— Bla, bla, bla. Para cada coisa ruim que ele me fizer, eu devolverei em dobro.
Alguns minutos se passaram desde que voltei ao meu quarto. Coloquei algo mais confortável e segui Bety até a grande lavanderia que ficava na parte de trás da mansão. Era uma área aberta repleta de máquinas diferentes, uma com cada função e eu não entendi nada daquilo. Haviam outros funcionários também, todos andando de um lado para o outro cumprindo suas funções.
— Não tem um varal por aqui? — perguntei, enquanto andava atrás de Bety entre uma fileira de máquinas. O cheiro ali era bem confortável, uma mistura perfumada de vários produtos de limpeza.
— Varal? Por que teríamos um?
— Bom, para secar?
— Senhorita, temos várias máquinas apenas para isso. Esta vivendo em qual século?
— No século em que nem todos conhecem essas máquinas aí. Comigo o trabalho sempre foi braçal.
— Você não pertence mais a esse século, ainda não entendeu?
— Pra ser sincera, ainda não — Bety levava consigo um cesto de roupas e eu fazia o mesmo, mas o meu estava bem leve pois só possuía as poucas roupas que eu havia usado desde que cheguei na mansão.
Paramos próximo a uma máquina de lavar e ali despejamos as roupas. A máquina se encheu sozinha de água e de produtos.Tudo automaticamente e até mesmo o seu barulho era suave. Fiquei observando as roupas girando através do vídro arredondado em seu centro, era a primeira vez que via uma daquelas pessoalmente, sem ser pela tela da TV naqueles comerciais irritantes.
— Satisfeita? Se quiser, já pode ir — disse Bety me observando.
— Não tenho nada para fazer nessa manhã e não quero acabar me esbarrando com você sabe quem.
— Seria melhor se continuasse aprendendo mais sobre a mansão, não acha?
— Sim, mas... — fui interrompida pelo tablet vibrando. Era uma notificação de tarefa — Droga.
— O que houve?
— Nada, é só uma tarefa idiota para ganhar alguns pontos e subir o meu nível, ainda estou no um.
A tarefa dizia: Uma Garota Pontual. Seu Café Da Manhã Está Pronto. Vá Para O Seu Quarto Antes Do Tempo Acabar. Assim como na tarefa anterior, havia um marcador com um tempo específico até a tarefa expirar. Me despedi de Bety e comecei a fazer todo o trajeto de volta até o meu quarto. Por que diabos tinha que ser logo no quarto? Não podia ser na sala como na tarefa anterior? Ao passar pela porta, a tarefa foi concluída mas o meu nível ainda continuava o mesmo.
— Senhorita — uma voz masculina veio de trás de mim, era um dos mordomos segurando uma bandeja tampada.
— Olá.
— Tenho ordens para deixar isto na sobre a sua cama, se me da licença — abri espaço para que ele pudesse adentrar no quarto e fazer aquilo que lhe foi ordenado. Em seguida ele saiu as pressas como se ainda tivesse que fazer mil e uma coisas, e talvez tivesse, vai saber se aquele povo todo não estava sendo explorado pelo tinhoso de terno.
Andei até a cama e destampei a bandeja, revelando um pedaço de pão seco amassado. Ao lado havia um bilhete:Para o meu amor, feito por mim. O pão que o diabo amassou.
Nossa, como o idiota é gracista, devia pegar esse pão e socar no rabo dele. Nem fodendo que vou comer isso, um pão feio e amassado por aquelas mãos nojentas daquele tosco. Pelo menos pude cumprir minha tarefa, quem sabe na próxima o meu nível suba e eu possa explorar um pouco mais da mansão, novas áreas e cômodos. As tempo passou rapido e logo já era hora do almoço, até que enfim, estou com fome. Desço para a sala de jantar antes mesmo de qualquer funcionário me chamar e ao chegar no local me deparo com Horrania sentada em uma das cadeiras que ficam em volta da grande mesa de mármore. Mas não era só ela que estava ali, Lúcifer também, e ao seu lado Morgana, sempre esbanjando elegância. Ela sorri para mim ao me ver chegar.
— Kaila, que prazer te ver novamente.
— O prazer é todo meu — me sento na cadeira ao lado de Horrania.
— Oi tia Kaila — disse a menina me surpreendendo, tia Kaila? De onde essa ela tirou isso.
— Não chame qualquer uma de tia, Horrania — o diabo logo me alfinetou enquanto mexia com alguns papéis parecidos com documentos.
— Como esta indo a sua adaptação ao lugar? — perguntou Morgana.
— Aprendendo aos poucos — respondi.
— E roubando aos montes — novamente o diabo me atentou.
— Estou tentando não fazer coisas erradas, entende — hora de revidar — correndo de erros igual o diabo corre da cruz.
Em alguns minutos a mesa se encheu com vários pratos diferentes, garçons andando de um lado para o outro, trazendo taças e talheres. Horrania era a mais animada com toda aquela comida, a pestinha gostava mesmo de comer e a todo tempo trocava olhares com seu pai que trabalhava na cozinha.
— Bem, o que estão esperando? — perguntou Morgana — sirvam-se.
Fiquei observando disfarçadamente tudo o que ela iria colocar em seu prato, para fazer o mesmo, trocando apenas algumas coisas para não dar muito na cara.
— Hora da oração do almoço — Falei, chamando a atenção de Lúcifer que me deu uma encarada fatal. Vai aprender a não me provocar na frente das pessoas.
— Vamos comer. Coma tudo Horrania, sei que você adora mastigar — continuou ele fingindo que eu não havia dito nada.
— Senhor meu Deus e meu pai — fechei os olhos, nunca havia orado em toda a minha vida, mas posso me esforçar agora, apenas para irritar o capeta — abençoe o nosso almoço e condene ao fogo do inferno todo diabo malcriado e chifrudo. Amém.
— Amém tia Kaila — falou Horrania com pressa, não sei se era por que gostava de orações ou se era por que queria comer logo. Evitei olhar para Lúcifer ou para Morgana, vai saber se a oração não havia afetado suas aparências humanas. Se é que são o que dizem ser, tenho minhas dúvidas em relação a essas coisas religiosas.
— Em qual nível se encontra agora? — Morgana parecia bem interessada em me fazer perguntas.
— Nível um.
— Ela não está falando sobre o nível de classe — o diabo sorriu disfarçadamente. Eu podia enfiar um garfo inteiro dentro do olho dele.
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Meu Diabo Favorito
Romance#20 Em Romance! "Nem Deus Poderá Salva-la Dos Meus Desejos Mais Sombrios" Kaila vê sua vida virar de cabeça para baixo após receber um pergaminho misterioso vindo de um sujeito que se diz ser o próprio diabo. Descrente e sem muita escolha, ela assin...