Capítulo 26

3 4 7
                                    

Boa leitura! :)

Capítulo 26 - Todas as vezes!

2 anos atrás...

Eu tive um sonho uma vez. Ele era um daqueles sonhos malucos em que você pode acabar se encontrando com um dragão bípede que te fala sobre ter ido trabalhar numa loja de sucos. Nesse sonho eu não conversava com um dragão, eu conversava com um gato, um gato de pelagem roxa e um sorriso maior que seu rosto, eu perseguia o gato por todo o jardim da minha casa, tentando agarrá-lo, para ele subir em um lugar alto – um galho de árvore, o telhado da casa ou o topo da escada – e eu olhando-o com olhar questionador. O gato sempre me dizia:

"Tudo o que você faz tem um propósito, Alice."

E então o sonho acabou e eu acordei e fui viver a minha vida normalmente, mas há momentos da minha vida em que eu me pergunto, isso tem algum propósito? Eu estou fazendo isso porque eu quero ou é porque eu sinto que preciso fazer?

Lembro-me que quando mais nova eu era fascinada por flores, mais especificamente rosas brancas, pois no jardim da minha casa havia uma roseira muito bonita, muito maior do que eu, o que facilitava para que eu pudesse sentir seu aroma. Eu fiquei cuidando delas por tanto tempo que quando meu pai teve um surto e as arrancou a mão eu chorei de desespero, solucei e me arrastei na terra tentando consertá-la. Foi inútil eu ter tentado, afinal já estava toda destruída, sua raíz havia sido arrancada.

Naquele dia eu só fiquei muito triste, mas hoje eu penso que talvez tenha tido um propósito para isso, não para o fato de meu pai ter destruído minhas flores favoritas, mas sim eu ter visto uma árvore pegar fogo bem na minha frente, do nada, sem nenhum estímulo, apenas o fogo se alastrando rapidamente pelos galhos e deixando as folhas todas verdes. Durante a maior parte da minha vida eu pensei que aquilo fosse um sonho, uma loucura criada pela minha mente, mas hoje eu não vejo como isso pode ser falso quando tantas coisas aconteceram ao meu redor para comprovar que eu sou uma loucura criada pela minha mente, não posso acreditar que seja falso quando olho para meus braços e vejo as marcas azuis subindo como veias em cada um deles, quando me lembro de Sebastian me falando que eu havia voado.

— Por que eu estou aqui? — Pergunto de repente, olhando para o chá em minha xícara.

Eu estava assustada naquele dia. Não foi um sonho ou um pesadelo, eu apenas me levantei sobressaltada e com medo de que algo pudesse acontecer a qualquer momento. Me cobri completamente com o cobertor e fiquei deitada até aquela estranha sensação ir embora e eu pudesse me sentir bem novamente.

Quando eu senti meu coração parar de bater e consegui tirar o cobertor de minha cabeça eu ainda fiquei deitada por um tempo, apenas pensando se valeria a pena levantar mesmo, se eles precisavam de mim, talvez eu pudesse ficar na cama e dormir um pouco mais, talvez eles não notassem se eu apenas me fundisse em minha cama e ficasse deitada nela para sempre.

Aparentemente iriam reparar sim, pois pouco depois Lapa estava aparecendo em minha porta e me chamando para descer. Todos se juntaram para tomar café da manhã no balcão e eu apenas me sentei na cadeira que faltava, Maddie me ofereceu uma xícara de chá que eu aceitei muito feliz, ou pelo menos o que eu poderia sentir de felicidade. Desde então estou sentada no mesmo lugar, encarando a xícara e refletindo sobre coisas que realmente poderiam ser reais.

— O que? — Pergunta Maddie se virando para me olhar.

— Por que eu estou aqui? — Repeti com a voz um pouco mais alta — Qual o propósito disso tudo?

Maddie andou em minha direção secando suas mãos com o pano que carregava, me olhando com cuidado.

— Você está aqui para salvar a rosa que está em perigo, achei que Dhov já tivesse te contado — Respondeu com o cenho franzido.

Alice E A Carta Do CoringaOnde histórias criam vida. Descubra agora