Morto Por Dentro

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Naquela manhã todas as adolescentes se dirigiram à biblioteca para cumprir as três horas de leitura enquanto a diretora conversava com os responsáveis das órfãs. Enquanto as jovens pareciam estar lendo, Fleur apenas folheava as páginas O Paraíso Perdido de John Milton.

Mais de mil palavras a frente daquelas íris azuis, mas a mente de Fleur se distanciava profundamente da realidade e voltava ao dia em que conheceu ele. Ela estava naufragando no oceano mais profundo da sua cabeça como se Vlad houvesse amarrado seu coração com correntes e levado para o quer que houvesse partido.

A dor é real. Pensou Fleur enquanto fechava os olhos e lembrava da noite anterior. Ela chorou enquanto assistia Vlad partindo naquele HB20 e abafou os soluços no travesseiro nada confortável de sua beliche.

- Olá. - disse uma voz feminina.

Fleur abriu os olhos e ao levantar suas íris avistou uma moça loira com o cabelo preso em uma trança e o rosto familiar.

- Eu conheço você? - ela perguntou confusa.

- Você não deve lembrar de mim. - ela disse puxando uma cadeira para sentar. - Eu vi você abraçando aquele homem ontem. - acrescentou.

- O Vlad? - ela perguntou curiosa.

- Ele é meio calado. - brincou. - A propósito, sou a Rosyln. - acrescentou estendendo a mão para ela.

- Fleur. - ela disse cumprimentando o aperto de mão.

Ela não lembrava de ter visto Rosyln na noite passada, as janelas do carro estavam totalmente fechados. A verdade é que Fleur tinha apenas concentrado Vlad em seu campo de vista na noite anterior.

- E ele ainda está chateado? - perguntou Rosyln. - Ele pareceu meio disposto a fazer algo irrevogável. - concluiu.

- Ele disse foi apenas se despedir.  - respondeu. - Disse que iria viajar e não voltaria mais. - acrescentou.

- Você precisa vir comigo. - ela disse puxando Fleur pelo braço.

Rosyln guiou ela para fora da biblioteca e atravessou a rua com o semáforo no verde. Ao chegarem no HB20, Fleur livrou-se das mãos da loira e perguntou:

- Qual é o seu problema?

- Eu acho que esse tal de Vlad iria fazer algo que poderia se arrepender.

- Ele foi embora. - afirmou Fleur.

- Eu o deixei na floresta. - ela fez uma pausa. - Mas se não chegarmos o mais depressa poderá ser tarde demais. - acrescentou.

Ambas adentraram no veículo e Rosyln dirigiu rapidamente por uma avenida movimentada. Fleur não sabia porque estava confiando em uma estranha, mas se ela estivesse certo sobre o que dizia em relação a Vlad precisava ajudá-lo.

Vlad fora um perfeito disfarce mortal para ela e suas palavras e conhecimentos mudaram a vida dela. Desde o dia em que o conheceu, Fleur sentiu uma afeição inexplicável e não fora diferente com ele também.

O medo de que Vlad cometesse suicídio fez ela sentir seu coração aumentar a frequência de suas batidas cardíacas, mas também sentia o órgão rezar para que não o fizesse. Fleur acreditava que alguém roubava as pessoas com quem se importava e desejava que desta vez, ele pudesse ser impedido ou salvo pelas mãos dela.

Rosyln já se encontrava na metade do caminho, quando as nuvens negras preencheram o céu acima e o barulho dos raios que cortavam o céu se tornava frequente. Fleur olhou as gostas da chuva cair sobre a cidade e recordou do dia em que seus avós a colocaram no Westminster.

Quando Rosyln estacionou o carro em frente a reserva da floresta, ambas desceram do veículo e adentraram na mata adentro. Enquanto caminhavam mais para dentro daquele lugar cheio de árvores, Fleur recordou de um sonho no qual corria sobre um local parecido com aquele debaixo da chuva e o vestido coberto por lama.

- Espere. - disse Rosyln impedindo-a de continuar o caminho.

Ambas avistaram a metade do corpo de um alce a poucos metros a sua frente. Fleur segurou a mão da loura e caminharam devagar, fazendo esforço para não fazer muito barulho e após andar mais um pouco se depararam com inimaginável. Rosyln tampou a própria boca para não gritar, enquanto a órfã ficou paralisada e totalmente sem palavras.

Era Vlad.

Ele estava com suas presas cravada na outra metade do animal que ambas encontraram a poucos minutos atrás.

- Vlad. - sussurrou Fleur.

Ele soltou o animal morto e ficou seus olhos nelas.

- O que estão fazendo aqui? - ele perguntou levantando-se do chão.

Rosyln recuou dois passos puxando a jovem junto e ele ficou parado olhando para as duas. Fleur assistiu o vampiro limpar seu rosto sujo de sangue com a manga longa da camisa escura que vestia. Vlad assistiu a neblina cair rapidamente sobre suas cabeças e cobrir parcialmente suas pernas.

- Agora você entende o meu nome e... - ele fez uma pausa. - O meu coração e a minha alma morreram há muito tempo. - acrescentou.

- Voce é morto por dentro. - afirmou Rosyln.

- Você trouxe a vida para minha vida novamente, Fleur. - ele disse aproximando-se dela. - Você é o anjo que veio para me tirar da escuridão. - concluiu.

- Por que você escolheu partir? - ela perguntou incrédula.

- Eu não sou um viajante imortal totalmente solitário. - respondeu. - Tem um ser sombrio que sempre está ao meu redor. - concluiu.

- Espere um momento. - disse Rosyln confusa. - Quer dizer que existe alguém mais perigoso que você? - perguntou.

Vlad perguntava a si mesmo por que Rosyln estava ali? E por que ela havera levado Fleur até aquele lugar? Ele precisava tirá-las debaixo daquela chuva.

- Vem comigo? - ele disse estendendo a mão para Fleur.

Silêncio.

Vlad consegui ver o medo nítido nos olhos dela.

- Sabe que não vou machucá-la. - ele disse avançando um passo.

Fleur grudou sua mão esquerda com a de Rosyln e com a direita segurou a dele. Vlad as guiou para o coração da floresta até chegar a um campo vasto de terra granulada onde há poucos metros havia uma cabana feita de tábuas.

Ao adentrarem na casa, ele acendeu a lareira e entregou uma toalha para cada uma delas. Fleur assistiu o vampiro fechar as janelas e enquanto observava Vlad colocando mais lenha na fogueira, com a voz trêmula, sussurrou:

- Obrigada.

Ao notar que ela estava tremendo de frio, Vlad a guiou para perto da lareira para que pudesse ficar mais quente. Enquanto enrolava Fleur em mais uma toalha, Rosyln disse:

- Não sabia que os vampiro eram gentis.

- As vezes as coisas não são como parecem. - respondeu. - Por que trouxe ela aqui? - perguntou curioso.

- Bom...

- Não briga com ela. - Fleur a interrompeu. - Foi eu quem pediu para ver você. - mentiu.

Vlad ajoelhou-se na frente dela e perguntou:

- Por que você...

- Você é meu super-herói. - ela o interrompeu.

Drácula - O Prometeu ProibidoOnde histórias criam vida. Descubra agora