Capítulo 2

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Esse capítulo pode parecer um pouco mais confuso, mas eu garanto que depois, ao longo da história, vai ser bem mais fácil de entender.

Boa leitura :)

Capítulo 2- Isso é sequestro!

Dois anos antes...

Eu odeio meu aniversário. Sinceramente, não há uma mínima razão para ser um dia de comemoração para mim, afinal eu sei como vai ser todo ele. Parece que tem um roteiro somente para esse dia, que nunca muda.

Era sempre a mesma coisa, meu pai convidava os trabalhadores de sua empresa para essa "festa", porque não tinha contato com ninguém da família dele ou da minha mãe, bebia até cair, se queixando de esse ser o aniversário do dia em que tudo começou a dar errado para a vida de casado dele.

É, no dia que eu nasci foi quando tudo começou a dar errado no casamento dele.

Obrigada, pai. Amo esse seu presente de todos os anos!

Esse ano, é claro, não poderia ser diferente. Ele já havia se juntado com os colegas no início da festa, todos vestindo ternos chiques e extremamente vistosos, não havia se passado nem uma hora e ele já está começando a segunda garrafa de alguma suas bebidas alcoólicas, que ele nunca deixou eu chegar perto por serem muito fortes, e suas risadas começaram a sair mais soltas e ele já até  disse sua primeira frase sobre como odeia esse dia.

" Você acredita que minha mulher morreu neste dia? Se eu tivesse feito a escolha certa ela estaria aqui. "

Sim, foi isso que ele disse, com aquele sorriso destruidor como se estivesse contando a piada mais engraçada de todos os tempos, mas eu sei – eu sei – que ele está falando o que sente, eu sei que todos os dias ele olha para a foto da minha mãe com olhos depressivos como se o último resquício de sua vida tivesse sido tirado dele, eu sei que todos os dias ele escreve cartas que nunca poderão ser entregues a ela, eu sei que ele chora e grita em plenos pulmões sempre que pensar que não esteja por perto, eu sei que quando estou distraída ele me olha como a maior decepção de sua vida, eu sei que ele deseja as estrelas que a tragam de volta, eu sei.

Essa dor me acompanharia pela vida assim como aquela o acompanha pela dele.

Antes, ouvir isso machucava muito mais, destruía minha alma, mas agora, depois de tantos anos ouvindo isso, se tornou... menos difícil de tolerar. E duvido que em algum momento se torne fácil, esse homem é meu pai, o homem que deveria me proteger, me amar, cuidar de mim como seu bem mais precioso.

A parte que mais me machuca sobre isso não é o fato de ele falar isso, porque eu sei que é verdade, mas o que dói em todo o meu ser é ele agir em minha frente como se eu fosse a coisa mais preciosa que ele tem em vida, como se me perder fosse a coisa que ele mais teme em toda a vida, mas, em minhas costas, me tratar como algo desprezível e que poderia ser uma troca fácil por alguém que não estava mais aqui, me dói saber que todos os anos, nesse mesmo – meu aniversário –, ele fingir que eu não existo e falar essas coisas que sabe que vão me machucar.

Cansada de olhar para essa cena, decidi focar em outras coisas daquele salão, porque sim, meu pai alugou um salão para dar essa festa. Por todos os lados havia mesas redondas, com algumas pessoas. Os garçons passavam para lá e para cá o tempo todo, servindo as pessoas com os comes e bebes.

No fundo do salão, uma grande mesa enfeitada com alguns panos brancos com glitter estava no bolo. Era um bolo mediano, redondo e de dois andares, completamente branco e no topo uma placa com meu nome e um grande dezenove ao lado 

Alice E A Carta Do CoringaOnde histórias criam vida. Descubra agora