22. Tempestade sob acertos

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But you'll never be alone

I'll be with you from dusk 'til dawn

I'll be with you from dusk 'til dawn

Baby, I'm right here

Zayn Malik - Dusk Till Dawn



Perspectiva de Jeon Yunna





Diante dos meus olhos, tudo desmorona como um castelo de cartas que fora empilhado com um doloroso trabalho. E as cartas estavam em meus pés, não havia mais chance de pega-las.

Agacho devagar para pegar uma das fotos que meu pai jogou contra meu rosto. Minhas mãos tremendo desesperadamente.

Fotos. Fotos tiradas por alguém.

Uma fotografia que exibe Jimin e eu em um momento íntimo, e por mais que eu estivesse parcialmente vestida, e não ser constatado um ato consolidado, ainda era a minha intimidade sendo exposta para os meus pais.

Não entendo como fotos assim foram parar nas mãos deles, nem como alguém pôde ter tirado já que era o apartamento de Jimin, e o quarto dele. Mas a foto estava com a imagem granulada, como se tivesse sido tirada com o máximo de zoom possível. Mal consigo pensar com o desespero tomando conta do meu interior.

— Q-quem... Quem mandou isso? — reuni forças para perguntar, a voz trêmula, falhando pelo choque.

— Isso não importa! — meu pai grita, me fazendo tremer e apertar os olhos. — O que eu quero saber é o que significa isso! Essa é você, não é? Fala, Jeon Yunna!

A raiva era extremamente visível em seu tom, tampouco em suas expressões cujas mal consigo encarar. Meu coração parece querer explodir, e minhas mãos não param de tremer por nenhum segundo.

— Calma, Jeonsung — pede minha mãe, demostrando aflição na voz de choro.

NÃO ME VENHA ME PEDIR CALMA AGORA! — brada feroz, assustando à nós duas. — Você não entende o que está acontecendo, Sohui? A nossa filha é uma vagabunda! Mentiu para nós por todo esse tempo, fingiu ser uma santa, quando na verdade estava se esfregando com qualquer por aí! — Aponta para mim. Meu peito dói, meus olhos marejam. — Eu bem que devia ter desconfiado... Aquela marca no seu pescoço... Aquela vez em que chegou em casa com os cabelos molhados, você não estava na casa da sua amiga coisa nenhuma, estava na casa desse merdinha aproveitador!

Balança uma das fotos em frente ao meu rosto.

— Não o chame assim! — Grito, com a voz chorosa. Ouvi-lo falar atrocidades de Jimin me despertou uma ira momentânea, me emprestando coragem para enfrentá-lo.

— Ahhh, pelo jeito que o defende, já estão se envolvendo a muito tempo, não é? — Exalta a voz, cuspindo em palavras a fúria incessante. — Como eu pude ser tão burro de não investigar quando comecei a desconfiar? E então... Venho aqui te dar uma boa lição e encontro um quarto vazio! Você conseguiu fugir de casa mesmo com os seguranças na porta, e aposto que foi se encontrar com esse canalha, não foi? — Grita, esfregando as têmporas. — E ainda por cima... Sai vestida assim, o que... o que é isso? — Seus olhos raivosos passeiam pelo meu corpo, e param na minha perna. A perna onde as rosas estão tatuadas. O short curto que uso está exibindo a ponta delas. Minha espinha gela.— Isso é uma tatuagem na sua perna? Você fez essas porcarias no corpo, sua imbecil?!

Ele rosna de raiva, vem feroz para cima de mim como se fosse arrancar as minhas roupas para averiguar se outras tatuagens existiam.

Minha mãe veio em minha direção, usando seus braços para me proteger do que possivelmente meu pai faria.

— Não encosta em mim! — disparo, me afastando. Quase me entregando ao choro.

Protejo o corpo com as mãos, com medo e com raiva, sentindo uma adrenalina estranha e uma tremedeira irritante, tudo ao mesmo tempo.

— Eu não estou acreditando nisso! Então é assim que você se veste pelas nossas costas? Como uma vadia? É com esses pedaços de pano que chama de roupa, com qual sai de casa? Mostrando o corpo mais do que deve, se oferecendo como um pedaço de carne? É com essas merdas que você gasta o meu dinheiro, Jeon Yunna? — Sacode um do meus vestidos cujo ele jogara no chão, e esbravejando para fora a cólera que sente pela indignação, ele rasga meu vestido com uma facilidade tremenda.

Meu sangue ferve, e meu coração dói. Minha primeira reação fora esticar o braço para tentar impedi-lo, mas já era tarde. Os pedaços do vestido foram jogados ao carpete fino, e pisados em seguida.

