vinte e cinco

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FELIX
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Virei para o outro lado, observei Christopher e vi que já estava dormindo.

Ele me deixa curioso sobre o tipo de pessoa que é. Fechado e reservado, mas muito gentil e atencioso.

— Está sem sono? — sussurrou, a voz rouca e baixa por ter acordado agora.

— Eu te acordei?

— Não, Lix.

— Ainda bem, mas sim, estou.

— É só hoje ou você tem insônia?

— Tenho insônia. — dei de ombros. — Desde criança, eu acho.

— Desculpe se posso soar meio invasivo, mas quando criança, você tinha apenas seus pais?

— Me disseram que eu tinha um irmão, mas que faleceu. Não me lembro bem, faz anos.

— Faleceu?

— Parece que ele nasceu com uma condição rara e não resistiu. — encarei o teto.

— Hm, sinto muito.

— E você e sua família? Desculpe se soei invasivo.

— Tudo bem. Eu fui expulso de casa. — riu, sem humor. — Seria uma vida muito doce, se a porra do destino não fosse malvado.

— Como assim?

— Minha mãe é alcoolatra. Ela bebe compulsivamente, já esteve em várias clínicas de reabilitação. Mas sempre ficamos na mesma, entende? Ela melhora, recaída, melhora, recaída.

— Oh, Chris... Eu sinto muito.

— Não sinta, Lix. Quando ela bebe, fica agressiva, surta, grita, chora e quebra tudo. Já chegou a machucar meu pai em uma dessas recaídas, jogou um vaso de flores nele e ele foi parar no hospital.

— Desculpe, mas por que foi expulso?

— Não foi bem uma expulsão, sabe? Meu pai me mandou sair de casa, disse que cuidaria da minha mãe e iria me ajudar com tudo que eu precisasse. Mas mesmo já sendo adulto, eu não deveria conviver em um ambiente assim, porque eu tenderia a reproduzir isso com a minha futura família, já que foi isso que me ensinaram e que ele não queria me ver crescer assim.

— Seu pai quis te proteger...

— E acabou machucando à si mesmo. Na mesma medida em que sou grato, tenho raiva da atitude dele.

— Tente ver pelo lado dele. Ele está certo, você provavelmente reproduziria os atos tóxicos da sua mãe, porque de tanto viver e presenciar, se tornaria normal e comum para você.

— Nisso você tem razão. — sabia que ele estava sorrindo. — Por que não coloca algo na televisão para assistir até pegar no sono?

— Nah, não vou te incomodar.

— Não é incômodo, Felix. O quarto é seu.

— Nosso, Christopher. Tem certeza que não se importa?

— Se não for algo ruim, não me importo. Faça uma escolha sabia.

— Ei.

— Hm? — observei seu rosto sendo iluminado pela luz do abajur.

— Você poderia cantar para mim?

— Cantar...?

— É, sabe, eu já ouvi você cantando aquela música do Jason Mraz. Sua voz é linda.

— Obrigado, mas é que eu estou meio sem voz...

— Não tem problema.

Chris começou a cantarolar I'm yours, ok, essa com certeza é a música favorita dele. Me perdi na letra e comecei a me imaginar no cenário da música.

Ter Chris era estranhamente reconfortante, assim como com Minho, mas de uma forma diferente. Minho me trazia uma sensação de paz e de estar em casa depois de anos, Christopher me trazia uma sensação de caos, em um sentido bom.

— Ei... Você já fez alguma coisa muito louca?

— Além de entrar na máfia...?

— Isso. — Rimos juntos.

— Eu já fugi do orfanato quando era criança. Foi uma das coisas mais loucas que eu já fiz, e você?

— Quando eu era estudante de medicina, eu fui chamado para ser residente em um hospital de Seul. Eu fiquei encarregado de cuidar de um paciente que estava internado, ele tinha anemia de medula óssea. É um dos tipos mais raros e graves da anemia, ele não se cuidou direito e precisou passar por uma tonelada de exames e até ser internado.

— E...?

— Quando eu fui coletar o sangue dele, ele parecia bem triste. — suspirou. — Então eu perguntei o que estava acontecendo e ele disse que aquele era o dia em que ele iria pedir a namorada de infância em casamento.

— Meu Deus! — Reprimi um grito.

— Já estava planejado, mas ele não podia sair porque ainda precisava de repouso. Eu o ajudei a sair do hospital sem que nos vissem e o levei até o local do pedido. Emprestei um terno para ele, mas ainda deixei a bolsa de soro porque ele podia acabar se esforçando muito. A parte mais difícil foi trazê-lo de volta sem que nos descobrissem.

— Por favor, me diga que ela aceitou.

— Aceitou! — Rimos juntos. — Ela quis matá-lo por sair do hospital.

— Que situação... Mas foi fofo.

— Muito.

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red moon - hyunhoOnde histórias criam vida. Descubra agora