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𝗢𝗳𝗶𝗰𝗶𝗮𝗹𝗺𝗲𝗻𝘁𝗲...

O vento gelado de início da primavera se chocava contra meus cílios e acabava fazendo com que arrepios surgissem por meu corpo inteiro. O sol já não se mostrava agressivamente ardente como se apresentava na estação anterior.

- Não estou sentindo todo esse calor! Desligue o ventilador - falei enquanto tentava criar forças para levantar de minha cama.

- Está maluca? Quer que eu ferva?! Que eu vire caramelo?! - Minha dramática companheira de quarto caminhava rapidamente por todos os cantos do quarto com finalidade de esfriar seu corpo.

- Está tentando dizer que é feita de açúcar? Me desculpe, mas não, você não é. Ah, e digo mais! Se continuar rondando por esse espaço minúsculo como uma idiota, vai acabar suando ainda mais - eu disse apenas o óbvio.

A garota apenas suspirou e se sentou na cadeira de sua escrivaninha. Segurou um pedacinho de papel e começou a utilizá-lo como se o mesmo fosse uma variação de leque abanador.

- Não é para estar com tanto calor assim! A primavera já chegou e o calor está ameno - falei desconfiada. - Você está doente?

Yen checou a temperatura de seu corpo posicionando a palma de sua mão em sua testa. Se abanou e checou novamente.

- Não sei! Não era para eu estar... Acho que devo estar com febre depois de passar a noite chupando gelo - falou pensativa. - Bem que você havia me avisado!

- Avisei mesmo, e não foi só uma vez! - Exclamei em alto e bom tom para que a garota se lembrasse de todas as vezes em que discutimos sobre adoecer morando em um dormitório onde não recebemos o mínimo de cuidados médicos públicos.

- Não precisa jogar em minha cara - a garota reclamou cruzando seus braços. - A culpa não é minha se sinto necessidade de me refrescar durante a madrugada...

- Então a culpa é de quem? Minha?

- Pare de ser chata, SNS! Vá logo para a aula e avise aos professores que estou doente e não poderei comparecer - Yen disse se acalmando. - Vou pedir a Soobin que o mesmo compre remédios para mim!

Sem dar mais atenção ao diálogo sobre saúde, juntei todos os meus ânimos e caminhei até o banheiro. Enquanto ouvia minha companheira de quarto mandar uma série de mensagens auditivas para seu namorado, liguei o chuveiro e fechei a porta. Era um costume meu me despir durante o tempo em que a água corrente de banho esquentava.

O momento de me higienizar fazia parte da série de coisas que eu caracterizava como prazeres da vida. Sentir o líquido quente se chocar com minha pele limpando todas as energias negativas que carrego enquanto penso em tudo o que já passei. Especificamente durante o banho daquela manhã, não consegui parar de pensar em como as coisas mudam tão repentinamente. Há um tempo eu odiava o garoto que amava no momento da reflexão. Tudo por conta de uma festa... De repente meu pai havia voltado para aterrorizar minha vida, mas logo foi juridicamente afastado. Descobri que gostava muito de ficar de vela quando se tratava do que Beomgyu chamava de "casal-grude". Descobri também que eu era bem mais forte do que imaginei.

Minha completa história universitária se passava como um filme em minha mente até me dar conta de que deveria finalmente abandonar todas as memórias e seguir em frente, pois é como o ditado aponta: "Eu nasci guerreira, não herdeira".

Me sequei ainda do lado interno do cômodo e vesti minhas peças íntimas também. Saí da área mais higiênica do dormitório e finalmente acabei de me arrumar.

- Estou indo para a aula. Você não vem mesmo? - Perguntei na intenção de confirmar a finalidade de minha melhor amiga.

- Não, o Soobin vem me trazer medicamentos logo - a menina disse se sentando no chão encardido.

- Tudo bem. Então te vejo mais tarde! Beijinhos, doente - aproveitei a situação para implementar um novo apelido à garota.

Chen apenas revirou seus olhos e sumiu de minha visão assim que cheguei ao corredor do prédio. Dentro de instantes eu já me via dentro de minha sala de aula anotando milhares de palavras mencionadas pelos mestres - as quais eu nem sequer sabia o significado.

O horário de meu período de estudos se passou como uma tartaruga atravessando a Rússia. Eu era burra, mas sabia que a Rússia era o país mais extenso de nosso planeta. História de amor também é cultura!

Quando finalmente fui liberada, procurei por Gyu pelos arredores de um dos prédios presentes na universidade, mas infelizmente não o achei por imediato. Tive de dar uma volta pelo campus inteiro para que pudesse encontrar o menino no local considerado mais especial por mim. Ele estava naquele jardim. No mesmo jardim de sempre.

- Oi, gatinha! Esperei por você.

O garoto segurava uma linda e - aparentemente - artesanal cesta de piquenique que expôs todas as guloseimas presentes nela. Beom vestia uma formal camisa azul e uma bermuda creme como se fosse um "mauricinho". Estava extremamente atraente.

- O que isso significa? - Questionei rindo sem acreditar na situação.

- Não sei. Por que não senta para descobrir? - Apontou em direção à toalha quadriculada que se encontrava estendida sobre a grama do espaço.

Segui a sugestão do garoto sem hesitar em momento algum. Choi fez o mesmo se posicionando em frente à minha face que expressava cansaço. Analisei todos os snacks que minha companhia havia levado ao encontro. Entre as bebidas pude enxergar uma garrafa de chá coado com amoras frescas.

- Você lembrou? - Perguntei segurando a embalagem com um sorriso idiota estampado em meus lábios.

- Claro que lembrei! Como poderia esquecer do dia em que escolhi meu par para a festa?

Ele realmente havia lembrado que eu bebia chá enquanto era convidada para a comemoração em sua casa. Eu estava agindo como uma boba! Só conseguia comer para que não sofresse com o perigo de dizer algo constrangedor a Beomgyu.

- Eu sei que a comida está boa, Man-yah... Mas preciso ir ao ponto - suspirou parecendo nervoso. - Você quer... ser... Você aceita oficialmente ser minha garota? - Segurou uma das minhas mãos abruptamente enquanto revelava um lindo par de alianças que juntas formavam o símbolo do infinito.

Gaguejei tanto que quase mordi a língua, mas não pude perder a oportunidade.

- É claro que sim! É claro! Sim, sim e sim! - Me entusiasmei sorrindo como uma maluca.

E assim o menino se aproximou com um abraço agudamente forte, o que me prendeu por muitos segundos.

- Obrigada. Obrigada por tudo! - Meu oficial namorado aparentava estar tão alegre quanto eu. - Eu nunca tive outra escolha. Desde que te vi pela primeira vez por aqui eu soube! Eu soube que era você, Lee Man-yah. Você é a mulher da minha vida. Me prometa que nunca irá me abandonar e eu te prometo que te levo à lua se for preciso - o menino acariciou meu pescoço com cuidado enquanto o gesto de carinho anterior se tornava levemente mais fraco.

- Eu prometo. Para sempre nós dois - levantei meu dedo mindinho tentando criar uma promessa simbólica.

- Nós dois para sempre - cruzamos nossos dedos estabelecendo o maior laço de nosso relacionamento até aquele instante.

𝐀𝐋𝐋 𝐎𝐅 𝐌𝐘 𝐒𝐎𝐔𝐋; 𝐜𝐡𝐨𝐢 𝐛𝐞𝐨𝐦𝐠𝐲𝐮Onde histórias criam vida. Descubra agora