Quis chorar.

Não era pelo vestido ou pelas minhas coisas materiais sendo quebradas de propósito por puro ódio, mas sim pela forma bruta que meu pai age. Ele repugna o meu eu verdadeiro, ele não aceita e me trata como se eu tivesse centenas de defeitos.

Não sei como reagir à tudo que está ocorrendo dentro desses segundos se passando, mas sei que quando o relógio batesse a meia noite, nada iria ser igual.

— Você é uma mal agradecida imunda! — Ele atesta novamente, sem abaixar o tom de voz em nenhum momento. — Não sabe dar valor ao que ganha de não beijada. Você teve a educação de uma rainha, menina. Eu te coloquei nas melhores escolas do país, você teve os melhores tutores, teve a vida que qualquer um poderia querer, e pra quê? PRA QUÊ? — Grita de novo, vindo em minha direção. Fecho os olhos fortemente, meu choro saíra sem que eu pudesse notar. — Pra você crescer e virar essa vagabunda mentirosa!

— Jeonsung, eu estou te implorando... — intervém minha mãe, nervosa. — Isso deve ter uma explicação!

— Cala a boca você também! — meu pai rosna para ela. — Isso também é culpa sua por não ter ficado de olho nela! — Tento olhar para minha mãe, e no entanto, não consigo porque estou com medo. — Claro, eu tinha que ter um filha bastarda. É a maldição dessa família! Em cada geração dos Jeon um filho nasce errado por natureza. Não caiu no colo do meu irmão, então o destino fez o favor de me dar esse castigo. Sinceramente, se Jungkook fosse meu único filho não teria me dado esse desgosto que estou tendo agora!

— Jeonsung!

— Yunna só me deu trabalhado a vida inteira! — Declara ele, ainda mais alto, causando a intensidade do meu pranto silencioso. Tampo os ouvidos com as mãos, e era completamente em vão. — Desde sempre eu tento que colocar essa garota no eixo, e depois de adulta, quando finalmente acho que virou uma pessoa decente... — Ele se vira para mim, me olha com desdém e na sequência dá as costas, andando de um lado para o outro. — Isso com certeza é um castigo por ter falado tanto da Jissa. A bastardinha da família... — Se vira para mim novamente, havia tanta ira em seu timbre que é possível sentir. Minha respiração ofega de medo, de raiva. Tristeza. — Você não deve se lembrar da sua tia mais nova, mas assim como você ela enganou a família inteira e fugiu com um estrangeiro para a Espanha! Não ficaria surpreso se você fizesse o mesmo, sua ingrata!

O peso da humilhação irradia por todo o meu corpo. Meu próprio pai acaba de dizer que sou um fardo, verbaliza insinuando que seria melhor eu nem sequer ter nascido, me agredi com palavras dolorosas e xingamentos humilhantes, pisando em cima das últimas pétalas de rosa que restam dentro de mim. O último resquício de esperança.

É no momento em que a tristeza abre meu coração para o ódio entrar, o momento em que o meu limite chega, que o cansaço mental grita em alto e bom som como não dá mais para engolir o veneno.

Todo meu sofrimento rebobina como fita em minha mente. Tudo que passei nas mãos do meu pai desde criança, tudo que precisei aguentar por culpa dele, parte da minha vida tomada pelas escolhas que ele fez por mim.

O inferno que ele transformara a minha vida por um simples "não". Meu pai agiu de forma machista, usou meu medo para me manipular, usou meu próprio irmão para me chantagear, fez minha própria mãe concordar com suas atitudes sórdidas. E em nenhum momento teve pena, nem quando no lugar de uma mulher de vinte e quatro anos, ainda era um menina de sete. Uma criança.

Não aguento mais segurar. E não tenho mais nada a perder, de gato.

— Isso... é sua culpa. — Consigo dizer, a voz falhando e ainda cabisbaixa.

O medo se transforma em raiva, e ela que me dá a coragem para erguer o rosto e limpar as lágrimas.

— Como é que é? — Meu pai interroga, furioso.

Meu peito sobe e descer pelo arquejar do nervosismo.

— Tudo isso... — pronuncio novamente, agora aumentando o tom. — Não teria acontecido se você não tivesse transformado a minha em um inferno na terra.

Posso sentir a ira emanando do rosto dele, os punhos cerrados caminhando para mais perto de mim.

Mas não recuei. Não dou um passo. 

