Capítulo 17

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Finalmente minha vez chegou e eu não tinha a menor ideia de como reagir. Fui até sua direção, ela já estava sentada me aguardando.

- Então, nos encontramos de novo não é mesmo - Ela logo soltou uma risada baixa e levou a mão à boca. - Ah perdão, Alexander certo?

- Sim. Tenho certeza que já ouvi seu nome, mas poderia refrescar minha memória?

Não sei se foi a melhor ideia começar a conversa com uma piada mas ela riu e pediu para que eu me sentasse.

- Como assim de novo irmã? Vocês já se conhecem? - sua irmã nos interrompe.

- Longa história Elizabeth.

Ela se inclinou para frente e perguntou sorrindo:

- Você dormiu bem *meu* senhor?

Não pude conter o riso e percebi que seus olhos brilharam de entusiasmo quando ela viu minha reação.

- Ainda não sou seu senhor - Rebati com um sorriso - Porém sim, eu dormi bem. Depois do que aconteceu ontem, fiquei um tempo pensando sobre tudo, mas com essas camas quem não dorme bem?

- Fico feliz em saber que está confortável meu... Alexander. - Ela se corrigiu.

- Agradeço. - Respondi.

- Espere, espere, espere. O que aconteceu ontem à noite?? - Elizabeth pergunta.

- Não se intrometa Eliza. - Victória responde fuzilando sua irmã com os olhos. - Por favor, nos dê licença, as duas.

Rebecca e Elizabeth se levantam e todos começam a suspeitar.
Eu estava tão nervoso que estalava os dedos.

- Há algo lhe incomodando?

- Mil desculpas por ter sido grosso. Enquanto tentava dormir, tomei consciência do que tinha feito e dito, e que nada disso é sua culpa, não é culpa sua eu ter me metido nisso, eu estou aqui por engano, isso nunca deveria ter acontecido. Além disso desde que me conheceu, tem me tratado com simpatia e educação, enquanto eu... fui o contrário. Poderia ter me expulsado ontem mesmo, mas não fez isso. Muito obrigado.

O olhar de Victória se enchia de compaixão. Aposto que todos os garotos antes de mim se derreteram quando ela os olhou assim. Já eu tendia a ficar incomodado, mas era óbvio que aquele olhar era comum a ela. A princesa abaixou a cabeça por um instante. Quando me olhou de novo, tive a sensação de que quisesse me fazer entender a importância do que estava por vir.

- Alexander, você tem sido muito sincero comigo até agora. É uma qualidade que admiro profundamente. Vou pedir-lhe que responda uma pergunta, se não for um incômodo.

Concordei com a cabeça, um pouco receoso do que ela podia querer saber. A princesa  se inclinou ainda mais na minha direção.

- Você diz que está aqui por engano. Isso me faz supor que não quer ficar. Há alguma possibilidade de nutrir qualquer tipo de... sentimento amoroso por mim?

Não pude evitar um leve tremor. Eu não queria de forma nenhuma magoá-la, mas também não podia enrolar.

- Você... vossa Alteza - Corrigi - É muito gentil e atraente... e atenciosa.

Ela sorriu ao ouvir essas palavras. Continuei, em voz baixa.

- Mas tenho motivos muito pertinentes para achar que não.

- Poderia explicá-los? - seu rosto não demonstrava, mas sua voz revelou a decepção causada por minha rejeição imediata. Imaginei que ela não estava acostumada a isso.
Eu não queria falar dos motivos, mas não consegui pensar em outro modo de fazê-la entender. Abaixando ainda mais a voz, contei a verdade:

- Acho... acho que meu coração está em outro lugar.

Olhei para o chão e comecei a lembrar de tudo, todos o momentos com Olivia, todos os planos, por tudo que tínhamos passado, uma sensação de tristeza tomou conta de mim, tudo estava confuso.

- Oh, por favor não fique assim! Eu nunca sei como reagir quando os homens fazem isso.

Isso me fez rir, era notável a sensação de alívio no rosto dela.

- Você quer que eu o deixe voltar para sua amada hoje? - Ela perguntou.

Era evidente que minha preferência por outra a incomodava, mas em vez de escolher o ódio, ela demonstrou compaixão. Esse gesto me fez confiar nela.

- Esse é o problema... Não quero ir para casa.

- Mesmo?

A princesa levou as mãos à boca, e eu não pude deixar de rir de seu ar perdido.

- Posso ser totalmente sincero com você? - perguntei.

Ela concordou.

- Preciso ficar aqui. Minha família precisa de mim aqui. Mesmo que me deixasse ficar apenas uma semana, já seria uma dádiva para eles.

- Você quer dizer que precisa do dinheiro?

- Sim.

Me senti mal por admitir. Talvez tivesse dado a impressão de que estava a usando. Na verdade, acho que estava mesmo. Mas prossegui:

- Também há... certas pessoas na minha província - levantei os olhos para ela - que eu não gostaria de ver no momento.

Victória assentiu com a cabeça como quem tinha entendido, mas não disse nada.
Hesitei. Pensei que o pior que podia acontecer seria mesmo ir embora. Então continuei:

- Se me permitir ficar, mesmo que por pouco tempo, podemos fazer um trato - propus.

Ela arregalou os olhos:

- Um trato? - Ela mordeu os lábios.

- Se me deixar ficar... - eu estava prestes a dizer algo bem idiota, mas prossegui. - Tudo bem, veja só. Você é A princesa. Fica ocupada o dia inteiro ajudando a administrar o país e tal, e agora tem que encontrar tempo para escolher um entre trinta e cinco, ou melhor, trinta e quatro garotos. É pedir muito, não acha?
Ela concordou. Dava para notar que se cansava só de pensar nisso.

- Não acha que seria muito melhor se tivesse alguém aqui dentro? Alguém para ajudar? Tipo... um amigo?

- Um amigo? — ela perguntou.

- Sim. Se me deixar ficar, posso ajudar. Serei seu amigo.

Minhas palavras a fizeram sorrir. Retomei minha proposta:
- Não precisa se incomodar em correr atrás de mim. Já sabe que não sinto nada por você. Mas pode falar comigo a qualquer momento e tentarei ajudar. Ontem à noite você disse que estava em busca de um companheiro. Bem, posso ser essa pessoa enquanto não encontrar o definitivo. Se quiser...

Seu rosto demonstrava um afeto contido.

- Conheci quase todos os garotos deste salão e não penso em outro que seria um amigo melhor que o senhor. Será um prazer deixá-lo ficar.

É impossível descrever o alívio que senti.

- Você acha - perguntou ela - que eu ainda posso chamá-lo de “meu senhor”?

- Sem chance - cochichei.

- Continuarei tentando. Não costumo desistir - garantiu, e acreditei em suas palavras. Ia ser muito chato se ela continuasse mesmo com aquela história.

- Você chamou todos de “meu senhor”? - perguntei, voltando o rosto para o resto do salão.

- Sim, e todos parecem ter gostado.

- É exatamente por isso que eu não gostei.

Eu me levantei. Victória ainda ria quando deixou seu sofá. Normalmente eu faria cara feia, mas era até divertido. Ela fez uma reverência. Eu a devolvi e voltei ao meu lugar.

A Seleção: A linhagem continuaOnde histórias criam vida. Descubra agora