Capitulo 38

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— Olá tia Kaila — ela parou bem na minha frente tirando a minha concentração.
— Olá diabinha — fechei o livro, ela não iria me deixar ler mesmo.
— Eu vou ser bem direta — ela começou a falar imitando um adulto, o que vai aprontar agora? — eu não quero que você nos deixe. Então te proíbo de ir embora.
— O que? Mas quem te disse que eu vou embora?
— Escutei você falando com o tio Lúcifer.
— Ah, eu só estava ameaçando ele. Você sabe como ele é cabeça dura — apertei uma de suas bochechas — mas por que não quer que eu vá embora?
— Não é óbvio? Por conta do tio, oras. Desde que você apareceu ele ficou diferente.
Agora o assunto ficou interessante aos meus olhos e ouvidos.
— Diferente como?

— Bem, é uma longa história mas eu não tenho nenhum compromisso marcado pra hoje — ela arrastou uma das poltronas pra perto da minha e se sentou — quando eu me mudei pra cá o tio Lúcifer era muito terrível e mal educado. Os olhos dele me davam medo  e ele sempre estava muito irritado com tudo. Ele era um daqueles vilões dos desenhos que eu vejo, mas não aqueles vilões bobos e sim aqueles vilões impiedosos que destroem tudo e todos que atravessam o seu caminho.
— Sério? Pensei que vocês dois fossem amigos desde antes de eu aparecer.
— Calma, não apresse a minha história — a menina começou a balançar os pés enquanto o som dos trovões ecoavam lá fora — o tio raramente falava comigo ou com qualquer um exceto a tia Bety.
— Você adora chamar as pessoas de tios hein.

— Não me interrompa — ela entrelaçou os dedos das mãos, tomando uma postura filosófica. Essa menina não é normal não, se bem que ninguém aqui dentro é — foi então que eu escutei uma conversa dos dois, eles estavam falando sobre terem encontrado uma pessoa, alguém que eles estavam procurando a muito tempo e foi a partir desse dia que o tio Lúcifer mudou. Apesar do seu jeito ainda continuar intimidador, os olhos dele não me davam mais medo e então ele começou a passar cada vez mais tempo comigo já  que eu não tinha companhia. E eu tenho certeza que essa pessoa que fez ele mudar foi você, no dia em que ele te encontrou. Só não sei por que demorou tanto pra te trazer pra cá,
— Tem muita coisa estranha acontecendo aqui dentro — por que estou falando isso com uma criança? Ela sabe tanto quanto eu.

— Eu só quero que o tio continue sendo o tio atual. Nem que pra isso eu tenha que te amarrar aqui nesta casa — ela literalmente está me ameaçando.
— Não se preocupe, ainda vou ficar aqui por um bom tempo, eu acho. Mas eu não acredito que ele tenha mudado por minha causa.
— Não seja tola, ele sempre ri quando está com você. E acredite fazer o tio rir é algo muito difícil. Então pare de brigar com ele e se case logo — ela pulou da poltrona depois de dizer isso num tom agitado.
— Não precisa exagerar — também me levantei e fiz um alongamento enquanto bocejava, climas frios sempre me davam mais sono que o normal.
— Vou ir esperar o almoço, te vejo depois tia Kaila.

— Almoço? Mas você acabou de tomar café da manhã seguido de um copão de chocolate quente.
— Uma coisa não tem nada haver com a outra — ela desapareceu corredor a fora. Realmente é bem gulosa, o pecado da gula em pessoa, ou em criança.
Quando eu finalmente voltei ao meu quarto fui surpreendida por uma cena terrível, a janela próxima a minha cama havia sido quebrada por um galho seco de árvore e tudo estava extremamente molhado. A cama, o chão, as cortinas e até mesmo a penteadeira havia sido vítima da chuva seguida de ventos. Minha única reação foi chamar Bety já que ela era basicamente uma profissional em tudo.

— O vento quebrou o galho, mas não existem árvores próximas a sua janela, então suponho que o ganho veio voando em alta velocidade de longe e por isso causou esse estrago todo mesmo não sendo muito grande — analisou ela parada na porta ao meu lado.
— Bety, foco. O que vamos fazer?
— Deixe comigo, vou tapar a janela pra não entrar mais água, mas dormir aqui hoje vai ser impossível.
— E onde acha que eu vou dormir? No sofá da sala?
— Pode ficar no meu quarto se quiser — a voz do diabo ecoou nas minhas costas. Me virei e ele estava ali atrás da gente encarando a janela quebrada. Ele e essa mania idiota de chegar de fininho sem fazer barulho.

— Ah claro — Comecei a cutuca-lo usando o indicador — e quem garante que não foi você quem jogou aquele galho pra quebrar a janela?
— E por que eu iria danificar o meu próprio patrimônio? — como sempre ele enfiou as duas mãos nos bolsos da calça.
— Pra depois vir aqui com essa sua cara de pau me chamar para ir dormir com você.
— Foi isso que você entendeu? — ele começou a rir — então você acha que eu teria todo esse trabalho só pra sujar meus lençóis com o seu corpo?
— E lá vamos nós outra vez — disse Bety adentrando mais no quarto para começar a limpar a bagunça.
— Sim eu acho — continuei — mas isso não vai funcionar não. Você nem cogitou a ideia de me oferecer outro quarto e eu sei que aqui tem muitos, veio logo oferecendo o seu, muito oportunista.

— Mas você se acha muito gostosa mesmo né — Ele posicionou uma das mãos sobre o meu ombro e aproximou o rosto do meu — garotinha dos peitos de goiaba, eu não quero tocar nesse seu corpo. Só ofereci o meu quarto pelo fato de que ele é bem quente e caso não tenha notado o clima esfriou elmuito, foi apenas uma oferta de pena. Mas se quiser pode tremer a noite toda no sofá da sala, eu não dou a mínima. Ou durma em alguma caixa de repolhos, vai ser familiar para você.

Caixa de repolhos, o que esse retardado está insinuando, caso ele não saiba eu tinha uma cama antes de vir pra cá. Era uma cama bem desconfortável mas não deixa de ser uma cama. Espere aí.. caixa... é isso, como eu não pensei nessa chance antes? A caixa em baixo da cama do diabo, essa pode ser a chance perfeita para tentar abri-la e descobrir o que tem dentro.
— Que seja, eu vou dormir na sua cama e você vai dormir no sofá — falei o mais natural possível para não soar suspeita.
— Acho que não — ele voltou a posição anterior e começou a me encarar de cima — agora eu que não quero mais.
— Ah você quer sim, ofereceu agora aguente.
— Calma, eu estou apenas brincando. Mas saiba que vai dormir juntinha comigo, não tem essa de sofá não. Vai ser você e eu.

Meu Diabo FavoritoOnde histórias criam vida. Descubra agora