— Quer que eu traga o seu almoço? Ou irá descer para a sala de jantar?
— Almoço? Quantas horas são?
— Já passa do meio dia.
Bety está usando um uniforme tradicional de empregada, sempre achei aquelas roupas uma gracinha. Ela possui uma expressão cansada e aparenta ter uns trinta e sete anos. Seus cabelos negros estão amarrados para trás e ela me olha como se eu fosse sua dona.
— Onde ele está?
— Quem?
— Lúcifer.
— Na sala de jantar.
— Ele tem chifres? asas? rabinho vermelho?
Bety sorriu, mesmo eu falando em um tom serio.— Você logo vai descobrir.
— Ele é mesmo satã?
— Não tenho permissão para falar sobre esse assunto.
— Tem alguma rota por onde eu possa fugir sem ser vista?
— É impossível fugir daqui. A mansão é cercada por um muro de pedra e os portões são vigiados por quatro seguranças.
— Então estou em uma mansão...
— Você ainda não me respondeu.
— O que?
— Sobre o almoço. Quer que eu traga ou irá descer?
— Traga para mim, por favor.
De maneira alguma irei descer e ficar cara a cara com o diabo. Vou evitar esse encontro com todas as minhas forças e se possível fugirei daqui.— Você não vai conseguir evita-lo por muito tempo — Bety pareceu ler meus pensamentos.
— Por que acha que estou evitando alguma coisa? — tentei disfarçar.
— Está na cara. Vou buscar o seu almoço, está vendo aquela porta — ela apontou para uma porta cor de rosa que havia ali no quarto — é o seu banheiro, caso precise usar.
Eu possuía um banheiro que aparentemente era só meu, as vantagens estavam começando a aparecer. Bety deixou o quarto e eu aproveitei para analisar todo o local.É grande e luxuoso, a minha cama possui um bom tamanho e o dossel rosa a deixa muito elegante. Ao lado da cama há um criado mudo e sobre ele um pequeno caderno de anotações. Também há uma penteadeira, um guarda roupas e uma pequena estante com alguns livros bem enfileirados. Estou coberta por um edredom vermelho e nele vejo alguns desenhos de coroas. Me sinto até uma rainha ou algo parecido. Ao me levantar percebi que não usava as roupas do dia anterior, agora é um pijama marrom. Onde foi parar a droga da minha roupa e quem colocou isso em mim? As lembranças estão voltando aos poucos, me recordo de que alguém estava ali comigo de madrugada, alguém que teve a cara de pau de beijar meu queixo.
Só pode ter sido o maldito Lúcifer, quem ele pensa que é para fazer aquilo e o pior, trocar minhas roupas. Fui em direção ao banheiro e abri sua porta, tenho muitas coisas para falar para aquele pervertido mas antes preciso escovar os dentes. Me surpreendo ao ver o tamanho do banheiro, é enorme e cheio de acessórios que eu não faço a menor ideia pra que servem. Ao fundo pude ver uma banheira linda e aquilo me atraiu mais que tudo. Mas não posso me deixar levar pela vontade de entrar nela e ligar a agua, ainda não. Na parede perto a pia tem uma prateleira repleta de objetos e um deles é um porta escovas. Isso facilitou tudo.
Ao sair do banheiro voltei a explorar o quarto e só agora percebi a enorme janela próxima ao guarda roupas. Ela se encontra coberta por uma cortina vermelha, estou curiosa para saber qual cenário me espera ao abri-la. Mas antes que eu pudesse puxar a cortina alguém me chamou, era a voz de Bety.
— Kaila.
— Oi — me virei para ela.
— Temos um problema.
— Qual?
— Lúcifer exige sua presença no almoço e disse que se você não for ele virá te buscar da pior maneira possível.
— Como assim ele exige? — meu coração acelerou e aquilo estava começando a se tornar cada vez mais frequente.
— Ele quer que você desça para almoçar com ele.
— Por que?— Conversar, eu acho.
— Não há nada que eu queira conversar com o diabo.
— Você não tem escolha então vamos logo antes que ele venha até aqui. Gostei de você mas não vou correr riscos por sua causa. Você me entende, certo?
— Vocês parecem ter muito medo dele.
— Vocês?
— Sim, o motorista que me buscou aparentava ter esse mesmo medo que você esta demonstrando agora.
— Não é medo.
— O que é então?
— Falamos disso depois.
— Sei.
— Vamos vestir você adequadamente — ela andou até o guarda roupas — não pode ir almoçar usando esse pijama.
— Eu não vou descer.
— Você não vai querer provoca-lo. Acredite.
— O que ele vai fazer? Me mandar para o inferno?— Pior... Agora vejamos, qual sua cor preferida? — ela começou a revirar as dezenas de cabides.
— Preto.
— Essa também é a cor preferida dele — ela puxou um vestido rodado da cor que eu havia falado.
— Mudei de ideia, gosto de branco — dei um largo sorriso encarando Bety. De maneira alguma eu usaria algo que agradasse Lúcifer.
— Por que está fazendo isso?
— Isso o que?
— Está fazendo o oposto de tudo o que devia fazer. Se não gostou da ideia de vir para cá por que assinou o contrato?
— Como eu saberia que tudo era verdade? Como iria adivinhar que horas depois de assinar, o motorista de satã iria me buscar?
— Pois agora aceite as consequências ou terá piores. Acredite em mim, eu só quero o seu bem. Vai usar preto.
— Branco.— Preto.
— Branco.
— OK, preto então. Vamos fazer as coisas do seu jeito — ela deu um sorriso estranho e em seguida voltou a revirar os cabides.
— Por que você riu?
— Nada.
— O que vai acontecer se eu usar branco?
— Você vai ver.
— Ele não vai fazer nada, vai?
— Oras, isso não estava te preocupando até agora a pouco. Se quer bancar a garota durona então vai ter que aguentar as consequências disso. Se não notou ainda assinando aquele contrato você deu a ele o direito de fazer o que quiser com você.
— Eu quero o que foi me prometido. Dinheiro, muito dinheiro.— E você vai ter. Se é que já não tem uma conta bancaria bem gorda criada no seu nome. Lúcifer cumpre todos os seus acordos.
— Então eu pego o dinheiro e fujo para bem longe daqui.
— Não é assim que as coisas funcionam. Achei — ela retirou o vestido branco e me entregou.
— E como funcionam?
— Ele não vai te dar o que você quer agora. Você vai ter que sentir o gosto amargo de entrar nisso tudo e ele vai cuidar direitinho para que isso aconteça.
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Meu Diabo Favorito
Romance#20 Em Romance! "Nem Deus Poderá Salva-la Dos Meus Desejos Mais Sombrios" Kaila vê sua vida virar de cabeça para baixo após receber um pergaminho misterioso vindo de um sujeito que se diz ser o próprio diabo. Descrente e sem muita escolha, ela assin...