Capítulo 7

7 4 16
                                    

Boa leitura! :)

Capítulo 7- Encontro com o diabo

Atualmente...

Eu achava que as cicatrizes deveriam ser legais. Não sei porque mas minha mente sempre colocou cicatrizes como sendo algo muito legal, algo que uma pessoa com muitas histórias tinha. Mas, olhando para aquele espelho, eu não me sentia nada legal. Eu me sentia fraca, vulnerável.

No espelho não tinha uma pessoa batalhadora que conseguia ultrapassar todos os limites que eram impostos em seu propósito, eu parecia tão sem graça, minha pele preta parecia sem vida, meus cachos ruivos pareciam tão acabados.

Eu sempre fui assim, estranha e suja, mal cuidada?

- Isso sempre esteve aqui? - A pergunta não era direcionada a ninguém em específico. Eu só conseguia ficar lá, olhando enquanto acariciava a cicatriz que ia de um lado para o outro do meu pescoço.

Aparentemente aquele sonho não era tão falso assim.

No dia seguinte a tortura de Queenie, quando eu acordei e, provavelmente, todos os pacientes do meu corredor junto, eu gritei em plenos pulmões, sentindo arranhar minha garganta, tudo doía, eu sentia me despedaçar em bilhões de pedaços, eu chorei como se tudo ao meu redor me machucasse, eu sentia que tudo me machucava.

Amy foi quem chegou primeiro para me acalmar, ela me segurou enquanto eu me debatia em seus braços, gritando ainda mais, em meio a toda confusão de minha cabeça consegui ouvi-la me pedindo para não gritar, enquanto chamava algum outro enfermeiro para ajudá-la. Eu queria que tudo parasse de doer. Ela me abraçando machucava, o que era estranho, nunca tinha machucado antes, eu gostava dos abraços dela.

Um dos enfermeiros chegou e me deu uma injeção calmante, que me fez dormir novamente, felizmente sem sonhos dessa vez.

Quando eu acordei, algumas horas depois, minhas mão estavam enfaixadas e haviam alguns curativos em meus braços e em meu rosto, eu provavelmente tinha tentado me machucar em algum momento, então envolveram minha mão para que não o fizesse da forma mais convencional.

Eu não sabia que horas eram, mas sabia que não era hora de dormir ainda, então eu provavelmente deveria levantar, mas eu não queria, eu não conseguia, meu corpo pesava e tudo que eu sentia poder fazer era ficar na cama, dormindo, sem preocupações. Talvez eu fizesse alguma coisa no próximo dia.

Eu não fiz.

Nem no próximo.

Ou no seguinte.

Ou na semana seguinte.

O maior esforço que eu fiz nessa semana foi me sentar na cama para que Amy pudesse me examinar com seu olhar de preocupação severo para logo depois voltar a me deitar e me cobrir em uma camada de cobertores, que eu esperava que me mantivesse longe de cada coisa que me assustasse naquele lugar.

Não resolveu.

Eu ainda estou no hospital.

Na manhã de hoje, porém, foi diferente, por mais que eu quisesse me manter deitada na cama, quando Amy pediu para eu me levantar porque o doutor Dholovir iria me examinar, não foi completamente doloroso me sentar na cama, ainda foi cansativo, entretanto. E, muitas vezes tive ganas de voltar a me deitar, mas por alguma razão, eu sentia que deveria fazer alguma coisa.

Juntando todas as forças que eu tinha em meu organismo, olhei para os dois e com a voz falha e extremamente cansada falei:

- Algum de vocês tem um espelho?

Não saiu mais que um sussurro, mas parecia ter sido o maior esforço que eu fiz em décadas.

Não tenho ideia realmente de como aconteceu, mas eu vi aqueles dois olharem um para o outro com caras confusas e meio preocupadas, antes de Dholovir simplesmente, colocar a mão em seu jaleco e tirar de lá um espelho de mão de aparência novo e entregar para mim.

Alice E A Carta Do CoringaOnde histórias criam vida. Descubra agora