19 - Recuperação

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CARLA

O período de recuperação foi o mais complicado. Eu não podia fazer muita coisa, então sobrava muito tempo pra pensar... e só tinha uma coisa que inundava meu pensamento: eu perdi meu bebê.

Foram noites e mais noites de pesadelos, de acordar aos prantos, de me sentir inútil, impotente e incapaz. Foi um período obscuro, não conseguia passar muito tempo nem com a Alyssa e o Lucas pois ao vê-los eu só lembrava que eles poderiam ter um irmão. Mas, não tinham. Porque eu o perdi.

O Arthur foi literalmente o anjo da minha vida, eu sei que tava doendo muito nele também, mas eu não tinha força pra ajudar ele, eu não conseguia nem me ajudar. Foi injusto, mas eu não consegui fazer diferente. Ele teve que se desdobrar em mil, pra trabalhar, cuidar das crianças e não me deixar afundar mais ainda no mar de tristeza em que eu estava.

Fazem 3 meses que tudo aconteceu. Eu estou fazendo terapia a 2 meses, e hoje, depois de muito tempo eu acordei bem. Eu finalmente respirei, eu consegui abrir os olhos e pensar em tudo sem tanto sofrimento. Ainda dói, lógico. Mas, a dor não me domina. Não hoje pelo menos.

Eu ainda não voltei a trabalhar também, não tinha vontade pra isso. E hoje eu estou morrendo de vontade de fazer minhas coisas, saudade da correria. Saudade de viver a minha vida.

O Arthur ja voltou a trabalhar, ele só conseguiu se afastar no primeiro mês, a Carmem continua aqui ajudando com as crianças, eu não sei o que seria da gente sem ela.

Levanto da cama, despertando um pouco de tantos pensamentos, tomo um banho e decido que estava na hora de reagir. Preciso retomar as rédeas da minha vida, e como meu trabalho não vai ser retomado de repente, eu só aviso que estou pronta pra voltar e aguardo eles me passarem as datas pro meu retorno.

Hoje eu vou cuidar de algo muito mais importante do que qualquer trabalho: minha família. O Arthur tem uma gravação importante hoje, no Flamengo. Ele vai fazer uma live comentando um jogo, e vai ser transmitido no programa dele, ele vai estar com alguns especialistas de quem ele é fã, e eu sei que ele tava muito nervoso. Eu tentei, mas sei que não dei o apoio que ele precisava e merecia.

Por isso, vou me arrumar, arrumar nossos filhos e vou assistir tudo pessoalmente. Quero que ele saiba que eu to aqui, que eu ainda sou eu, e que eu amo ele demais.

Peço a Carmem que me ajude arrumar a Alyssa e o Lucas e em poucas horas ja estou saindo de casa com ambos. Disse a Carmem que ela podia ir pra casa e descansar. Eu estou bem e com saudade de passar tempo com meus filhos.

No caminho, eu dirijo enquanto as crianças vão empolgadas no banco de trás por estarem com as blusas do nosso mengão, e claro que eu também estou com meu manto.

Alyssa: eu sou a pincesa do flámengo
Lucas: e eu o píncipe, né mãe?
Carla: é sim. Meu príncipe e minha princesa!

Alyssa: mãe!
Carla: oie?
Alyssa: porquê a gente vai fazer supesa plo meu pai?
Carla: ah, por nada demais, só pra ele saber que a gente ama muito ele.

Lucas: a gente ama mesmo
Carla: e é tão legal quando a gente ver quem a gente ama feliz né?
Alyssa: é muito legal memo

Eles ficam um tempo em silêncio até que a Alyssa volta a falar

Alyssa: mãe?
Carla: oii amor
Alyssa: não é nada bom quando quem a gente ama ta tliste, eu ficou muito tliste de ver você tliste - ela fala séria

Carla: meu amor - minha voz embarga e faço força pra não chorar aqui - a mamãe ta bem
Alyssa: agola você ta, e eu to muito feliz, desse tamanhão - ela abre os braços pra mostrar o tamanho - mas você não tava, e eu nem gostô disso

Carla: a mamãe não tava bem mesmo, mas passou ta? A mamãe ta feliz agora
Lucas: ceteza? - ele participa da conversa
Carla: certeza! E sabe porque? - eles me olham atentos pelo retrovisor do carro - porque a mamãe tem a família mais linda e incrível desse mundo! Tem um príncipe e uma princesa que a mamãe ama demais! E tem o papai do príncipe e da princesa, a quem a mamãe também ama muito. Eu não poderia ser outra coisa que não muito feliz só por ter vocês. Ta tudo bem agora, viu?

Eles assentem e sorriem pra mim. Logo, começam a falar de outros assuntos aleatórios e eu percebo o quão esse período que passamos fez mal não só a mim. Eu perdi um bebê, mas eu tenho dois que precisam de mim. Eu não preciso ignorar minhas dores, mas jamais vou me deixar consumir por elas novamente.

Chegamos ao nosso destino e eu levo o carro até o estacionamento, pego meus dois bebês e ando com um de cada lado me dando a mão. Passo na recepção e descubro que o Arthur está no camarim ainda. Ele vai entrar no ar daqui a 1h. Me encaminho com os dois pra lá e estou estranhamente ansiosa. A sensação é de reencontro, eu vi ele ontem a noite, antes de dormir, quando acordei ele ja tinha saído, e a Carla que acordou hoje não é a mesma dos últimos três meses. A Carla de hoje é a que voltou depois de uma longa jornada e está indo ao encontro do amor da sua vida.

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Volteeeeeei

Como lidar com Alyssa e Lucas? Alguém me diz!

Como vocês acham que o Arthur vai reagir?

Val 🦋🥁

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