— Sim, eu fiz isso mesmo mas em momento algum eu colocaria a vida de uma criança em risco...
— Você não sabe nada — o tom da sua voz ficou extremamente seco — a minha filha estava prestes a morrer bem nos meus braços e ninguém queria me ajudar. Fome, sede, frio. Você sabe como é se sentir incapaz enquanto segura sua filha magra e desnutrida nos braços? Ele salvou a vida dela e se for preciso eu o servirei até no inferno por isso, desde que eu a veja feliz. Você a viu, bochechas rosadas e saudáveis, roupas lindas e toda a comida que ela quiser. Sou grato e não há mais nada que eu possa dizer.
Então eles estavam mesmo a beira da morte, mas ainda assim aquela ação de dar a filha foi muito irresponsável. O que seria dela agora, nas mãos do tirano. Quais eram os planos dele para aquela criança? Isso era algo que eu precisava descobrir, quem sabe até mesmo a livrar de um futuro caótico. O tempo foi passando enquanto eu fazia diversas coisas pela mansão, como observar os quadros e tentar entende-los, mas ao meu ver eram um monte de pinturas estranhas e assustadoras, aquilo era arte? Quando o sol já estava se pondo, subi para o meu quarto e tomei um bom banho demorado, acho que só preciso de um banho diário. Nada de tomar vários banhos iguais aquelas patricinhas mimadas que andam todas nadando em cremes e perfumes, não sou assim.
Saio do banheiro sem roupa alguma e um calafrio percorre todo o meu corpo, olho de um lado para o outro, não tem o que temer pois o quarto está vazio e me certifique de trancar a porta. Mas porque do calafrio? Como se algo estivesse escondido nas sombras me observando? Talvez seja coisa da minha cabeça. Mas para me prevenir, volto ao banheiro e me enrolo na toalha. Fiquei alguns minutos passando os cabides de um lado para o outro, a procura de algo para usar no jantar, preciso de algo confortável mas ameaçador ao mesmo tempo. Não quero me vestir como uma princesinha mas também não quero parecer um ogro. Vai ser isso, ótimo, um vestido negro de tamanho médio, liso sem nenhum detalhe. Batom, vejamos, preto também, adorável.
Alguém bateu na porta e para a minha sorte era apenas Bety, segurando um cesto de recolher roupas.
— Vim buscar suas roupas do dia, estão no banheiro, certo?
— Sim, mas... pra que?
— Amanhã é dia de lavar as roupas.
— Lavar tudo? Tipo... calcinha???
— Oras senhorita Kaila, acha que nunca lavamos uma calcinha antes?
— Isso é constrangedor...
— Tão bruta por um lado mas tão meiga por outro, que fofa — Bety parecia se divertir com aquela situação.
— Haha, muito engraçado.
— Vamos fazer assim, eu levo suas calcinhas para a lavanderia e amanhã a gente lava juntas, eu lavo a roupa comum e você as intimas, gostou?
— Ótimo, gostei.
— Aliás, o patrão quer que você se junte a ele para o jantar em cinco minutos.
— Ele que espere, quando eu descer para a sala de jantar irei falar poucas e boas na cara dele.
— Não, não vai ser na sala de jantar, ele quer um jantar com total privacidade. Apenas ele e você.
— O que??? Não me diga que o jantar será no...
— Sim, no quarto dele.
O PÃO QUE O DIABO AMASSOU
— Não, não e não. Isso é uma tremenda armadilha, eu não vou.
— Amarelou, senhorita Kaila? Parecia tão convicta a colocar o diabo contra a parede — Bety riu.
— Isso, ria mesmo. Não é o seu rabo que está em jogo. E se ele me prender e tentar, você sabe, transar comigo.
— Não, ele não vai transar com você, ele vai mesmo é te foder, como dizem os jovens de hoje.
— Nossa, obrigada, me ajudou bastante. Tem mais alguma coisa que queira dizer?
— Ele não faz amor, ele fode gosto...
— Não — não resisti e dar uma boa risada — não ouse terminar essa frase ou eu mesma te coloco no olho da rua.
— Se fizer isso quem vai te ajudar na guerra contra o diabo? Agora vá logo ao jantar e não se preocupe, ele só quer te fazer mais perguntas, te intimidar e assustar. Não vai tocar em você.
— Se ele me tocar eu espremo os ovos dele com tanta força que ele vai se arrepender de ter saído do inferno.
Andei pelos corredores do andar de cima enquanto seguiam a minha localização pelo mapa no tablet. O quarto do tinhoso estava perto, logo após passar pelo salão de musica, era uma porta vermelha com um tridente cravado nela. Nossa, que original, ele merece um prêmio por isso. Me aproximo lentamente, quanto mais perto estou, mais longe gostaria de estar. Suspiro, encarando os demais detalhes cravados na porta. Bato três vezes e me arrependo de cada batida.
— Está aberta — misericórdia, a voz veio de trás de mim. Como assim ele não está lá dentro? Por que esse idiota está atrás de mim??? — Não sabe abrir? — ele pergunta e dessa vez o tom está mais alto, ele se aproximou. Vejo sua mão passar por cima do meu ombro, indo em direção a maçaneta. Ele abre a porta e a empurra, sinto seu corpo encostando no meu e entro rápido sem nem ao menos olhar para trás. O quarto está com a iluminação baixa e tem uma lareira muito linda acesa no canto direito. Espera, aquilo não é um quarto, tem uma TV chumbada a parede, dois sofás pequenos, uma mesinha de vidro no centro com um vaso de flores em cima. Algumas estantes contendo vários livros e mais duas portas.
— Onde está a cama? — perguntou sem pensar, não sei mais o que devo dizer, ele fechou a porta.
— Mal chegou aqui e já quer ir pra cama? Você é bem fogosa — ele passa por mim e anda até uma das estantes.
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Meu Diabo Favorito
Romance#20 Em Romance! "Nem Deus Poderá Salva-la Dos Meus Desejos Mais Sombrios" Kaila vê sua vida virar de cabeça para baixo após receber um pergaminho misterioso vindo de um sujeito que se diz ser o próprio diabo. Descrente e sem muita escolha, ela assin...