Não Há Vida Depois De Você

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Naquela tarde chuvosa e fria de sexta-feira, Fleur havera fugido da escola apenas para ficar com ele e escutar os bons conselhos. Ela não tinha medo de Vlad, mesmo sabendo que era um vampiro, parecia natural ter a amizade do temível Drácula.

Ambos estavam sentados em uma enorme rocha debaixo da chuva que despencava do céu tempestuoso, Vlad retirou o sobretudo de camurça que usava por cima do terno de três peças na cor cinza e entregou para ela vestir. Ele sabia que Fleur tinha chorado no caminho até a floresta para encontrá-lo, conseguia notar as íris azuis emaranhadas que olhavam fixamente para a grama verde e descuidada.

- Maldito dia em que eu nasci. - ela praguejou. - Meu avô Gordon nunca gostou de mim e nem tampouco minha avó. - acrescentou.

- Fleur...

- E para piorar minha tia inventou de colocar-me em um orfanato e colocarem o sobrenome Valerian nos meus registros. - ela fez uma pausa. - O que há de errado em me chamar de Fleur Black? - acrescentou.

Naquele instante Vlad recordou do sobrenome de Natasha e lembrou-se da menina chamar chamar o avô de Gordon. Ele engoliu um nó em sua garganta e teve a certeza de que os traços de Fleur eram semelhantes a sua amada.

O brilho nas íris azuis... o olhar inocente... e o sorriso que muitas vezes olhos no seu próprio reflexo nos espelhos.

Quando Fleur virou-se para olhá-lo, assistiu ele com um semblante totalmente diferente, como a mesma face das pessoas que se deparam com algo que deveria ser surreal. A supresa estampada nas íris escuras de Vlad era tão notável quanto o corpo dela que tremia debaixo daquele temporal e mesmo usando aquele sobretudo encharcado de água.

- Está tudo bem, Vlad?

- Fleur... - ele fez uma pausa. - Você sabe o nome da sua mãe? - acrescentou.

- É Natasha.

Fleur levantou-se da pedra e aproximou-se dele. Ao tocar na mão de Vlad, ela sentiu um arrepio percorrer pelo seu corpo como uma pequena carga elétrica que foi o suficiente para fazê-la desmaiar. 

Assim que o corpo de Fleur atingiu o solo de terra, ele a carregou em seus braços e voou para longe daquela floresta. Vlad perguntava a si mesmo se era possível ter tido uma filha com Natasha e por que ainda não havera encontrado Mirena?

Era noite quando Fleur despertou e olhou aquele quarto parcialmente escuro. Ela levantou-se da cama e saiu do recinto. Após descer os degraus da escada, avistou Vlad sentado na poltrona com os olhos fixos na lareira. Ele estava totalmente desligado do que se passava ao redor e ainda não tinha sentido a presença dela.

- Vlad. - ela sussurrou enquanto ajoelhava-se na frente dele.

Ele abaixou seu olhar até encontrar as íris azuis de Fleur que tinha o mesmo brilho e inocência que Mirena carregava consigo. Vlad apoiou os cotovelos sobre suas pernas e disse:

- Você disse que gosta de histórias de fantasmas.

Ela sorriu.

- Eu tenho uma história para lhe contar.

- História de fantasma? - ela perguntou ansiosa.

- Também. - ele fez uma pausa. - Mais precisamente, é a história de um homem que ganhou a imortalidade para salvar sua amada. - acrescentou.

Era doloroso para Vlad relembrar do pacto que havera feito há muitos séculos atrás para lutar contra o exército Briel e tomar Mirena de volta. Mas nunca houve um crime perfeito e a tragédia deu-se início no momento em que bebeu o sangue de Baltazar e tornou-se imortal.

- Ele conseguiu salvá-la?

- Ele a salvou de todos que ousaram ir contra aquele amor. - respondeu. - Mas não conseguiu protegê-la do monstro que havera se tornado. - acrescentou.

Vlad contou a ela sobre cada dia da eternidade que viveu à procura da alma de Mirena. Ele assistiu muitas guerras e sofreu em todas as partidas de sua amada.

- E quando ele soube onde procurá-la para viver o amor mais uma vez, não a encontrou.

Ele assistiu as íris de Fleur se emaranhar de lágrimas e uma gota de água escorrer pela bochecha translúcida. Vlad secou a com seu polegar e disse:

- Desta vez, havia uma jovem órfã com o olhar e a essência de sua amada e o sorriso dele.

Fleur sentiu ele acariciar sua bochecha e notou uma lágrima escorrendo pela face dele. Ela retirou a mão de Vlad de sua pele, abaixou a cabeça enquanto uma dor aguda crescia em seu peito e disse:

- Eu não gosto dessa história, Vlad.

- De fato o amor equivale a dor. - ele disse levantando o rosto dela. - Agora sei que não há vida depois de você. - acrescentou.

Ambos estavam em uma cabana no sul da floresta, há mais de dez milhas da cidade e naquele momento, Fleur descobriu que ele era seu lar. Finalmente, ela havera encontrado o seu super-herói, o homem com quem sempre sonhou. Mas não era como imaginava, Vlad era um anti-herói, a fera que se alimentava de sangue e condenado a vagar nas trevas.

Fleur olhou mais uma vez para ele e assistiu as diversas lágrimas que escapavam de suas íris. Mas ela não estava observando o Drácula, era apenas um homem que fora condenado a sofrer eternamente à procura de sua amada.

- Você é meu pai? - ela perguntou incrédula.

- Eu só descobri está tarde quando você falou o nome de seus avós e de sua mãe. - respondeu. - Eu nunca soube que Natasha engravidou e... - ele fez uma pausa. - Agora eu te achei, Fleur. - concluiu.

Era difícil para ambos acreditar que tudo aquilo era verdade e que todas as semelhanças e conexões os levavam ao passado que sempre seria considerado um mito. Vlad sempre revivendo os melhores momentos à procura de Mirena, encontrou sua filha e tinha a certeza de que o mais importante era amá-la e protegê-la para sempre. Enquanto Fleur que desde sua infância sonhou com o seu anti-herói e implorava a Deus para que ele a salvasse de toda a maldade que a cercava.

Mas haviam perigos maiores e Baltazar ainda vagava entre mortais procurando por uma nova oportunidade de fazer Vlad cair na tentação de saciar-se do sangue de quem amava. Ele perguntava a si mesmo se o demônio sabia sobre a existência de Fleur? Ou se também continuava a procura de Mirena como Drácula o fez?

Você era tudo. Fleur disse a si mesma enquanto olhava ele ajoelhando-se a sua frente e recordava de quando alguém falava sobre o Conde Drácula o chamavam de assassino. Ela considerava Vlad como um amigo, mas o respeitava como pai.

Ele segurou a mão de Fleur e disse:

- Chega de lembranças e lágrimas silenciosas.

Vlad assistiu mais uma gota de água escapar das íris azuis dela. Ele secou a lágrima de Fleur com seu polegar, acariciou a bochecha da filha e disse:

- Eu estarei ao seu lado para sempre.

Drácula - O Prometeu ProibidoOnde histórias criam vida. Descubra agora