Capítulo 22: Uma Dupla Letífera

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Dois dias depois, em Mandrágon, na cidade apócrifa chamada Etherfall.

Vinte e uma horas e 20 minutos da noite, numa cervejaria avulsa e barulhenta.

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A noite brumal e desalumiada estava extremamente plácida e silenciosa numa cidade monocromática e obscura chamada Etherfall, conhecida também por outras cidades de Mandrágon, incluindo a capital Helloween, como a "Cidadela do Silêncio" ou como a "Cidade Monocromática da Apatia e da Dor". Era um clima totalmente usual e congruente com a estética enfadonha da localidade, já que a cidade não era nada conhecida pela agitação, pelo stress do quotidiano, pela iluminação e nem por rostos alegres ou simpáticos dos cidadãos, que geralmente eram bem antipáticos e rudemente introvertidos. Era uma cidade dúbia, abafadiça, aviltante, críptica, repleta de melancolia e dum sigilo ensurdecedor que levaria qualquer extrovertido engraçado e animado ao total desconsolo e à pura deprimência. O ar aparentava ser rarefeito naquela região só pelo nível de tensão nas ruas, não dava para caminhar com confiança e segurança, pois qualquer barulho invulgar já seria um sinal de alerta e precaução, mesmo que fosse apenas sacos de plástico sendo arrastados pela brisa do vento ou gatos pretos a revirar caixotes do lixo num beco, à procura de alimento ou de ratazanas gulosas, ascosas e insalubres, que tinham o hábito nauseabundo de viver nessas zonas nojosas, extremamente escuras e fechadas. 

Devido à bruma densa que preenchia o firmamento cinéreo, destituído de luz e ar fresco, a cidade parecia ser um terreno baldio completamente abandonado, mortificado ou até mesmo amaldiçoado, como se fosse uma cidade a sofrer ininterruptamente com os efeitos negativos de um inverno nuclear, de um apocalipse zombie ou de qualquer outra realidade entrópica, tétrica e distópica. O vento era o único que não calava a sua boca invisível no meio das ruas vazias e tácitas de Etherfall, porém, nos locais mais repulsivos, barulhentos e festivos da cidade, o ambiente era totalmente o oposto. 

Isso ocorria precisamente nos bares e nas cervejarias artesanais, onde havia imensa barulheira, gritaria, tumultos e porradaria, muita bebedeira, náuseas e vómitos devido a essa bebedeira excessiva, homens e mulheres totalmente pedrados e enlouquecidos devido ao fumo psicoativo dos narguilés, dos charutos, dos charros, dos cachimbos e dos cigarros convencionais a serem utilizados ilicitamente pelos esbanjadores adultos na cervejaria, que preenchiam o ambiente do estabelecimento com um fumo exuberante, totalmente intoxicante e, obviamente, muita porcaria e sujeira no chão. Pedaços mastigados e salivados de comida, restos de vómito regurgitado e bebida alcoólica mal aproveitada, dentes caninos e incisivos devido à pancadaria intensa e violenta, gotas de sangue morno e pedaços estilhaçados de garrafas devido aos tumultos, enfim, era um ambiente totalmente desconfortável e babélico, não era para qualquer um, era exclusivo de pessoas limárias e abentesmas. Todavia, como a cervejaria artesanal era espaçosa e variada, haviam outras salas, salas mais amenas, calmas e pacíficas, com paredes pintadas de amarelo, com televisões grandes sendo suportadas no limite dessas paredes amarelentas com pedestais pretos e tendo poucos clientes, e os poucos que tinham, bebiam e petiscavam com uma certa cordialidade e tranquilidade, nomeadamente dois jovens que estavam sentados nuns bancos rodopiantes, próximos ao balcão de madeira daquela sala, onde eram servidos os aperitivos quentes e apimentados, incrivelmente saborosos e viciantes, juntamente com as bebidas frescas e satisfatórias, desde a água tónica e as múltiplas bebidas energéticas até aos shots fortemente inebriantes de tequila, de conhaque e de absinto. 

O primeiro jovem, que estava informalmente sentado à direita, com as pernas esticadas em cima do balcão, era um jovem adulto, moreno e alto, tendo aparentemente 22 anos e 1,86 metros de altura. Este homem tinha um cabelo cacheado curto, totalmente preto, e uma barba cerrada na face, sublimemente aparada, com um charmoso e atraente cavanhaque. No seu torso, este homem usava um colar em formato de serpente, uma camisa de cor laranja e um trench coat de couro, de cor verde-militar, totalmente aberto e muito confortável, além de ser também muito eficiente contra as temperaturas usualmente baixas da cidade. Nas suas mãos ocupadas, ele detinha luvas de meio dedo de couro preto, muito similares àquelas usadas por motoqueiros. Por outro lado, na parte inferior do seu corpo, o sujeito utilizava calças pretas normais, cinto castanho com uma fivela vermelha e duas botas pretas, novinhas em folha, que estavam bem coladas aos seus pés. Além disso, para finalizar, o homem, apesar das suas vestes totalmente inusitadas, tinha uma característica ainda mais insólita do que o traje e os restantes acessórios, que era uma venda sobre os olhos. Uma venda alaranjada que cobria totalmente os seus olhos e a parte superior do nariz, com a exceção das narinas. 

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⏰ Última atualização: Mar 21 ⏰

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