odeio o câncer

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no almoço fui na mesa de meu irmão 

-toma- o entreguei a chave

-onde vai?- ele sorriu e disse bem alto para que todos ouvissem, o odeio.

-vou fazer um trabalho

-que? a professora não...- tampei sua boca com minha mão

-mas mandou para mim. vai almoçar.- me virei e sentei na primeira mesa com poucas pessoas que vi, até avistar Casey. ela estava dando uma de popular, conversando e forçando seus peitos contra a mesa para parecerem maiores do que ja eram. por um segundo ela me olhou e deu um pequeno sorriso de lado mas logo voltou a conversar temendo que alguém visse para onde ela estava olhando, no caso: eu.

seu nariz tinha uma curva perfeita, isso era irritante.

recebi uma ligação em meu celular, era de meu pai. comecei a pensar em tudo o que eu poderia ter feito de errado. sai para um lugar mais vazio e me apoiei em uma pilastra

-alô?

-Nina, vem para o hospital com seu irmão agora, já informamos a escola de sua retirada. só venham.- na hora meu coração falhou, congelei e queria muito chorar mas tinha que parecer forte.

fui até oliver com lágrimas nos olhos

-vem, vamos para o hospital- não precisei explicar, ele já sabia do que eu estava falando, só assentiu e me seguiu.

parei na mesa de casey

-eu não posso mais ir hoje depois da aula.- engoli a seco porque senti que iria desabar ali mesmo

-não vem com suas...- casey se virou e reparou em meus olhos cheios de lágrimas - você tá bem?

-não.- respondi e sai com oliver atrás de mim.



quando estava já no carro dirigindo notei que essa foi a primeira vez que respondi essa pergunta do modo mais verdadeiro possível. não precisei de gps para ir até o hospital, já tinha ido tantas vezes que tinha gravado. entrei e meu pai estava na entrada

-ele está vivo?- perguntei

-sim, por pouco, mas está.- meu pai respirou fundo- venham- ele nos levou até a sala 202. entramos e a primeira coisa que fiz foi correr até a cama onde meu irmãozinho estava

-miguel! como vai meu corajoso?- sorri mesmo querendo chorar pra caralho. ele tiha uma venda em um dos olhos, basicamente na metade de sua cabeça

-eu agora sou como o capitão gancho, tiraram um de meus olhos!- ele dizia isso com uma certa felicidade e isso era o que mais mexia comigo

me ajoelhei e o abracei

-te amo cara- o abracei o mais forte possível.

-calma, eu também te amo- ele retribuiu oi abraço e sorriu para mim - nini, quer ficar aqui de noite comigo?

-ainda vai ter que ficar no hospital?

-sim e mamãe quer ficar comigo- ele me puxou para perto e abaixou o tom de voz - mas você é mais legal

-ok carinha, vou conversar com ela.- fui até minha mãe - mãe, vou ficar com miguel aqui.

-que? sem chance! você tem aula amanhã. além de que ficará melhor comigo.

-eu também consigo chamar os médicos e o arrumar, sempre fiz isso

-ok mas é diferente porque...

-porque ele pode morrer- completei - eu sei mãe, e é por isso que eu deveria ficar com ele, não entende? posso nunca mais ter essa chance.

ela parou e me encarou um pouco 

-não vai o pertubar, ok?

sorri e a abracei

-obrigada, não sabe o quanto isso me faz feliz.

Eu sempre estive sozinhaOnde histórias criam vida. Descubra agora