O Monstro de Olhos Esverdeados

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O céu estava completamente cinza e raios cortando as nuvens negras. Enquanto abaixo havia um enorme vale e na base dele, uma colina. Mas o vento frio e forte assolava diretamente para o sul onde pobres almas caminhavam em fila única.

Eram dezesseis almas condenadas e elas estavam caminhando para um lugar aonde todos os espíritos vão quando morrem. Mas um sussurro era perpétuo e a cada passo podiam ouvir o barulho dos açoites e gritos dos escravos que retiravam as enormes e pesadas pedras como se estivesse desenterrando alguma coisa.

Não demorou muito para que um viajante - totalmente diferente das almas condenadas - começasse a vagar por aquele vale. Ele não estava completamente morto, todos sabiam que era um imortal, uma promessa proibida, um ser humano condenado.

Há quilômetros de distância um dos residentes do inferno avistou aquele viajante imortal e diferente das alma condenadas, ele o conhecia pelo seu nome: Drácula. O vampiro adentrou na cidade da interminável chuva de cinzas até sumir do campo de vista do desconhecido que o observava.

A cada passo sobre aquela estrada de pedras, ele observava as almas condenadas rindo dele. Talvez, elas pudessem ver o arrependimento em sua face. Mas a verdade, é que havia um fantasma ao seu lado, um espírito virtuoso que brevemente seria condenado pela escolha que estava prestes a fazer.

Mesmo não conhecendo aquele lugar e temendo perder-se ainda mais nas cinzas que deixavam sua visão parcialmente turva. Drácula caminhou em direção a uma igreja abandonada e ao passar pelos umbrais daquela catedral, uma voz masculina disse:

- Você não é bem-vindo por aqui.

Ele ficou paralisado, observando aquele homem de batina escura descendo do altar e aproximando-se dele. Ainda perguntava a si mesmo que espécie de padre seria jogado no inferno e teria uma aparência tão obscura quanto a sua.

- Você é o padre que pratica magia negra. - comentou Drácula.

- E você é a saída para o diabo voltar a superfície. - ele fez uma pausa. - O que você procura? - perguntou.

Drácula não disse nada, apenas abaixou sua cabeça procurando poucas palavras para resumir o que fez sucumbir ao paraíso do inferno antes cair nas chamas do submundo. Mas o padre já sabia o que ele fazia em sua igreja e o que devia fazer para retornar ao mundo dos vivos.

- Você deve marchar colina acima para o seu túmulo e meditar através de memórias que jamais irá viver novamente. - respondeu o padre. - Na descida, você deverá tocar o sino como prova de que aceita vender sua alma ao diabo. - concluiu.

- Você...

- Ele pagará muito caro pela sua alma. - o padre o interrompeu. - Há um segredo que eles guardam como um escravo e você descobrirá. - acrescentou.

Drácula não deu tempo para que o padre dissesse mais sobre as intenções do diabo. Apenas virou-se e caminhou em direção à colina que não estava muito distante dele.

Na subida, ele conseguiu o ver o céu quebrado e escutou uma voz sussurrando e ecoando em sua mente. A cada passo Drácula entorpecia-se e escorregava pelos próprios sentimentos que faziam seu amor se transformar em cinzas.

Ao alcançar o topo, Drácula caminhou pela grama morta e ao ver um grande pedaço de terra granulada e uma cruz de madeira tocou nela. Isso foi o suficiente para fazê-lo cair e sua mente meditar através da dor e de memórias que ele nunca viveu enquanto uma voz desconhecida sussurrava:

Apegue-se um dia após o outro com a esperança da companhia escondida do fantasma que mora em seu coração. O tempo não irá apagar e o que você perdeu no início será encontrado no fim de sua jornada. Jamais esqueça que você é o prometeu proibido de F...

Foram milhares de palavras sussurradas, mas apenas algumas foram capazes de ser compreendidas. Drácula não sabia se era uma profecia ou uma pegadinha que o demônio reservou para confundi-lo.

Na descida, ele conseguiu prestar atenção nos fantasmas e escutou os gritos de dor. Drácula avistou uma mulher vestindo um manto sujo de lama e carvão. Ao dela, estava o sino que deveria tocar para voltar ao mundo dos vivos e ao aproximar-se, ela disse:

- Não esqueça de você retornará ao inferno.

Ele segurou o sino e disse:

- Eu prometo.

Ao sacudir o sino, ele caiu novamente. Mas enquanto seus olhos se fechavam para a vida que estava por vir. Drácula avistou a face de um homem com um par de olhos esverdeados e pele translúcida. Além daquele ser humano que via ser misterioso e ter as íris de um assassino, também sentiu familiaridade.

- Vlad? - uma vez feminina o fez voltar a realidade.

Ele expulsou a lembrança de seus pensamentos, e ao olhar para o lado avistou uma curiosidade naquele par de íris azuis.

- Diga, Fleur.

- Em que estava pensando? - ela perguntou curiosa.

- Eu não quero desaponta-lá. - respondeu. - Jamais. - concluiu.

Fleur segurou a mão dele e disse:

- E não vai.

- Fleur...

- Você vive tão profundo no meu coração. - ela fez uma pausa. - Apesar de ser quem você é, eu sempre estarei ao seu lado. - acrescentou.

Naquela noite, sentados no gramado do jardim de Westminster, Vlad contou a ela a história de como havera se transformado em um vampiro. Mas ele hesitou em dizer a Fleur os motivos e sobre Mirena.

Mesmo sentindo uma dor aguda crescendo em seu peito, Vlad controlou as memórias sentimentais que o faziam querer voltar no tempo e sucumbir na tristeza. Ele jamais pensou que viveria um amor imortal e flagrou a si mesmo lembrando do sorriso de Mirena e comparando com Fleur.

Com os olhos fechados ela adormeceu e seus sonhos foram assombrados pela imagem de um homem com íris esverdeadas e cabelo escuro. Ele vestia um terno de três peças na cor cinza sob um sobretudo da tonalidade preto e vigiava uma moça de cabelo escuros e cacheados. Fleur virava sua cabeça de um lado para o outro enquanto sentia a maldade nos olhos dele. Mas havia algo naquele desconhecido que ainda não compreendia.

- Você esteve congelada em algum lugar da minha memória. - ele fez uma pausa. - Mas conseguiu fugir e voltou para assombrar minha vida. - acrescentou.

Ele levou a mão ao peito esquerdo, abaixou a cabeça e ao levantar novamente avistou ela partindo com outra moça de cabelos loiros.

Drácula - O Prometeu ProibidoOnde histórias criam vida. Descubra agora