— O quê? — A forma agressiva que seu tom expeli, me faz tremer, porém continuo firme, exibindo ódio do me rosto. — Dei uma vida de reis à você e é assim que me agradece?

— Eu não tenho que te agradecer por nada! — Proclamo engrossando a voz. — Você só me controlou, não me deixou viver! — puxo o ar entre os dentes que rangem pelo enfurecimento qual se apossa de mim. Dou passos para ficar cara-a-cara com ele. — Mas eu dei o meu jeito... Eu vivi como eu quis, eu fiz o que eu quis, usei o que eu quis, tudo nas suas costas. Mas eu não usei a porcaria do seu dinheiro em nenhum momento porque eu sabia que um dia você iria jogar na minha cara. Eu usei o dinheiro que eu ganhava, pra viver do meu jeito, mesmo que tenha sido escondido e olha só... eu consegui! — Abro um pouco os braços, esboçando um sorriso sarcástico, debochando da sua raiva. — Eu fiz tatuagens, eu usei roupas "curtas e indecentes", eu saía a noite para me encontrar com pessoas, pra me divertir, beber, dançar, enquanto vocês achavam que eu estava dormindo, ou estudando. Inclusive... dormi como o cara da fato aqui nesse quarto mais de uma vez, dei uma festa quando vocês não estavam, tudo na suas costas! — Exclamo rente ao seu rosto. Me afasto um pouco, visualizando o quão irritado ele está. — Surpresa, papai... Essa sou eu, sua filha bastarda. Nunca fui e nunca serei quem você queria que eu fosse! Enganei você, a mamãe, a família toda com esse disfarce de boa moça desde os dezesseis anos, e não me arrependo nem um pouco!

O rosto do meu pai era fúria nítida, os punhos cerrados a respiração arquejando, o olhar enclausurado pela cólera. Ele podia me fazer engolir as palavras apenas pelo o olhar.

Engulo o choro, mas os olhos voltam a marejar. Puxo o ar para prosseguir:

— Eu jamais... quis herdar empresa nenhuma. Em nenhum momento eu quis liderar droga nenhuma! Eu odeio estar naquele lugar, e só fazia tudo isso porque você me obrigava! Porque eu tinha medo. Mas agora... eu não tenho mais medo de dizer que eu detesto toda essa merda! Essa família é uma grande merda, cheia de mentiras! — Disparo, a rouquidão na voz exibia meu ódio, e o alívio de finalmente está expulsando essas palavras para fora.

— Olha só quem está falando sobre mentiras! — Rebate meu pai, gritando e desprendendo a arrogância. — Você não tem vergonha de falar essas coisas com orgulho nas palavras, sua imprestável? Não tem respeito pela sua família, por si mesma?

— Você quer mesmo falar sobre respeito? Você? — Ri com escárnio. Esse cretino não pode estar falando sério. — Se é um santo imaculado, porquê não conta a verdade para a minha mãe?

Silêncio ecoou.

Meu pai paralisa, me fita seriamente com as expressões se tornando confusas ainda que cheias de ódio e nervosismo.

— O-O quê? Do... Do que está falando, filha? — Pergunta minha mãe. Não viro para encará-la, mas podia sentir seu estado caótico, seu rosto ludibriado pelas minhas falas. Perplexa.

— Vai em frente, papai... Conte! Diga o que faz nas costas dela!

— Cala a boca, Yunna! — Grita chegando mais perto.

Ele está pálido, o medo possivelmente ascendeu uma faísca dentro de si. E ali, tenho a certeza de que ele sabe exatamente à quê me refiro.

— Eu não vou me calar — retruco, no mesmo instante que o temor é inexistente. — Eu nunca mais vou me calar diante de você.

— Se abrir essa boca... — ameaça ele, erguendo o indicador contra meu rosto.

— O que está acontecendo? — E minha mãe se desespera.

Não irei mais esconder nada.

— Ele está traindo você, mãe! — Exclamo, alto e claro. As expressões dela não haviam nada mais que espanto. — Com uma mulher que tem quase a minha idade. Eu descobri a meses atrás. Sabe todas as viagens de negócios? Não passou de histórias para te enganar... porque na verdade, ele estava com a amante. Eu vi! Ele dá tudo pra ela... Tempo, luxo, dinheiro. Até as jóias mais caras da empresa! Eu vi! E é com ela que ele tem planos futuros, eu aposto! — Minha garganta agora arde, queima de raiva. — E eu só não contei, mãe... porque eu sabia que você e Jungkook iriam sofrer.

— Fica quieta, Jeon Yunna... — Meu pai exige, praticamente rosnando de indignação. — Fica quieta! Sua insolente! Você não sabe do que está falando!

