I am not the only traveler
Who has not repaid his debt
I've been searching for a trail to follow again
Take me back to the night we met
The Nigth We Met - Lord Huron
Perspectiva de Jeon Yunna
Alguns dias mais tarde...
Minha cabeça parecia querer explodir à qualquer momento, ainda mais com as vozes altas de minha mãe e minha tia — viúva do meu falecido tio — quem veio nos visitar depois de um tempo. Nem sei porquê minha presença é importante nesse momento, elas mal olham para mim durante à conversa, o que levo como vantagem pois meus níveis de interações hoje, estão abaixo de zero.
Não queria estar aqui, ouvindo fofocas que certamente não me interessam, usando roupas clássicas e sociais quais detesto tanto. A saia tinha que passar do meio das minhas coxas, ou o início da onde minha tatuagem apareceria, a maquiagem tinha que ser quase nula, meu eu tinha que ser quase nulo.
Com o cotovelo apoiado no braço da poltrona, fito o carpete branco, e mesmo que não houvesse nada ali, minha mente rebobinava mil pensamentos. Uma tensão estranha pesava meus ombros, assim como meus olhos maltratados pela insônia de dias atrás.
Minha atenção se volta agora, para empregada adentrando a sala de estar, trazendo uma bandeja com chá e bolinhos de avelã. Ela me oferece, e eu nego com a mão mas agradecendo em seguida. Deixa a bandeja de bordas douradas sob a mesinha de centro, e sai depois de servir minha mãe e minha tia.
— E você, Yunna? Por que está tão calada? — Pergunta minha tia, bebericando o chá. Os cabelos bem arrumados em um penteado delicado, um conjunto rosa claro de blazer e saia clássica.
Demoro á responder, pois estou sendo bombardeada por uma dor de cabeça insuportável.
— Ah, eu... só não tenho muito o que dizer hoje — digo, baixo e inexpressiva. Minha tia enruga as sobrancelhas me encarando diretamente.
— Não só hoje como todos os outros dias, não é, querida? — Intervém minha mãe, preocupada. — Ultimamente anda mais calada que o normal.
— O que está havendo?
— Ela anda estranha, Namha — minha mãe responde rápida, segurando a xícara branca sob o colo. Reviro os olhos, ela iria mesmo expor minha fragilidade? — Acredita que mal está comendo? Até as comidas que mais gosta, ela recusa.
E minha mãe não está mentindo. Aliás, posso afirmar minha indignação para com suas observações ultimamente. Dias atrás, passei mal por causa da pílula, náuseas e tonturas me atingiram, e é claro que minha mãe perceberia. Ela parecia preocupada, reparando mais em mim. Contudo, não fora apenas a pílula, as circunstâncias e tormentos em que me encontro, tiram meu sono. A angústia pesa no peito com magnitude, cessando meu apetite, minha vontade de sorrir, de me comunicar.
Mal falei com Jimin naquela semana, muito menos me encontrei com ele. Me contou que precisou passar uns dias em Busan à pedido do irmão mais novo, e ainda que eu visse vantagem nessa distância para reunir coragem e dizer à ele o que preciso, a tristeza me corrói. Só existe breu em mim.
— Mamãe, por favor — começo —, não aja como se eu estivesse doente. Estou bem.
— Tem certeza? Você parece um pouco abatida, Yunna querida — aponta tia Namha, e eu encaro-a imediatamente. — Algum problema amoroso? Ah, essas decepções nos deixam assim...
Observo seus movimentos em mexer o chá com a colher minúscula antes de soltar um fôlego entendiado.
— Olha, tia, não sei se você sabe — anuncio tentando não ser rude demais —, mas quando uma mulher está com problemas, nem sempre são questões amorosas. — Apesar do meu problema ser parcialmente em relação à isso. — É só... ansiedade. Está me sugando. A faculdade, o estágio, às idas até empresa, estudar outro curso por fora... Está difícil conciliar tudo.
Por fim, desvio o olhar para os botões do meu blazer, que agora os giro com as pontas dos dedos.
— Ah, querida — começa ela novamente. — Está mais do que na hora de você largar esse curso e focar no que vai incrementar na sua carreira. Tenho certeza que vai se dar super bem na área de Administração, assim como meu Changmin.
— Ah, você tem notícias dele? Faz tempo que não o vejo — questiona minha mãe.
Permaneço calada, tentando com todas as forças não revirar os olhos à cada cinco segundos.
— Dá última vez que falei com ele, disse que estava bem — revela minha tia, levando a xícara até a boca. — Está tendo muito sucesso administrando no exterior. E me disse que está procurando uma noiva.
— Isso é ótimo! Changmin é um ótimo rapaz, tenho certeza de que vai encontrar uma moça rapidinho.
Minha tia riu em concordância, junto à minha mãe que desfruta do chá morno oscilando na xícara. Começo a rezar para que não venham com esse assunto para cima de mim.
— E você, Yunna — tia Nanha profere. Ah, eu não mereço isso. — Já tem alguém em vista? Seu pai me falou que você estava prestes à se casar.
Encaro-a sem paciência, cutucando a unha do indicador com a do polegar.
— Meu pai mentiu — digo, quase fria demais. — Não arranjei ninguém porque não é meu foco agora.
Desvio o olhar novamente, mas antes posso contestar o rosto sem graça que minha tia exibira. Por um instante, tenho impressão de que minha mãe também se sente assim, mas não ligo. Tudo que quero é sair desta sala.
