Uma Cama de Rosas

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Naquele fim de tarde de terça-feira onde o sol já começava a se por atrás das colinas que estavam ha milhas de distância daquela velha cabana, e Fleur permanecia entorpecida pela dor nos braços dele. Vlad recusou-se tirar os olhos de sua filha para contemplar a noite que chegava, ele continuou fitando aquele par de iris azuis e acariciando os fios loiros do cabelo dela.

Mesmo quase sem vida, Fleur não deixou de notar as lágrimas que escapavam dos olhos dele. Ela contou cada gota de água que molhou o rosto de Vlad e disse:

- Quando você olhou para mim pela primeira vez. - ela sussurrou com a voz entrecortada. - Eu soube que havia uma conexão inexplicável. - concluiu.

Vlad engoliu um nó preso em sua traqueia, acariciou a bochecha translúcida dela e disse:

- Está noite você sopraria as velas e fecharia os olhos para fazer um desejo.

Mas nenhum dos dois iria sorrir naquela noite que se aproximava e Fleur não irá soprar as velas do seu bolo de aniversário. Ninguém iria cantar parabéns, porque ela estava perdendo a vida nos braços de Vlad e ele continuava sentado e chorando enquanto a segurava com o tempo que lhe restava.

Quem você seria? Ele perguntou a si mesmo enquanto lembrava de como Natasha era. Vlad recordou do quão corajosa, forte e inteligente a mãe de Fleur foi quando era viva.

- Agora sei quem eu teria de encontrar neste ano. - ele fez uma pausa. - Era o seu amor, filha. - acrescentou.

Poderia ter sido mais um dia do resto da vida de Fleur e uma coisa era evidente, ela possuía os olhos de mãe e o sorriso dele. Desde o primeiro olhar, Vlad havera notado os traços de Natasha e o gênio forte que sempre carregou consigo.

Dentro de algumas horas, Fleur seria apenas um pedaço do céu observando as escolhas e as consequências dele. Vlad apenas continuou observando ela, captando cada respiração e escutando cada batimento cardíaco enquanto o sangue deixava de coagular nas veias dela.

- Ainda lembro da tarde que passamos juntos. - ela fez uma pausa. - Nós cantamos Bed Of Roses e você me chamou de passeridae. - acrescentou com um sorriso.

Passeridae é uma espécie de ave passeriforme muito variada que inclui os pássaros designados por pardais do Velho Mundo. Mas também assemelha-se aos pardais do Novo Mundo e nos quais não são confundidos.

Logo aquele sorriso desapareceu para soltar um gemido de dor e Fleur voltou a ficar com o semblante sério. Vlad daria tudo, até mesmo a maldita imortalidade que lhe foi dada, apenas para fazê-la viver ou cessar aquele sofrimento. Ele queria que ela tivesse mais tempo para amá-la e mostrar tudo o que presenciou ao longo dos séculos em que vagou à procura da alma de Mirena.

- O mundo esta perdendo um lindo raio de luz. - ele disse acariciando o cabelo dela. - Mas eu estou perdendo um pedaço de mim. - acrescentou.

Mesmo com as lágrimas embaçando seu campo de vista, Vlad capturou aquele momento perfeitamente em sua mente e iria lembrar pelo resto de sua eternidade. Enquanto Fleur sentia sua vida desaparecer, ela percebeu que ele estava caindo mais rápido e mais fundo.

Eu poderia perguntar a mim mesma como chegamos a este ponto? Ela disse a si mesma enquanto tudo o que parecia ser era que Vlad era um humano também. Mas Fleur sentia aquele cena doer mais do que seu ferimento e aquilo tudo estava a matando lentamente.

Naquele instante, ela recordou do que Adam havera dito quando insistiu para que não continuasse ao lado de Vlad.

- Não percebe que a morte cerca vida de todos que se aproximam dele?

Quando Fleur retornou a realidade percebeu que já não tinha mais o controle e que quase não respirava mais. Ela fez o esforço para levantar o braço e tocou levemente na bochecha de Vlad e sentiu os pelos da barba que crescia espetar seus dedos.

Fleur escutou vozes sinuosas como as ondas do mar e destorcidas como as lembranças que se esvaiam em sua mente. Ela sentiu Vlad segurar o dorso de sua mão e beija-la na palma, e assistiu as lágrimas escorrendo pelo rosto dele.

- Eu posso ouvi-los me chamando.

- Oh minha passeridae...

- Eu espero vê-lo novamente, papai.

Vlad soube exatamente o instante em que o último vestígio de vida saiu de sua filha e esvaiu-se no ar úmido e congelante que pairava sobre sua cabeça. Ele segurou a mão de Fleur contra o seu rosto, desistiu de lutar contra a tristeza e transbordou.

Ah Deus, por que? Vlad sofreu em todas as partidas de Mirena, mas perder sua filha afetou todas as suas convicções sobre a tristeza e a solidão. Fleur havera mostrado a ele uma forma diferente de amar, e se pudesse voltar o tempo e antecipar-se teria morrido para defendê-la.

Vlad apertou a mão de sua filha contra seu peito e disse:

- Eu irei deita-lá sobre uma cama de rosas.

Vlad pegou algumas tábuas e martelou as com prego formando uma enorme caixa retangular um pouco maior que o corpo de sua filha. Em seguida, pegou a cortina de seda na cor vermelha que tinha guardada em uma das gavetas da cômoda e forrou o a parte interna do arquete. Após colher diversas rosas vermelhas do jardim, ele colocou o corpo de Fleur dentro daquele caixão improvisado e jogou as pétalas sobre ela.

Vlad pegou uma pá e cavou fundo. Ele fora além dos sete palmos e colocou a caixa com corpo de Fleur dentro no buraco e tampou. Terra por terra. O vampiro cobriu o caixão devolvendo cada grão escuro enquanto o céu era cortado por raios.

Quando Vlad retornou dentro da casa, ele acendeu a lareira e pegou o celular de sua filha. Após passar o dedo pelo visor do telefone à procura de um contato, ele aperto no botão chamar.

- Oi, Fleur. - disse uma voz feminina e animada do outro lado da linha.

- Rosyln. - ele sussurrou com a voz entrecortada.

- Vlad? - ela fez uma pausa. - Aconteceu alguma coisa? - acrescentou.

Silêncio.

Vlad sentou-se na poltrona que estava atrás de si e começou a chorar. Ele tinha que contar ela o que havera ocorrido, mas as palavras simplesmente não saiam de sua boca. Ao perceber que Drácula chorava, Rosyln perguntou:

- O que houve, Vlad?

- A Fleur... - ele fez uma pausa. - Está morta. - acrescentou.

- Onde você está?

- Na cabana.

- Estou a caminho.

Era quase 10:00pm quando Vlad assistiu ela adentrar na casa e correr para abraçá-lo. Enquanto o segurava em seu abraço e sentia as lágrimas de Drácula molhar sua camiseta, Rosyln também chorou.

- Você não ficará sozinho está noite. - ela disse acariciando as costas dele.

Vlad fechou os olhos e lembrou-se da tarde que passou ao lado dela. Fleur estava sorrindo como uma criança ao ganhar um brinquedo novo e a inocência nas íris azuis dela eram como músicas e poesias que ninguém conheceria.

- Agora ela está próxima de Deus. - afirmou Rosyln.

- Eu a deitei em um cama feita de pregos e coberta por seda e rosas.

Drácula - O Prometeu ProibidoOnde histórias criam vida. Descubra agora