– Me devolva o livro Daniel e podemos esquecer tudo o que aconteceu hoje, você pode revelar quem te fez fazer tudo isso e seja lá qual for o seu desejo nós podemos dar um jeito. – Carten mandou.
Daniel sorriu para ele e andou pela sala brincando com o livro nas mãos.
– Sabe, quando eu era mais novo, se lembra de quando arrumei uma briga fora do horário e então o outro garoto mal conseguia andar?
Ele não respondeu.
– É claro que se lembra, nesse dia você me deu quinze tapas no rosto, me obrigou a copiar a ridícula história da fundação exatas cento e vinte e sete vezes, e me deixou ajoelhado durante três dias inteiros, naquela época doía como o inferno, eu cheguei a te odiar muito.
Carten virou o rosto para evitar olhar no seu rosto, seu olhar refletindo as lembranças que ali pairavam.
– Fazíamos uma fila e você batia em todos, um por um, os treinamentos eram pesados e os nossos corpos ficavam cobertos de cicatrizes, algumas crianças eram burras o suficiente para tentar te matar durante a noite mas você nunca estava dormindo então a punição delas era dobrada.
– Onde quer chegar? – Carten indagou.
Daniel piscou algumas vezes inocente e mexeu em uma mecha dos cabelos castanhos de Carten.
– Quase lá, você já vai ver, antes disso eu estava nas ruas, quando te vi pela primeira vez pensei que fosse um milagre, fiz um amigo na época quando era ingênuo, ele roubou um pedaço de pão fora do horário e no dia seguinte o seu corpo foi exposto em praça pública, eu chorei por muitos dias depois disso e finalmente entendi como funcionava o sistema no orfanato, fazíamos luta livre em segredo para os anjos mais ricos, os mais inúteis iam para os laboratórios e os que quebrassem as regras eram severamente punidos, foi duro descobrir isso naquela época. – Ele disse em um tom de melancólia.
– Então você está fazendo tudo isso por minha causa, por quê eu não os protegi, por quê fui cruel?
Daniel o olhou por um momento, de repente ele levou a sua mão até a bochecha de Carten e a deixou ali enquanto acariciava o seu rosto, isso fez que um arrepio percorresse o seu corpo.
– Sua causa... eu desejei por muitas noites te matar quando era mais novo, imaginei como seria ver esse rosto que me odiava tanto coberto de sangue.
Normalmente Carten estaria muito irritado, ele puniria Daniel e o diria o quão insolente ele é mas agora ele apenas não consegui dizer nada.
– O quê está esperando então?
Daniel parou a mão na sua garganta e fitou os lábios do outro com uma atenção especial a cor rosada, após olhar por um tempo ele lhe deu um sorriso.
– Realmente quis te matar... mas depois eu descobri que você era o único disposto a distribuir remédios no orfanato.
– O que...
– Que depois de cada luta que a assembleia os obrigava a ter era você quem garantia que cada um fosse tratado, que você também foi criado nesse meio e que eles estavam usando a sua mãe adotiva para te chantagear.
Carten arregalou os olhos azul e castanho, a luz refletida nos óculos lhe dando um brilho especial apesar da pouca luz.
– Como você soube...
– E eu achava fofo o modo como você estudava todas as noites sobre leis para tentar convencer a assembleia a deixar de discriminar os demônios, você desviava fundos para ajudar nas rebeliões, e todas as vezes quando ninguém estava olhando depois de punir os orfãos você chorava em agonia como se cada um daqueles tapas tivesse sido em você.
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| Prazer, Seu Carma |
FantasyEm um mundo onde anjos e demônios são inimigos, Richard que é obrigado a fingir ser um anjo tem seu irmão morto e vai em busca de vingança, mas para isso acaba se juntando ao seu inimigo de longa data. "Por que você me odeia tanto?" "Eu nunca disse...