As palavras foram interrompidas quando a porta abre, Jungkook adentra sorridente, puxando as mangas da jaqueta verde exército até os cotovelos, a franja repartida no meio espontaneamente.
— E aí, família? — saúda Jungkook, parando atrás de mim, apoiando as mãos nas costas da poltrona.
— Meu filho... Achei que demoraria mais — pontua minha mãe, sorrindo.
— Ah, não. Só fui levar a Nabi em casa — revela meu irmão, agora brincando com meus cabelos. Impossível não sorrir de leve com suas carícias divertidas.
— Por que não se junta à nós Jungkook? — agora é a vez da minha tia se enunciar. — Faz tempo que não ficamos um tempo em família.
Minha mãe concorda com a cabeça, animada, e eu adoraria ter meu irmão aqui, pelo menos não me sentiria tão descolada.
— Eu até ficaria mas preciso subir. Estou atolado com coisas da faculdade e não posso mais adiar.
— Ah, justo agora que eu estou quase indo embora?
Graças a Deus.
— Foi mal, tia — insiste Jungkook, já dando alguns passos em direção à escada. — Marcamos outro dia. — E sobe as pressas.
Precisei juntar forças para não expressar um semblante frustrado, porém um suspiro exaustivo desprende dos meus lábios.
— Eu sei que não é da minha conta — comenta tia Nanha novamente, cochichando para minha mãe. Minha atenção foi dianteira para seu rosto. — Mas e Jungkook? Já tem uma noiva?
— Jungkook tem namorada, tia. — Enfatizo, curta e séria. Sem paciência.
Ela se demonstra confusa diante da minha revelação, como se não estivesse acreditando. Minha mãe por sua vez, toma um gole de chá exibindo mais uma expressão sem graça. É notório seu desconforto impassível.
— Namorada? Mas como assim? — ri, sem graça. — Por que eu não a conheço?
— Bom, você a viu — minha mãe tenta explicar, já eu não consigo disfarçar a faca irritadiça que provavelmente, está evidente. — A moça que estava saindo com ele quando você chegou. E-Era ela à quem ele se referiu.
Um sorriso forçado brota no rosto de minha mãe, e a mulher à minha frente continua confusa. O olhar desdenhoso compactuando com minhas deduções perante à sua reação.
— Aquela é a namorada dele? — o tom de julgamento me irrita. — Você permitiu isso, Sohui?
— Como assim, permitir? — repete minha mãe, rindo um pouco sem graça. — Eu não entendo... não tem como não permitir, Jungkook já é um garoto adulto e...
— Ah, não. Não é disso que estou falando, bom... — se demora a prosseguir, parecia tentar escolher bem as palavras. — Você conhece mesmo aquela garota? Quer dizer... olhe o estilo do cabelo dela. Que tipo de roupas são aquelas?
— É o estilo dela — respondo antes que minha mãe pudesse proferir. Uso um tom tão sério que a fez me encarar estática. — Algum problema?
Tia Nanha ri em meio ao constrangimento, parecia não saber bem o que dizer.
— Oh, não! Claro que não! Bem... Eu só estou querendo dizer que... Como todos os rapazes da nossa família, Jungkook deveria estar com alguém à sua altura. Não acha, Sohui? — Pergunta ela à minha mãe, ignorando minha presença para fugir do meu questionamento.
No entanto, para o azar dela eu não vou mais me conter.
— Nabi é uma boa garota, tia! Ela consegue ser boa demais até para o Jungkook! Mas os seus olhos cheios de preconceito não conseguem ver isso — disparo sem mais, mesmo que ainda esteja com o tom de voz baixo, porém, ríspido.
— Yunna. — Minha mãe me chama como uma repreensão, seu rosto estampa receio.
— O quê? Você mesma diz isso, mãe, eu não entendi o seu silêncio... — falo, indignada. — Está na cara que tia Nanha está julgando ela pelas roupas que usa. — Pontuo, anulando totalmente o fato que minha tia ainda está aqui.
— Espere aí, mocinha! — Adverte minha tia. — Não foi isso que eu quis dizer!
— É mesmo?
— Yunna, por favor... — mais uma vez minha mãe tenta cessar a possível discussão que previa.
O pior de tudo, é a raiva me consumindo aos poucos, deixa todos os nervosos do meu corpo a flor da pele. A futilidade reina na cabeça preconceituosa da minha família, onde o status, a classe social, pode valer mais do que o caráter.
Isso me enoja.
— Por que eu tenho que parar? Ela está sendo inconveniente e falsa desde a hora em que chegou aqui. Na verdade, ela sempre foi falsa, mãe. Ela não deveria nem estar aqui!
— Vai ficar sentada e deixar sua filha me faltar com respeito? — Ela intervém, indaga para minha mãe, a voz já irritada.
Viro para ela.
— Você é tão hipócrita.
— Yunna! Já chega — minha mãe pede, mas estou com raiva demais para escuta-la, estou cheia de dores, físicas e sentimentais.
Estou perto demais do meu limite.
— Achei que seus pais tivessem você na linha — ela comenta, irritada.
E agora, não consigo mais me calar.
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Duality • Beijos de Vinho e Rosas
FanficViver uma vida dupla parecia ser emocionante e divertido em filmes e novelas, mas para Jeon Yunna que vivenciava esse fato todos os dias, era totalmente ao contrário. Ela só não imaginava que um reencontro com Park Jimin pudesse mudar a sua realidad...