Vida Após Vida

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Dizem que o amor pode sobreviver vidas após vidas e a única certeza é que o segredo da imortalidade se esconde nas neblinas densas da noite escura.

Reza a lenda que o monstro que se esconde durante o dia, caminha pelas ruas a noite procurando saciar sua sede.

Há séculos um homem vive a procura de seu amor, ele não envelhece, não dorme e não morre. Somente, passa a eternidade procurando por sua amada que no passado morrera em seus braços com a veias secas.

Isto é o passado, mas este é o agora...

Londres, Inglaterra.
Maio de 2021.

A noite estava fria e a chuva grossa que caía sobre a cidade Londres. As ruas estavam parcialmente iluminadas pelas luzes dos postes e faróis dos veículos que percorriam as avenidas inglesas.

No coração da zona central de Londres se localizava o Orfanato Westminster em uma das ruas mais movimentadas e conhecidas da cidade. Em um dos alojamentos do terceiro andar do edifício, em cima de um beliche sob a coberta fina estava Fleur - uma garota de dezesseis anos de idade rabiscando um caderno.

Vida após vida.

Fora o que ela escreveu no escuro da noite, enquanto a insônia ainda perambulava pelo seu cérebro como o intruso dos sonhos. Fleur não se considerava uma garota de sorte e depois de ter sido abandonada naquele orfanato pelos seus avós e sua tia.

Quando o intruso dos sonhos chegava junto com a noite e os sussurros que cercavam sua mente, ela simplesmente escrevia. Fleur acreditava que dessa forma ele iria embora, já que seu anjo da guarda nunca chegou para salvá-la.

No dia seguinte durante o café com todas as outras jovens de sua idade, Fleur estava sentada à mesa bebendo aquele líquido preto e escrevendo em seu caderno. Era difícil concentrar-se em seus pensamentos e suas palavras quando outras vozes penetravam seus ouvidos e se misturavam com seu timbre interno.

Diga-me se trago marcas do ontem?

- Senhorita Valerian.

A voz da diretora Agnes a fez quebrar a ponta do lápis sobre a folha que escrevia e tudo o que escutou em seguida fora a risada das outras meninas ecoar pela sala. Fleur olhou a sua volta, fechou o caderno e abaixou a cabeça tentando manter aquelas gargalhadas longe de sua mente.

- Silêncio. - gritou Agnes.

Todos tinham medo da diretora, não porque ela era rígida e nunca sorria. Mas porque Agnes criava castigos extremamente terríveis e cruéis. Ela transparecia estar sempre com raiva e se incomodava com a alegria das meninas.

Fleur recordou-se do dia em que fora levada à aquele orfanato no mustang azul que já tinha a tinta desbotada. Ela observou seus avós sentados no banco da frente com o semblante sério, enquanto permanecia atrás com sua tia Mary que digitava algo no celular.

Fleur retirou um pequeno aparelho de tocar música - iPad - conectou aos fone de ouvido e os colocou na orelha. Ao apertar play, ela aproximou-se da janela do carro e assistiu a chuva fina se debater contra o vidro e embaça-ló enquanto a música fazia seu cérebro naufragar em memórias que nunca viveu.

Desde os três anos de idade Fleur recordava de uma mulher loira e íris azuis. Mas todas as noites que ela fechava os olhos para dormir, sua mente era invadida por sussurros sinuosos e a imagem de homem de cabelos negros e olhos escuros.

De alguma forma, Fleur acreditava lá no fundo que teria vindo a esse mundo para encontrar alguém, mas perguntava se era a mulher de seus pensamentos? Ou o homem que aparecia em seus sonhos? Ela desejava achá-los e dizer que havera escolhido eles como se fosse padrinhos ou anjos da guarda.

- Um, dois, três, Terra chamando Fleur. - disse uma voz feminina.

Quando Fleur voltou a realidade, observou sua amiga balançando a mão na frente de seu rosto e sorriu. Ela segurou a mão da garota de cabelo negros e disse:

- Qual é a queixa, Maggie?

