-tem alguma recordação de quando era feliz?- eu nunca tinha visto aquela mulher em toda minha vida mas ela parecia familiar. nem sequer me lembrava de ter chegado até ela, tinha um vestido angelical e um sorriso - minha pequena, responda, lembra de quando era feliz?na hora eu simplesmente congelei, tentei carregar minha vida toda, procurei em toda memória possível, cada lembrança por mais alegre que fosse... eu não estava de fato feliz. era tudo uma atuação.
-então.. se lembra?- a mulher insistiu
-na verdade não- respondi
-então você sempre foi triste, certo?
e foi neste momento que realizei, eu sempre fui triste, sempre fui uma criança deprimida e infeliz. Sempre fiz o que os outros esperavam de mim e quando desisti de me esconder durante essas férias foi nisso o que deu, agora tomo remédios e me sinto cada vez afundando mais e mais. e por mais deprimente que isso seja, não me arrependo, acho que a vida não tem tanto valor como sempre dizem. para que vou gastar minhas forças com algo que vou simplesmente perder? memórias boas? nem sabemos para onde vamos depois daqui.
-querida ainda está aí?
balancei minha cabeça e a encarei
-estou.
-agora que entendeu que nunca foi feliz não se sente pior?
-porque me sentiria?
-você nunca aproveitou sua vida.
-e alguém aproveita?
-como?- ela pareceu confusa
-e no fim das contas alguém nesse mundo todo é de fato feliz? eu duvido muito. a realidade é que a vida só tem valor porque colocamos um valor nela. como qualquer outro objeto.
-resposta intrigante- um caderno surgiu em sua mão e a mulher começou a anotar - está me dizendo que a vida é muito valorizada?
-sim, não acho que ela vale isso tudo, tentamos sempre manter pessoas vivas sendo que o que vem depois pode ser muito melhor ou simplesmente não existir. podemos só nós matar e acabar felizes, limpos e serenos.
-então quer se matar?
-quero.
a mulher não pareceu preocupada ou muito menos surpresa
-compreendo...- ela anotou mais um pouco e depois olhou no fundo dos meus olhos - teria algo que gostaria de dizer para seus familiares?
-agora que me fez realizar que nunca fui feliz tenho sim.
-diga
-não fique triste porque fui em bora, sempre fui uma criança deprimida
-ok querida, aproveite o quanto te resta?
-o quanto me resta?
- quando você decidir que restará.- a mulher desapareceu e só sobrou um fundo preto, um vazio.
olhei em volta, andei um pouco e era tudo preto, tudo vazio, parecia que nem sequer tinha fim, eu estava sozinha. senti meus pés úmidos e quando me dei conta o chão estava molhado, a água começou a subir e a subir. como que estava enchendo tão rápido se aquele lugar era enorme?
tentei andar mas bati minha cara em uma parede preta qual não estava ali antes, tentei me mover para todos os lados mas eu estava presa em uma caixa preta. a água já batia em minha cintura. fechei meus olhos, não segurei a respiração nem nada do tipo, só relaxei e deixei a água me cobrir. logo fiquei sem ar, abri meus olhos e estava em minha cama.
-ei Nina!- Oliver invadiu meu quarto -festa sábado, você vai pois já te coloquei na lista.
-como é que é? amanhã? - me levantei meio zonza e com raiva
-sim.
-eu não vou! tire meu nome dessa merda de lista
-desculpa já coloquei, não tem como tirar!- ele sorriu e saiu do quarto
-eu não vou!- gritei
-vai sim!- Oliver respondeu com uma voz brincalhona
grunhi e revirei meus olhos, pelo menos hoje eu veria casey.
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Eu sempre estive sozinha
RomanceUma garota desenvolve depressão durante suas férias e volta a escola completamente mudada, não quer suas amizades superficiais de antes, nem sequer quer viver. no primeiro dia de aula ela acaba falando com uma garota, não porque escolheu e sim para...