mãe não me quis. Ela entrou em depressão logo após tudo acontecer, mas minha tia pediu que ela continuasse com a gravidez. Minha mãe disse que queria me ter e criar, mas não poderia, não quando eu seria sempre um gatilho à ela. Eu nasci e minha tia me criou como filho, a chamo de mãe desde que me entendo por gente.

— E como você soube?

— Eu sempre soube que a minha tia não era a minha mãe, ela me contou assim que eu tive idade o suficiente para entender o que era tudo aquilo. Mas, apenas soube que era fruto de uma relação indesejada aos 15, que foi quando eu já entendia sobre o assunto.

— Você foi muito forte. Sua mãe também... — apertou a minha cintura, não sei quando chegamos nesse tipo de intimidade.

— A cultura do estupro é algo horrível, não concorda? — suspirei. — Minha mãe me pediu desculpas uns anos atrás, eu não perdoei. Mas não porque eu fui um idiota insensível, porque eu não tinha nada para perdoá-la. Por que ela estava se desculpando por ter sido tão machucada? Por que ela esteve tão quebrada durante anos e o cara que fez isso com ela estava vivendo normalmente? Por que tratam as vítimas como criminosos?

— Innie, o mundo é bem cruel. — acariciou meu cabelo, afundei o rosto na curvatura do seu pescoço e suspirei, engolindo o choro. — Eles não se importam com os outros, apenas com as suas próprias vidas e desprezam o sentimento alheio. Como se nada valesse, além deles. Não foi culpa sua, muito menos da sua mãe, por favor, não se esqueça disso. Como vocês estão agora?

— Faz uns meses que não à vejo. — disse. — Ligo para a minha mãe às vezes e ela me diz que mamãe está bem, indo a terapia e tentando viver.

— O que você disse à ela?

— Eu... — sussurrei, ainda de cabeça baixa. — Disse para ela dizer para minha mãe que ela está indo muito bem e que eu a amo muito.

— Você tem vontade de reencontrar a sua mãe de sangue?

— Muita, Minnie. Muita.

— Um dia, você vai. Se assegure disso.