- Queixa alguma. - ela disse contornando a amiga. - Mas hoje vamos à uma festa. - acrescentou.

- Nós podemos sair? - Fleur perguntou confusa.

Antes que Maggie pudesse responder a pergunta da loura, a sirene ecoou por todo o orfanato, ela uma mecha de fios dourados atrás da amiga e agarrou a mão dela. Enquanto Fleur permitia ser guiada pela sua colega, distanciou-se da realidade por breves segundos - achou a jovem -, mas quando ambas ultrapassaram o umbral da biblioteca a diretora bateu com livro na mesa.

Ao observar o semblante furioso de Agnes, as jovens caminharam depressa para se acomodar nas duas carteiras que permaneciam vagas. Fleur desejava que não fosse punidas pela diretora por chegarem atrasadas a uma de suas aulas. Ela queria espiar a face de Maggie que estava a duas cadeiras atrás da que permanecia sentada, mas fora impedida pela voz feminina e aguda:

- Desta vez, farei com que mantenham a mente ocupada por longos dias enquanto aguardamos a chegada dos novos professores.

Agnes começou a caminhar entre os jovens sentados nas carteiras e ao retornar à mesa em qua estava há poucos minutos atrás, ela disse:

- Irei levá-los a uma excursão à biblioteca para que tenham tempo livre o suficiente para escolher uma obra para que possam fazer uma resenha e dizer-me o motivos de suas escolhas.

Fleur logo imagino que sua amiga teria controlado o grande desejo de revirar os olhos, já que leitura não era uma das coisas que gostava de fazer. Mas aquilo seria importante para ela, seria paineira vez que sairia dos muros do Orfanato Westminster e iria respirar um pouco do cotidiano d doutras pessoas.

Quando a noite fria caiu sobre a cidade de Londres, Maggie saltou do beliche que dormia e caminhou em direção ao quarto de número setenta e três e abriu a porta. Ela avistou Fleur rabiscando algo em seu caderno com uma minúscula lanterna presa em sua outra mão.

- Psiu. - disse Maggie.

Fleur parou de escrever e olhou sua amiga com os joelho nus sobre o chão e com a mão no trinco da porta. Ela percebeu que Maggie vestia um vestido azul turquesa com babados de tonalidade um pouco mais clara que a roupa e um saltinho preto.

Fleur caminhou em direção a amiga e perguntou:

- O que está fazendo aqui?

- Nós vamos à festa. - ela fez uma pausa. - Vista-se. - acrescentou.

Mesmo com medo de ser pega pela diretora Agnes, Fleur não poderia deixar sua amiga ir sozinha a um lugar cheio de jovens que provavelmente estariam sob efeito de drogas e bebidas alcoólicas. Ela movimentou-se em direção ao guarda-roupa onde estavam suas vestimentas e, rapidamente, vestiu uma calça jeans de tom escuro, uma blusa branca e calçou um sapatênis da mesma coloração do tecido de cima.

Quando ambas passaram pelo muro de Westminster, Maggie não pode contratar a risada e a loura ficou comovente com a alegria dela. Fleur segurou a mão da morena e juntas caminharam em direção a um lugar que desconhecia.

Dentro de uma espécie de galpão, Fleur observou a luz apagar e acender por alguns segundo. Mas ela assistiu o ambiente ser preenchido por uma luz azul e assistiu Maggie puxa-la em direção a um rapaz que entregava bebidas para alguns jovens.

- Eu vou querer whisky. - Maggie disse ao barman.

- Ficou maluca? - perguntou Fleur. - Não podemos voltar muito tarde. - concluiu.

- Eu não caminhei no escuro da noite para não me divertir.

Fora tudo o que Maggie disse antes de soltar a mão da amiga, pegar o copo com a bebida e misturar-se entre os jovens que dançavam. Fleur caminhou para fora do local e aninhou suas costas contra a parede. Ela sabia que não seria fácil tirá-la daquele lugar, mas precisava pensar em um maneira de retornar para o orfanato com a morena.

Drácula - O Prometeu ProibidoOnde histórias criam vida. Descubra agora