Capítulo 24

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Boa leitura!

Capítulo 24 - Meu pai!

2 anos antes...

Encaro o curativo que Dholovir fez em minha mão e sinto uma carranca de desgosto se formar em meu rosto. Eu estava com uma grande quantidade de ataduras em volta do meu punho que torceu quando eu, estupidamente, soquei o rosto de Sebastian, enquanto ele saiu com um pequeno roxo em sua bochecha.

Era meio humilhante pensar que eu saí mais machucada dessa história quando fui eu quem o agrediu e ele ainda estava preso a uma pilastra, sem poder se defender.

Confesso que eu não queria que ele ficasse apenas com um pequeno roxo em sua bochecha, eu não sei realmente o que eu queria, mas não era só isso, eu queria mais, queria que ele sofresse, ficasse machucado, tivesse feridas reais que o marcariam para sempre, não um pequeno manchado que ficaria por alguns dias e logo ele poderia voltar a ter seu sorriso descarado de volta. Talvez quando eu estiver em um melhor estado de sanidade mental eu possa pensar que isso é muito drama da minha parte, mas eu não consigo agora, não quando está tão fresco em minha mente a sensação de sua mão me enforcando, prestes a me matar sem dó ou piedade, quando aquela mesma mão estava em minha cintura e ele estava pronto para…

Fecho meus olhos com força, tentando não pensar nisso agora.

Estou deitada no chão do jardim da casa do Mad, ainda era a tarde do dia em que “ataquei” Sebastian, eu havia me levantado do sofá no instante em que Dholovir terminou de colocar as ataduras em meu pulso e vim correndo para fora, não querendo estar no mesmo local que Sebastian. Desde então estou aqui, deitada no chão do jardim, entre algumas árvores próximas da casa, que convenhamos não é realmente uma única casa, era mais um aglomerado de casas de madeira pequenas, que me passam uma sensação de conhecimento estranha, todas que cercavam o jardim em um formato de U, o jardim da casa era diretamente ligado a uma grande floresta.

Já faz uns dez ou quinze minutos que estou encarando meu pulso, tentando não surtar enquanto sinto meu corpo inteiro se contorcer de raiva. Eu não sei porque, mas eu não consigo deixar de imaginar como ele pode ser tão condescendente assim, tendo, há pouco tempo, me olhado em meus olhos e falado como ele precisava de mim. Lembrar desse momento sempre me fazia pensar em como ele poderia realmente não saber que era eu no início de tudo.

Mas como alguém consegue mudar de faceta tão facilmente dentro de segundos?

Acho que os sinais sempre estiveram ali e eu não soubesse como enxergá-los, talvez seu sorriso sempre em seu rosto fosse apenas sua forma de rir de mim, talvez como ele ficasse sempre olhando para os lados, completamente ciente da presença dos outros guardas, talvez pela forma em que ele sabia onde me encontrar no início de tudo.

Eu queria não confiar tão facilmente nas pessoas a esse ponto.

Fecho meus olhos, respirando fundo e decido ficar com eles fechados até que minha mente esteja vazia de qualquer coisa e eu possa apenas ficar ali, deitada, sentindo a grama em minhas costas, a brisa em minhas bochechas, ouvindo o som agonizante dos animais, minha respiração e o riacho que aparentemente tem aqui perto, eu fico ali deitada, respirando, vivendo, sentindo algo que não seja raiva. Eu fico apenas–

— Por favor.

A voz sussurrante me faz abrir meus olhos para tentar encontrar quem falava. Me sento onde estou, olhando de um lado para outro, procurando por algo ou alguém que pudesse ter emitido esse som tão… sufocantes, como se fosse um último pedido, uma última escapatória.

— Tem alguém aí? — Pergunto para o nada, sem saber se eu realmente quero que me respondam.

Olho ao redor novamente, sem receber nenhuma resposta, com o coração batendo, me sentindo nervosa. Fecho os olhos novamente e respiro fundo lentamente repetindo que foi algo da minha cabeça, o que não é realmente muito acolhedor.

Alice E A Carta Do CoringaOnde histórias criam vida. Descubra agora