ARTHUR
Eu não lembrava o quanto era difícil ter um bebê recém-nascido em casa. E ter um bebê recém-nascido somado a duas crianças de três anos é pior ainda. Eu to um caco, e nem consigo imaginar como a Carla ta. A Maria Clara chora a noite toda! Oh criança inquieta, Deus nos ajude.
E não bastasse, quando o sol nasce, os dois furacões que eu e a Carla chamamos de filhos, acordam querendo atenção. Há exatos dois meses a gente não dorme. É isso mesmo. Disseram que ia melhorar, que só o primeiro mês era mais complicado, e realmente foi assim com a Alyssa e o Lucas, mas com a Maria Clara... eu quero chorar de tão exausto que eu tô.
Tive que voltar a trabalhar e me sinto uma múmia, eu não sei nem o que eu to fazendo. A Carla ta de licença ainda, mas eu sei que isso não muda nada, ela ta cansada igual. Nós temos a Carmem pra nos ajudar, e contratamos a Olívia também, mas nada muda o fato de sermos os pais e querermos dar a atenção as nossas crianças.
To chegando em casa agora, depois de um dia corrido no Flamengo, e eu só queria uma cama, um ar condicionado e dormir sem ter hora pra acordar. Penso nisso mesmo sabendo que não é o que vai acontecer.
Quando entro em casa fico confuso. Eu to na casa certa? Um silêncio! Ando devagar pensando que a galera daqui ta dormindo, e é quando vejo a Olivia saindo do quarto da Maria Clara, ela tem o quarto dela, assim como os gêmeos tem os deles, mas a pestinha chora demais e acaba ficando no nosso quarto na maior parte do tempo.
Olivia: oi, seu Arthur! - ela me cumprimenta
Arthur: oi, Olivia. Cadê todo mundo?
Olivia: A Carmem levou os gêmeos pra dar uma volta, acabei de deitar a Maria Clara no bercinho e a dona Carla está no quarto de vocês.
Arthur: certo, obrigado!Vou praticamente correndo pro quarto, nem acredito que vou poder deitar com minha mulher e dormir. Isso mesmo, dormir! Eu não tenho força pra nada, e acredito que nem a Carla.
Quando abro a porta do quarto a vejo encolhidinha embaixo do edredom e de imediato escuto algo que aperta meu coração.
Soluços.
Choro.
A Carla ta chorando.
Arthur: amor? - me aproximo dela que me olha confusa - o que aconteceu? - me ajoelho em frente a ela e passo a mão no seu rosto.
Ela enterra a cara no travesseiro e chora mais.
Arthur: Carlinha, fala comigo - sento na cama e a faço a olhar pra mim. - o que houve?
Carla: eu to tão cansada - ela soluça - tão cansada, que na maior parte do tempo eu nem sei o que to fazendo, tem momentos que eu me pego pensando em sumir, ai me sinto culpada, porque eu sofri tanto com a perda do nosso bebê, e agora que a gente tem um bebê eu quero fugir - o choro dela se intensifica e eu faço carinho no cabelo dela enquanto a escuto - eu ando tão estressada, mas tenho tentado não deixar que isso afete nenhum de vocês, nem você, nem as crianças, vocês não tem culpa por eu estar assim. Só que hoje - ela respira fundo tentando conter o choro - a Alyssa e o Lucas estavam brigando por um programa de TV, e acabaram acordando a Maria Clara que tinha acabado de dormir, eu briguei com os dois, como nunca tinha brigado, você sabe que eu gosto de sentar e conversar, hoje eu briguei, apontei o dedo e tudo, faltou muito pouco pra eu bater neles, porque eles realmente me tiraram do sério, eu e a Carmem ja tínhamos pedido pra eles falarem baixo pra não acordar a irmã, mas eles não obedeciam, foi uma besteira, Arthú, mas eu perdi o controle. E os olhinhos deles me olhando apavorados, correndo pra Carmem e pra Olivia, ai Arthú - ela põe a mão no peito - me doeu tanto, eles tavam com medo de mim, eu não quero ser essa mãe, eu não quero que meus filhos tenham medo de mim e não quero descontar neles coisas que eles não tem culpa. - ela põe as mãos no rosto e desaba a chorar.Eu a puxo pro meu colo, a fazendo sentar na cama enquanto a abraço. Deixo que ela chore e acaricio suas costas e seu cabelo enquanto isso.
Arthur: meu amor - digo e dou um beijo em sua bochecha - ta tudo bem
Carla: não ta não - ela resmunga
Arthur: Carla, olha pra mim - a afasto de mim e seguro seu rosto entre as mãos - ta tudo bem! Amor, nós não vamos acertar sempre, você é humana, pode errar, as crianças vão saber lidar com isso, a gente erra e conserta, a gente não pode é persistir no erro, olha tudo que aconteceu comigo e com você, o tanto de erros que a gente cometeu, o tanto de vezes que a gente se magoou e olha onde a gente ta, temos 3 filhos lindos! Estamos juntos, nos amamos, e ainda vamos errar muito, mas juntos! A Alyssa e o Lucas tem 3 anos, ja eles esquecem que você brigou, eles tem mil memórias com você, da mãe carinhosa e atenciosa que você é, isso não vai mudar por uma simples briga. E amor, você tem o direito de perder o controle! Carla, você é a melhor mãe pros nossos três filhos, e isso não significa acertar sempre, ser mãe é ser amor, e você é!Eu termino de falar e ela só me abraça e se aconchega no meu colo, chorando ainda mais.
Carla: eu te amo! - ela diz entre o choro
Arthur: eu também te amo - beijo o topo da cabeça dela
Carla: eu to muito cansada
Arthur: vamos descansar juntinhos? Aproveitar que a Carmem saiu com os gêmeos, a Olivia ta cuidando da Maria, a gente merece esse descanso, sem culpa, ta bom?
Carla: ta bom - ela suspira
Arthur: ja venho - beijo a testa dela
Carla: onde você vai?
Arthur: tomar um banho e ficar cheiroso pra dormir de conchinha com minha esposa
Carla: você é incrível garoto - ela sorri com os olhinhos apertadosAntes de ir tomar banho eu vou na sala e aviso pra Olivia que eu e a Carla vamos dormir e que ela e Carmem só nos chamem em ultimo caso, sei que sempre queremos estar la pra tudo, mas estamos exaustos. Em seguida tomo um banho rápido e quando volto pro quarto, a Carla está no celular.
Arthur: voltei
Carla: eu tava só te esperando, vem - ela puxa as cobertas e eu deito do lado dela a puxando pra mim - que cheiroso o meu marido - ela me beija
Arthur: linda - digo quando encerramos o beijoEu a encaixo no meu peito e entrelaço nossos dedos. Não demora muito e já ouço seu ressonar baixinho. Me entrego ao sono também, pensando que as coisas precisam mudar nessa nossa rotina louca, antes que seja mais difícil voltar pro eixo.
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