As vezes, Vlad sentia que todas as suas memórias nunca aconteceram, porque todos esses séculos o tornaram morto e sem esperança. Sempre que o rosto de Mirena inundava sua mente com as lembranças dos momento felizes, ele naufragava em todas as recordações de quando a perdia.
A cada vida ele pensava que faria diferente, mas Mirena sempre partia lhe dando a esperança para a maldição quebrar na próxima reencarnação. Vlad queria apenas retornar de volta ao passado por uma noite e retroceder sua mordida ou o pacto com Baltazar.
Naquela manhã, Vlad sucumbiu à vontade de não lutar contra a maldição, de desistir de procurar Mirena e de não sentir-se bem ao lado de Fleur. Ele perdeu-se nas mortes de sua amada, porque ela era a única chave de seu passado que podia ajudá-lo a quebrar aquele ciclo vicioso.
Por breves momentos, Vlad imaginou que ela poderia estar no seu quarto do andar de cima, rabiscando seu caderno ou dançando e canforando em algum lugar abandonado de Westminster. Porque na noite anterior ele partiu do sol ter se manifestado, mas sem Fleur sua alma estava em buracos e corte profundos.
- Eu cortaria seus pés e mãos para não me seguir. - Vlad comentou aleatoriamente.
Mas aquilo não soou tão aleatório, ele queria partir antes de destruir a inocência e a vida dela. Vlad apenas queria liberta-lá de seus medos e das pessoas que a rodeavam antes que ela morresse na neblina obscuro o cercava.
- Para quem você ofereceu para sempre, Vlad? - perguntou uma voz masculina.
Ele levantou os olhos e assistiu Baltazar puxando uma cadeira para sentar. Vlad levantou-se do chão e caminhou em direção à janela da cozinha e assistiu o céu acima se fechar para o temporal.
- É na escuridão que você encontrará seu criador. - disse Baltazar com serenidade. - Eu. - acrescentou.
Vlad pensou em partir naquele instante. Ele iria embora no silêncio da noite, para um lugar onde não pudesse machucar ou iludir outro alguém.
- Eu não vou pedir para você ficar. - ele disse levantando-se da cadeira.
Vlad virou-se para olhá-lo e disse:
- Uma vez você disse que eu não sou um amante.
- Você não quer trazer isso à tona, Vlad. - disse Baltazar. - É nítido ver que você não suporta mais pensar na esperança. - concluiu.
Por um lado, Baltazar sabia que ele esteve afogando os próprios pensamentos no desejo de encontrar Mirena e viver aquele amor como um simples mortal. Mas agora o demônio havera notado que Vlad queria subir para a superfície e aceitar quem realmente era. Um monstro.
O vazio que Vlad sentia era uma lição por tentar ultrapassar barreiras que não foram feitas para mortais. Mas ele estava aceitando que deveria viver com todas as vidas que arruinou e que nada seria como imaginou.
- Vá descansar, Vlad. - disse Baltazar. - Você viveu mais luas do que qualquer imortal teria suportado. - ele fez uma pausa. - É hora de dormir para que daqui a mil anos possa retroceder a esta vida. - acrescentou.
Vlad assistiu o demônio retornado uma adaga com um detalhe dourado no cabo e lâmina prateada de dentro de seu casaco escuro. Baltazar entregou o objeto cortante ao vampiro e desapareceu em uma névoa negra.
Ele pegou uma mala colocou poucas roupas e as bolsas de sangue que tinha guardado em seu frigobar. Vlad pegou o celular e solicitou um Uber.
- Cinco minutos.
Vlad pegou a adaga que o demônio havera lhe dado e guardou dentro da mala. Por um momento, ele perguntou a si mesmo por que Baltazar carregava aquele objeto consigo?
Quando o Uber chegou em frente a casa de Vlad, ele adentrou no veículo e observou a motorista. Ela tinha o cabelo loiro preso em um coque no topo de sua cabeça e lábios pintados de vermelho.
- Você colocou uma parada no orfanato Westminster. - ela comentou.
Ele assentiu.
Durante a rota ao orfanato Vlad percebeu que ela estava o observando através do retrovisor, mas fingiu que não havera notado a curiosidade no olhar dela. Ela diminuiu o ar condicionado e parou quando o semáforo acendeu a luz vermelha.
- Eu nunca conheci um homem tão calado. - ela brincou.
Ao notar que havia conseguido a atenção de Vlad e seus olhos se encontraram no reflexo do retrovisor, ela disse:
- Me chamo Rosyln.
Ao perceber que ele não iria responder, Rosyln desistiu de puxar conversa. Ela apenas concentrou-se na estrada pouco movimentada e fechou as janelas do carro ao notar raios cortando o céu acima.
Não demorou muito para Rosyln cantar a música que tocava na estação da rádio de seu HB20 de cor vermelho:
- But I can't sleep next to a body (Mas eu não posso dormir ao lado de um corpo)
Even harmless in death (Mesmo inofensivo na morte)
Plus I'm pretty sure I'd miss you (Além disso, tenho certeza que sentiria a sua falta)
Faking sleep to count your breath (Fingindo dormir para te ouvir respirar)Vlad olhou curiosamente para ele e perguntou:
- Que música é essa?
- Olha só, ele fala. - ela disse observando ele de relance através do retrovisor.
Rosyln olhou para o painel e respondeu:
- Killer de Phoebe Bridgers.
Quando ela estacionou o carro em frente a Westminster, Vlad desceu do veículo e a avistou sentada sob o carvalho. Ele puxou abriu o portão e ficou parado observando Fleur rabiscar seu caderno.
Após breves, segundos Fleur levantou os olhos e ao avista-lo, jogou o caderno no chão e o abraçou. Vlad também a apertou em seu abraço e quando ela afastou-se notou que um sorriso surgiu no rosto dela.
- Por que veio a essa hora? - ela perguntou curiosa.
- Eu preciso viajar. - respondeu.
- Quando você irá voltar?
- Eu não vou voltar, Fleur. - ele fez uma pausa. - Eu...
Todas as palavras que Vlad tinha na ponta da língua, desapareceram quando avistou as lágrimas afogar aquelas íris azuis. Ele sempre esteve perdido no refrão dos fragmentos das vidas de Mirena, mas Fleur fixou mais do que um olhar inocente nele.
Quando Vlad se tornou um homem e pensou que apenas iria casar com uma simples camponesa e morreria como soldado do reino Dracul, isso bastava. Mas ele conheceu Mirena e em seguida, se tornou o que já mais pensou existir.
- Eu conheço a dor perfeita do amor. - ele fez uma pausa. - E você só irá aprender coisas piores que isto ao meu lado. - acrescentou.
- Por favor, Vlad. - ela sussurrou entre lágrimas.
Vlad secou as lágrimas dela com o polegar e disse:
- Nunca dome os demônios em sua mente, apenas coloque um coleira neles.
A verdade é que Vlad não viajou sozinho por todos esses séculos, o demônio sempre esteve em seu encalço e ela não poderia fazer o mesmo curso que o vampiro. Ele encontrava a paz para sua alma, apenas por breves momentos, Fleur merecia ser feliz e isso não aconteceria ao lado dele.
Vlad depositou um beijo na testa dela e caminhou em direção ao carro. Ele não olhou para trás, não suportaria olhar Fleur em lágrimas.
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Drácula - O Prometeu Proibido
Mystery / ThrillerApós a morte de Natasha, uma nova chance de amar e encontrar a alma de Mirena é concedia a Vlad. Ele viaja para Londre em busca da única lembrança da primeira vida enquanto procura pela sua amada em outro corpo. Dentro de um lugar que armazena diver...