Capitulo 41

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— Eu estava usando um vestido branco e você ficou bem irritadinho, até ameaçou demitir a Bety. Eu me lembro bem de como você me olhou e adoraria saber por que fica tão traumatizado com cores brancas. Seria a fraqueza do diabo? — puxei outro nove. Agora tenho dezoito.
— Eu paro aqui, estou com vinte, essa rodada é minha — ele ignorou minha pergunta como sempre faz. Eu preciso de um três para poder vencer essa rodada mas minhas chances são bem baixas ao julgar pelo número de cartas existentes nesse baralho.

— Se não me responder eu vou começar a me vestir toda de branco.
— Não existem mais roupas assim nesta mansão — sua voz mudou.
— Eu consigo algumas — puxei mais uma carta, um dois. Agora ambos temos vinte. Mas como ele já parou cabe a mim puxar mais uma carta.
— Não, você não consegue e mesmo se conseguir eu rasgo junto com o seu corpo.
— O diabinho com medo de uma cor, que triste — puxei a última carta, aquela que definiria o vencedor da rodada e era o número um — VINTE E UM, DUAS CHINELADAS — Ergui os braços comemorando minha grande jogada.
— Que seja — ele estendeu a mão enquanto eu sacava o chinelo assim como um xerife saca sua arma.
— Podemos negociar isso, você me conta o por que odeia essa cor e eu dou uma chinelada a menos.
— Não vou entrar nesse assunto, ande logo Kaila.

— É só uma cor, por que não responde logo.
— Cale a boca — ele arremessou o chinelo com uma força descomunal e ele atingiu em cheio e TV do outro lado da sala, a trincando toda. Não havia percebido o quão irritado ele está a até aquele momento — esse jogo acabou — ele se levantou — não se meta nos meus assuntos, eu já disse. E pode ficar com a cama toda para você — ele saiu e bateu a porta. Tudo aconteceu tão rápido que eu fiquei ali parada sem entender nada, segurando o chinelo e as minhas cartas.

Era só a droga de uma pergunta, esse cara tem mesmo sérios problemas mentais. Que seja, eu não vim aqui para ficar de brincadeirinha com esse homem arrogante, as vezes me esqueço de como ele é. Mesquinho e descontrolado emocionalmente, é impossível ser civilizada com alguém assim. Fui para o quarto e a cama já estava arrumada para poder dormir, fechei a porta e girei o trinco da maçaneta, aqui ele não dorme de jeito algum. Que fique no sofá ou em qualquer canto gelado. Me deitei na enorme cama de casal e fiquei ali enrolada nas cobertas apenas fitando o teto de madeira polida. Os acontecimentos distintos da noite ainda  ecoam na minha mente, ele realmente gritou comigo, já havia feito isso várias vezes mas desta foi diferente, era real e não uma maneira de me intimidar.

— Kaila — ele bateu três vezes na porta — esse quarto é meu, abra a porta.
— Vá se foder, Lúcifer — gritei para que ele ouvisse bem.
— Preciso falar com você.
— Fale daí.
— Não, preciso te mostrar uma coisa. Vou te mostrar o motivo disso me deixar fora de controle. Me desculpe por fazer aquilo.
O diabo está pedindo desculpas? Como se isso fosse o suficiente para apagar aquela cega grotesca da minha mente.
— Não quero as suas desculpas.
— Então pelo menos aceite as minhas explicações.
Me levantei da cama e fui até a porta.
— E por que eu deveria acreditar que está falando a verdade? — posicionei a mão na maçaneta mas não a girei.

— Eu não tenho motivos para mentir pra você, na verdade acho que nem quero. Eu só quero que você me aceite do jeito que sou, mas eu ainda não sei quem eu sou. Sinto muito se te assustei.
— Me poupe — abri a porta e lá estava ele com as mãos nos bolsos — eu nunca vou ter medo de você, um arrogante imbecil.
Ele passou a mão direita pela minha coroa de tranças.
— Isso ficou muito bonito em você.
— Não mude de assunto.
— Eu não devia ter me irritado daquela maneira — ele enfiou a mão dentro da gola da blusa e puxou uma correntinha prateada contendo uma chave pendurada — vou te mostrar uma coisa que venho guardando a anos. Depois você decide se vai me desculpar ou não.
Era a chave da caixa em baixo da cama, tenho certeza disso. Lúcifer passou por mim e lentamente foi em direção a cama, era como se o seu corpo estivesse o empurrando para trás numa tentativa desesperada de o impedir de fazer aquilo. Talvez esses segredos o afetassem tanto quando o meu passado me afetava.

— Você quer mesmo fazer isso? — perguntei hesitante, apesar de querer descobrir sobre os seus segredos, o ferir no processo não era parte do plano mesmo ele merecendo isso.
— Não, eu não tenho. Más é necessário — ele abaixou e puxou o caixote debaixo da cama. Em seguida se sentou no chão de pernas cruzadas de frente para ele — vem, fique do meu lado.
Fiz o que ele me pediu e ambos ficamos ali sentados de frente para o caixote fechado e antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa ele girou a chave na fechadura do cadeado e este caiu no chão. Por alguma razão o meu coração começou a acelerar e o clima que antes era frio esquentou de repente, como se uma onde de choque quente estivesse saindo pelas fendas do caixote, trazendo segredos e revelações daquele homem que desde que eu conheci se denominava de Lúcifer, o diabo.
— Preciso que me prometa uma coisa — ele posicionou a mão sobre a tampa do caixote, se preparando para abri-lo.

— O que?
— Prometa que depois que eu te mostrar algumas coisas, você vai desistir de descobrir todos os segredos e vai confiar em mim. O que estou prestes a te mostrar envolve mais a mim do que a você, então é claro que você ainda terá dúvidas. Mas desista dessas dúvidas e confie em mim, não procure saber o que não precisa, pelo menos não agora. Ele estava me pedindo para desistir de tudo o que eu vinha fazendo? De descobrir o que tudo aquilo tinha haver comigo e por que eu era a chave de um plano oculto? Não sei se posso fazer isso, eu preciso saber, preciso de respostas e talvez não consiga esperar mais tempo para tê-las.
— Eu não sei se posso prometer isso — respondi cerrando os punhos sobre minhas coxas.

— Tudo bem então, mas prometo que vau confiar em mim e em tudo o que eu fizer, falar ou agir — ele não ficou bravo, isso sim foi uma surpresa, o que eu representava para aquele homem a ponto de estar vendo o seu melhor lado?
— Eu prometo — enfim estávamos ambos sendo sinceros em alguma coisa. Eu não prometi apenas para saber o que havia dentro da caixa, prometi pois sinto que ele está tão perdido dentro de si como eu estou. Ambos vagando sem rumo dentro da própria mente a procura de uma estrada para seguir. Não sei por que estou pensando essas coisas emotivas, eu não sou assim mas ele também não é. Talvez ficarmos tão próximos nesse tempo tenha mudado alguma coisa em nosso jeito de ser, isso pode ser desastroso, eu não quero gostar de ninguém... “não se apaixone pelo diabo” por mais uma vez escuto a voz de Morgana me alertando sobre isso.

Meu Diabo FavoritoOnde histórias criam vida. Descubra agora