Naquela manhã cinza de sábado, Vlad pousou no gramado do orfanato Westminster e escondeu-se atrás do enorme carvalho. Ele manteve os olhos fixos na porta que se abria lentamente enquanto a neblina descia rapidamente e cobria seu corpo parcialmente.
Ao notar que Fleur havera saído de dentro do orfanato, ele sorriu em vê-la com as mãos cobertas por um par de luvas vermelhas que protegeria seus dedos do frio. Vlad observou ela caminhar em direção ao carvalho e perguntava por que curiosidade invés de medo?
- Meu super-herói. - ela disse pulando em cima dele.
Naquele momento em que percebeu que Fleur havera ficado feliz em vê-lo e nos braços dela, ele não sentia-se um imortal amaldiçoado. Vlad apenas pensava como um homem perdido em um mundo sem salvação e pela primeira vez em muito tempo, o vampiro encontrou um motivo para voltar a ter fé.
Vlad assistiu muitas guerras trazer o pior e muitos cientistas fracassarem no processo de tentar operar o milagre. Mas naquele momento Fleur era uma benção que Deus colocou em sua jornada sem final previsto.
Quando ambos se afastaram um do outro, ela disse:
- Você veio.
- Eu disse que viria.
Ambos sentaram-se no gramados e ficaram conversando por horas. Eles não se incomodaram com a neblina que cobria suas cabeças e através daquela bruma densa, conseguiam fitar os olhos um do outro e se aninharam aquele momento obsoleto.
- Por que chamou de super-herói? - Vlad perguntou curioso.
Ela deu de ombros.
- Desde o dia em que nos conhecemos e você leu a obra de Mary Shelley para mim. - Fleur disse enquanto tentava encontrar seus dedos cobertos pelo nevoeiro. - Senti sua voz calar o silêncio que assombra minha mente e responder algumas perguntas. - acrescentou.
- Quais perguntas?
- Sabe, Vlad, as pessoas desse lugar tem o poder de roubar seus sonhos. - ela fez uma pausa. - Mesmo que nunca tenha contado a eles. - concluiu.
- Em mundo que não podemos ter o controle sempre buscamos um escape. - ele fez uma pausa. - Você não precisa sentir-se quebrada novamente. - acrescentou.
Vlad segurou delicadamente a mão dela e sorriu. Doce luz de neon que me tira da escuridão. Pensou ele enquanto Fleur o tirava de uma longa hibernação com seu timbre sereno que em breve o assombraria como o fantasma de Mirena.
Fleur deitou a cabeça sobre o ombro dele e fechou os olhos. Debaixo de um céu nublado, sob os galhos cobertos de folhas e envolvidos pela bruma fria Vlad assistiu ela adormecer rapidamente. Ele não ousou mover-se, apenas ficou parado sentindo uma paz inexplicável enquanto o cheiro da inocência mostrava a luz não tão distante de seu alcance.
Quando Fleur despertou, a primeira coisa que suas íris avistaram fora o rosto dele. Ela flagrou a si mesma com a cabeça nas pernas de Vlad e sentiu ele acariciar seus cabelo preso em uma trança frouxa.
- Acordei você? - perguntou Vlad referindo-se às carícias no cabelo dela.
- Imaginei que não estaria aqui quando eu despertasse. - respondeu.
- Eu jamais perderia a oportunidade de ver esses lindos olhos se abrir para o mundo.
Fleur sorriu.
Vlad sentiu aquele olhar inocente pesar em sua mente como uma espécie redenção e aquela sensação doía na mesma intensidade em que sofreu em todas as partidas de Mirena. Ele perguntava a si mesmo se Fleur seria sua fonte de felicidade mesmo que não fosse a reencarnação de sua amada? Ou ela seria uma armadilha que Baltazar colocou em seu caminho para confundi-lo?
Naquela calmaria abaixo do carvalho que antecipava uma forte tempestade nasceu outra lenda, onde a emoção era irrevogável, a devoção era grotesca e poucos mortais iriam testemunhar memórias que seriam devoradas pelo tempo.
Era tarde quando Vlad retornou a sua casa ainda com as memórias daquela manhã nublada em que ela adormeceu no seu ombro. Ele poderia ter partido, mas Fleur o fazia sentir-se como um simples mortal que buscava a redenção.
Vlad ainda estava curioso por que ela sempre permanecia sozinha e aquela solidão o humilhava, pois lembrava de todas as mortes de Mirena. Ele também queria saber os motivos de Fleur chamá-lo de super-herói?
Ao passar pela porta da frente, Vlad pendurou seu sobretudo e caminhou direção a escada. Mas antes de subir o degrau, ele sentiu um cheiro de enxofre e logo em seguida escutou a voz de Baltazar dizendo:
- Vejo que há um sorriso estampado no seu rosto.
Vlad revirou os olhos e sentou-se no sofá a frente dele. Baltazar também acomodou-se na poltrona que estava atrás de si com um sorriso perverso nos lábios.
- O que você quer? - Vlad perguntou curioso?
- Ao julgar esse ar de alegria presume que encontrou sua amada. - comentou o demônio.
- Na verdade, não encontrei a Mirena. - respondeu.
- Não me diga que se apaixonou por outra mortal?
Vlad sorriu.
Naquele momento, ele teve a certeza de que Baltazar não tinha nada em relação Fleur e que ela poderia ser a reencarnação de Mirena. Mas Vlad não havera encontrado os vestígios de sua amada na órfã, apenas a essência o fazia lembra dela.
Vlad voltou a olhar para o demônio sentado a sua frente e notou que ele transparecia um ar de dúvida. O vampiro teve certeza de que Baltazar não tinha controle da maldição, ou ao menos dos detalhes dela.
- Não vai mesmo contar o que o deixou tão alegre?
- Você é como um hóspede indesejável. - disse Vlad levantando-se do sofá. - E eu quero você fora da minha casa. - acrescentou.
- Eu irei descobrir o que você esconde. - afirmou Baltazar.
Quando o demônio desapareceu com um espírito negro e deixou apenas o odor de enxofre, Vlad respirou fundo e decidiu manter-se distante de Fleur. Ele não queria correr o risco de Baltazar pensar que ela fosse Mirena e ousasse machucá-la novamente.
Na verdade, Vlad ainda estava em buscar da alma de Mirena e perguntava-se onde ela estaria escondida e como vivia? Ele queria saber se era como Fleur que esperava pelo super-herói para salvá-la.
O sorriso de Fleur surgiu como uma lembrança nítida no fundo da memória dele. Mesmo que Vlad estivesse com seus pensamentos desviados em encontrar Mirena, ele se agarrou naquela recordação que pareceu uma eternidade.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Drácula - O Prometeu Proibido
Mystery / ThrillerApós a morte de Natasha, uma nova chance de amar e encontrar a alma de Mirena é concedia a Vlad. Ele viaja para Londre em busca da única lembrança da primeira vida enquanto procura pela sua amada em outro corpo. Dentro de um lugar que armazena diver...