Capítulo 3

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No banho, tentava digerir o que tinha acontecido em um dia. Preencher aquele simples formulário faria minha mãe e Olivia felizes, me tornaria independente e ainda poderia me planejar para pedir a Olivia em casamento, já que não estaria mais sobre o teto dos meus pais.
Desde que comecei a namorar Olivia conversamos sobre casamento, e me preocupava a questão de gastos, já que não tínhamos muito dinheiro. Desse jeito, eu finalmente poderia começar a juntar sem minha mãe perguntar para onde ia o dinheiro.
Depois do banho, abri o armário e pensei no que vestir, não tinha muitas opções, quase tudo era jeans e tecido grosseiro, quase todos os Seis e Sete usavam essas roupas, os Cinco costumavam usar roupas simples, e as castas superiores usavam calça cáqui e jeans de vez em quando, apenas para mudar o visual. Como se não bastasse terem tudo que queriam, ainda transformavam nossas necessidades em artigos de luxo.
Vesti um jeans e uma camisa desgastada, de longe a melhor roupa que eu poderia usar.
Fui até a sala e avistei minha mãe na mesa da cozinha junto com o meu pai, eles me encararam algumas vezes, eu fui até eles e peguei a carta, por algum motivo estava nervoso.
Quando peguei o papel e senti sua textura lisa e leve, me lembrei da grandeza do que estava fazendo, duas palavras vieram à minha cabeça, "E se...?".
  Deixei esse pensamento ir embora e pus a caneta no papel.
  Era tudo bem simples. Preenchi nome, idade, casta e informações de contato. Também tinha que completar peso, altura, cor de cabelo, olho e pele. Fiquei satisfeito ao escrever que falava três idiomas, pessoas da minha idade geralmente falavam dois, mas minha mãe insistiu que meus irmãos e eu aprendessemos francês e espanhol, já que essas línguas ainda eram faladas em algumas partes do país. Também precisava informar escolaridade, o que variava muito, só Seis e Sete estudavam em escolas públicas, onde se seguiam anos escolares oficiais. Eu já tinha completado os estudos.
  Na seção "habilidades" coloquei grande resistência, QI acima da média e alguns instrumentos que aprendi a tocar com a família de Olivia.

- Você acha que dormir até tarde conta como habilidade? - meu pai perguntou fingindo estar indeciso e eu ri em seguida.

- Não deixa de ser uma. - respondi.

Tendo terminado de preencher, peguei o formulário e fui levá-lo para minha mãe que estava no quintal, custurando uma roupa, chegando lá vi Brianna regando as plantinhas que ela amava cuidar.

- Você se inscreveu mesmo? - Ela me pergunta seriamente.

- Sim.

- Você já pensou na possibilidade de daqui à alguns meses estar se casando com uma princesa?

- Sim, mas não acho que isso vá acontecer Bri, sabe quantos homens se inscreveram?

- Eu sei, mas... e se... sabe?

- É... é estranho pensar nisso.

- Maninho, por que mudou de ideia?

- A mãe pode ser bem convincente quando quer. - Respondi, marcando bem as palavras, minha mãe não sentia vergonha alguma de ter me subornado.

- Podemos ir ao Departamento de Serviços Provinciais quando você quiser mãe. - Ela logo em seguida abriu um sorriso.

- Perfeito! Pegue as suas coisas que nós vamos agora, quero que sua carta seja uma das primeiras!

Minha mãe e eu andamos até o departamento local, quando chegamos lá, a rua em frente ao Departamento estava cheia de homens que haviam se inscrito na seleção.

- Morgana! - Ouvimos alguém chamando minha mãe e nos viramos.

Vinham em nossa direção Joey e Joseph Leger junto com a mãe, eles carregavam o mesmo sorriso esperançoso de Olivia.

- Oi Lena, e como vocês estão rapazes? - Minha mãe disse.

- Bem, estamos ansiosos para foto. - Responde Joey.

- Foto? - Pergunto.

- Sim. - Diz a Sra. Leger em voz baixa. - Eu estava limpando a casa de um juiz hoje, parece que o sorteio não é bem um sorteio. É por isso que eles tiram fotos e pegam um monte de informações, para que querem saber quantas línguas você fala se é tudo aleatório?

Achei estranho. Mesmo. Achei que essas informações eram usadas depois do sorteio.

- Parece que a notícia vazou, olhe em volta, os homens estão arrumados.

A Sra. Leger tinha razão, estavam todos arrumados ao máximo possível, comecei a me sentir mal com as minha roupas, até que me lembrei que eu nem queria me inscrever, quem dirá ser sorteado.
Pensei em Joey e Joseph e me lembrei, se um deles fosse sorteado, a família toda subiria de casta, e talvez meu namoro com Olivia não fosse mais um problema, minha família com certeza não reclamaria se me casasse com uma Um, mesmo que não fosse a princesa, minha ignorância era na verdade uma dádiva.

- Mas quem precisa estar arrumado quando se tem beleza natural, olhe para o Alec, com esses cabelos negros como carvão, essa pele clara e esses olhos esverdeados, conquista quem quiser. - Diz a Sra. Leger dando uma piscadinha para mim.

Eu sorri e agradeci pelo elogio.

- E como vai a Olivia? - Minha mãe pergunta à Sra. Leger.

- Ela está muito bem, é uma garota muito independente.

- Ah, alguém a fará muito feliz um dia. - Minha mãe diz sem dar muita importância à conversa, ela ainda observava a concorrência.

- Cá entre nós, acho que alguém já a faz muito feliz.

Eu gelei. Não sabia se fazia algum comentário ou não. Tinha receio de dar uma resposta que me entregasse.

- Uh, como ele é? - Minha mãe quis saber,  embora planejasse meu casamento com uma completa estranha ainda tinha tempo para fofocar. É a idade.

- Não sei direito, ela não me diz nada, só acho que ela anda mais feliz ultimamente.

Ultimamente? Estou com ela à mais de dois anos, por que só ultimamente?

- Ela tem arrumado vários empregos, está guardando dinheiro... acho que ela e o namorado estão juntando para o casamento.

Não pude segurar o sorriso mas todos acharam que era por causa da notícia.
Minha vez chegou e eu assinei todos os papéis para confirmar que as informações eram verdadeiras e tirei a foto. Acho que nenhum homem em Illéa estava mais feliz do que eu.

A Seleção: A linhagem continuaOnde histórias criam vida. Descubra agora