Capitulo 11

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— Eu não sei, um pedaço dele, talvez? A questão aqui não é inteiramente essa. Quero que saiba de uma coisa que eu mesma reparei ao longo dos anos que trabalho aqui.
— Que seria?
— Lúcifer nunca entra aqui. Não importa o que aconteça, não importa a situação. Ele não se permite passar pela entrada. Espero que entenda onde quero chegar.
— Um refúgio... entendi — ela está me claramente me dizendo que posso me esconder aqui neste Jardim se necessário. Mas por que eu faria isso? Será que em algum momento terei que sair correndo das mãos daquele tirano? Ele tentará me matar? Bem, não sei.
— Não deixe que ele saiba que você sabe, pelo menos não ainda. E nunca diga quem te contou isso.

— Eu nunca diria, obrigada. Mas por que está sendo tão boa comigo?
— Bem, nesse covil, alguém tem que ser. Agora vamos voltar e trocar suas roupas, depois vai ter tempo suficiente para explorar os arredores da mansão.
— Existem mais coisas a serem exploradas?
— Sim, alguns lugares vai poder acessar, outros não.
— O de sempre — faço careta.
— O de sempre — ela sorri. Sinto que aqui dentro seremos grandes amigas.
Retornamos para dentro da mansão e neste curto período de tempo todo o cenário se tornou mais calmo e silencioso, quase não vejo ninguém além de uma moça aparentemente muito jovem carregando um quadro de tamanho médio.
— Aqui tem muitos quadros — comento com Bety enquanto caminhamos em direção a escadaria.

— Sim, alguns eu nem sei identificar o que está estampado — ela sorri.
Fazemos o mesmo trajeto de volta até o quarto e faço questão de memorizar cada corredor, cada detalhe, parede e bifurcação a ponto de não me perder quando for preciso sair do quarto sozinha.
— Vou deixá-la sozinha. Volto em alguns minutos com algo que irá te ajudar em sua exploração pelos arredores — Bety da meia volta enquanto adentro novamente em meu quarto que agora está bem mais iluminado que antes. A cama foi arrumada e os lençóis trocados, não existe nada fora do lugar e eu posso facilmente me acostumar com esse tipo de coisa. É muito mais satisfatório do que ficar em um pequeno cômodo velho em um apartamento velho repleto de pessoas velhas me cobrando o aluguel atrasado. Vasculhei as peças de roupas, passando os cabides de um lado para o outro, abrindo gavetas aqui e ali até encontrar  algo que me pareça confortável de se usar. Escolho uma blusa preta com um diagrama estampado na parte da frente e visto também um short jeans sem bolsos. Minutos depois Bety adentra no quarto segurando algo que parecia ser um tablet negro.

— Coloque isso — ela me entrega um acessória que mais se parece um relógio. E de fato era, marcava as horas em sua pequena tela plana e nas laterais haviam alguns botões.
— Por que preciso de um relógio?
— Não é um relógio qualquer, é um rastreador.
— Ah, ótimo.
— Não reclame, ainda não sabe sua real função.  Veja — ela ergueu a mão que segurava o tablet e ligou sua tela, nela mostrava a planta da mansão junto com minha real localização — agora você pode andar por ai sem se perder. Também pode ver os locais que não pode entrar, sem contar que existe uma aba que mostra seus pontos e progressos. Conquistas, areas que você pode desbloquear usando seus pontos e etc.

— Esse idiota realmente gosta de jogos hein. Isso tudo parece um videogame. Pontos pra isso, pontos pra aquilo. Vou fazer tudo isso acabar antes mesmo dele imaginar.
Após rolar o dedo de lá para cá, aprendi algumas coisas sobre o sistema daquele Tablet. Haviam várias abas contendo informações para me auxiliar dentro daquele joguinho sórdido criado pelo demônio. Em uma dessas abas encontrei uma personagem e acima de sua cabeça estava o meu nome.
— Está de gozação??? — Virei a tela para Bety.
— Isso é você, ou quase. Pode personalizar ela da maneira que você quiser, para que se pareçam mais. Olhos, cabelo, roupas. Mas se olhar bem, no canto esquerdo verá o seu nível.

Procurei e realmente estava lá, o pequeno número um no canto superior esquerdo.
— Deixe eu adivinhar, Lúcifer é quem vai gerenciar os meus pontos e níveis?
— Quase isso, o patrão controla todo o sistema, então quando ele receber os relatórios de como você está se comportando, ele irá calcular e distribuir de acordo com o seu merecimento. Mas essa não é a única maneira de conseguir pontos, você pode fazer isso indo a suas aulas que começam na semana que vem. Indo na academia e fazendo certas atividades nos horários corretos. Se procurar mais, vai ver outras abas contendo tudo o que precisa saber sobre subir os níveis.
— Sabe me dizer se eu posso ligar para alguém? Tipo para a minha amiga?

— Ligações podem ser desbloqueadas também.
— Que merda — literalmente eu precisava contar tudo aquilo para a minha amiga, ela iria surtar quando soubesse de tudo.
— Você não pode contar nada sobre o patrão para ninguém — Bety pareceu adivinhar o que eu estava pensando.

— ATÉ ISSO? — Me joguei de costas na cama, indignada.
— Sim, nada sobre ele ou o contrato. Mas pode inventar alguma mentira para justificar sua riqueza repentina. Mas não se preocupe com essas coisas agora, foque em explorar a casa agora que têm um mapa, aprenda sobre as abas, sobre sua personagem, sobre os níveis e depois falamos mais sobre o mundo lá fora.
— Ok — Pulei da cama — vou explorar melhor, aprender tudo sobre as localizações. Ergui o Tablet novamente mas ele havia desligado. Procurei botões mas não achei nenhum — onde liga ele?
— Comando de voz, basta dizer: Escrava do Lúcifer.
Não resisti a dar uma boa risada daquilo, mas meu sorriso logo sumiu ao ver que Bety continuava seria.
— Estou falando sério, se falar isso, o Tablet liga.

— NEM FODENDO. Como eu troco esse comando de voz?
— Só o patrão pode fazer isso. Tente pedir a ele hoje a noite na hora do jantar.
— Vou ter que jantar com ele?
— Sim, dessa vez você não escapa. Ele vai te fazer perguntas sobre tudo o que aprendeu hoje, sobre a mansão, sobre os níveis e etc. Por isso peço que foque na exploração e tente decorar o máximo possível. Pode chegar ao nível dois ainda hoje. Bem, devo voltar aos meus afazeres, acho que por hora você não precisa mais de mim.
— Escrava do Lúcifer — Falei próximo ao Tablet e ele realmente ligou — fazer isso é a mesma coisa que virar a bunda para um enorme galho pontudo de árvore. Aquilo fez Bety sorrir.

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