JÁ DISSE QUE NÃO VOU ME CALAR! — Grito. Protesto. E então sinto que meu pai fica ainda mais enraivecido, a expressão sombria. — Você é tão farsante quanto a sua filha bastarda não é, pai? Você quer falar de respeito quando não passa de um adúltero miserável! Um cretino abusivo que arruinou a minha vida, arruinou essa família, com toda a sua ganância e egoísmo, e ainda me cobra respeito e responsabilidades? Você olhou nos olhos da sua esposa e mentiu pra ela, fez seus filhos sofrerem... Você é abusivo, você... é a pior pessoa que eu já conheci na minha vida — minha voz falha, e uma lágrima cai. Mesmo tendo uma sensação de alívio, a dor prevalecia. Volto a ficar rente à ele, sentindo sua raiva zunir. — Eu odeio você, eu odeio o fato de você ser o meu pai! E tudo que eu mais tinha vontade de fazer antes, era cuspir nos seus sapatos e dizer isso na sua cara!

MANDEI CALAR ESSA BOCA!

Ele grita feroz, segundos antes de estalar um tapa em meu rosto.

O golpe fora tão forte que fez minha cabeça virar para o lado junto ao meus cabelos pelo movimento rápido. Minha mãe também gritou, horrorizada com a cena que acaba de ver. E dói. Não apenas fisicamente, mas também por dentro.

Nenhuma dor física se compara com a dor do meu coração.

Toco devagar o canto dos meus lábios, comprovando pela ardência, que ele havia me machucado de novo. Havia resquícios de sangue na ponta dos meus dedos, e com o interlúdio de tantos sentimentos operando ao mesmo tempo.

Eu ri. De nervoso, de tristeza, de raiva. Uma risada baixa e rouca e dolorosa.

— Era só isso que faltava, não é? Bater em mim de novo — consigo dizer após juntas as forças que ainda me restam, depois da certeza que o tapa cortou o canto da minha boca. Eu realmente não tenho mais nada a ganhar ou perder depois do dia de hoje. — Eu tenho vergonha... de ser sua filha... E se todos soubessem o verdadeiro desgraçado, manipulador e abusivo que você é, iriam sentir o mesmo.

Meu pai me olha com toda a raiva que sente, percebo seu corpo até tremer. Ele não gostou do que ouviu, não o agradou me ver o enfrentando, me ver sem medo dele.

Isso o irritou mais que o normal.

E no silêncio de três segundos após minhas palavras escassas, ele ergue o rosto e me encara para dizer:

— Arrume suas coisas e saia da minha casa, agora.

Sinto uma pontada fina no estômago, meu coração ressoa. Agora não preciso mais questionar as mínimas deduções, meu pai nunca se importou comigo.

— Jeonsung, pelo amor de Deus! Não faz isso, não precisa disso! — minha mãe suplica, não olhei em seu rosto para saber que estava chorando.


— Se quiser ir com ela fique a vontade! Ela é sua filha — Brada meu pai. — Na minha casa ela não fica nem mais um minuto. Eu não tenho filha vadia.

Suas palavras duras me ferem, foi como ser atingida por inúmeras pedras.

Meu pai sai do quarto pisando duro, emergindo um ódio que jamais havia sentido dele.

A realidade do que acaba de ocorrer aqui me espanta, mas não tive medo; deis às mãos ao fatos e começo a fazer o que ele havia mandado fazer. Extremamente arrasada e sem mais forças, eu arrasto meus pés em silêncio até o closet, pegando do chão as coisas e roupas que ele havia arremessado.

Lágrimas desciam em silêncio, assim meu grito interno reprimindo-se ali.

Minha mãe chorava baixinho, tenta me chamar uma, duas, três vezes e no mais, eu já não estava mais ali. Só meu corpo prevalece, minha consciência agora existe uma teia de aranha com enormes tormentos, tristeza e problemas emaranhados.

Não consigo pensar em nada, nem ao menos dizer.

Pego uma mala grande e prateada, e pondo dentro dela apenas o importante e o que também caberia. Não me importo com o que ficaria, tenho apego à poucos. Mesmo assim, só quero sair daqui, ir para bem longe onde quem sabe, a dor sumisse que ou um lugar onde eu não precisasse enfrenta-la.

Para vencer uma guerra precisa lutar, mas como irei continuar essa luta sem mais forças para me manter de pé? Era tolice.


Duality  • Beijos de Vinho e RosasOnde histórias criam vida. Descubra agora