Capitulo 39

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Mais que cara oportunista, ele nem está disfarçando. Aposto que se eu negar isso ele não vai me deixar ficar no quarto e isso atrapalharia o meu plano de descoberta. Que seja, eu preciso descobrir o que que acontecendo aqui nem que pra isso eu tenha que compartilhar da mesma cama que ele.
— Ok, mas se você encostar um dedo em mim eu juro que vou dar um soco nessa sua cara — concordei mas dando uma das minhas boas ameaças, quanto menos ele desconfiar melhor.
— Estamos de acordo então — ele sorriu — mas o que vai encostar em você não vai ser um dedo não. Infelizmente eu sempre durmo pelado, sabe.

— O que...
— Kaila, Kaila — ele voltou a rir da minha cara — você é uma comédia. Fique tranquila, eu não te daria esse luxo de me ver pelado não.
— Vocês podiam parar com esse papo bizarro e vir me ajudar aqui? — pediu Bety nos fuzilando com os olhos.
— Você ouviu a mamãe, vá ajudar — ele deu as costas pra a gente e saiu andando.
— Não serve nem pra ajudar — reclamei ao ver que todo o trabalho iria cair nas minhas costas. Mas é justo já que o quarto é meu.
— Então você aceitou dormir com ele — Bety não esperou o assunto nem esfriar.
— Sim, mas não é isso que você está pensando — comecei a recolher alguns dos cacos de vidro.

— Já tive a sua idade Kaila, sei como as coisas funcionam lá em baixo.
— Isso sim é um papo muito estranho senhora Bety. Está parecendo a minha colega de serviço. Só irei dormir na mesma cama que ele porque quero ver uma coisa — Ok, isso soou muito estranho.
— Uma coisa? Não quero nem saber que coisa é essa — Bety riu.
— Pode parar — a empurrei enquanto ambas estávamos retirando os lençóis.
— Eu não disse nada.
— É outra coisa que quero ver. Mas não vou te contar não, agora também tenho meus segredos.
— Então está aprendendo direitinho a ser deste novo mundo. O mundo do dinheiro, poder e segredos.
— Sim, agora sou terrivelmente má.
— Você não tem nada de má, Kaila. Eu já vi pessoas más e você não se parece nada com elas, e espero que nunca se pareça.

— Bety, a quanto tempo você está aqui? — puxei um dos carpetes e o enrolei — pode me responder isso?
— Vejamos — ela alongou as costas — estou aqui desde que o patrão comprou esta mansão a sete anos.
— Então você o conhece a exatos sete anos?
— Não sei se devo responder isso.
— Qual o problema em responder esta simples pergunta? — a questionei.
— Não é a pergunta que é o problema. É você. Você é muito esperta e se eu responder demais, você vai saber demais. E é melhor não saber nada, pelo menos não por mim.
— Você nunca me responde quase nada — reclamei, mas não esperava que ela fosse responder então não fiquei chateada.

— Eu conheci o patrão quando ele tinha exatos dez anos. Satisfeita?
Dez anos? Uma informação muito valiosa se eu conseguir juntar os fatos. Como eles se conheceram? O que ela é para ele e qual é o nível de ligação entre os dois. Horrania disse que Lúcifer não falava com ninguém além de Bety e agora sei o porquê, eles estão nisso desde que ele era uma criança. Mas isso não basta, é apenas uma suposição em meio a varias teorias. E se ela for um tipo de mãe ou guardiã dele?

Não, acho que não poderia ser, preciso observar os dois quando estiverem juntos para tentar entender qual o nível de afeto existe entre eles. Naquela conversa com Cho, Bety mencionou que Lúcifer havia cumprido o que tinha prometido, o que ele prometeu a ela que a deixou tão leal assim?
— No que tanto pensa? — Bety perguntou ao notar que fiquei calada por tempo demais.
— Nada.
— Viu, você pensa demais e por isso eu respondo de menos. Pequena Kaila curiosa.
— Você me disse que estava nisso tudo apenas pela sua filha. Lúcifer tem alguma coisa haver com isso? Ele fez algum mal à sua família? — Vou fazer mais perguntas mesmo que ela as ignore.

— O patrão salvou o resto da família que me restava, ele nunca faria esse tipo de maldade. Por isso sou tão grata a ele, por baixo daquela personalidade egoísta e arrogante existe alguém que luta contra a própria criação. Mas agora vamos focar em arrumar algo para fechar essa janela quebrada.
Como de costume ela fugiu mais uma vez do assunto. O dia passou mais devagar do que o normal, talvez fosse pela chuva que insistia em cair e parecia não ter fim. E ali estava eu, de frente para a porta vermelha do covil do diabo, vestindo meu pijama, minhas pantufas e segurando apenas um travesseiro em baixo do braço. Agora não adianta recuar, chegou a hora. Dei três batidas e ele abriu a porta.

— Veio sem calcinha? — e ele já começou com as piadinhas seguidas de um sorriso idiota.
— Sai da frente — o empurrei e entrei na pequena sala enquanto ele fechava a porta atrás de mim. O diabo usava uma calça preta de pano suave perfeita para dias frios e sua blusa de mangas longas parecia ser do mesmo tecido, a diferença era que ela era azul escuro.
— Está com sono? — ele perguntou indo em direção ao sofá. O local estava bem iluminado e bem quentinho, dali quase não era possível escutar o som da chuva.
— Ainda não. Isso é tão estranho — joguei o travesseiro no sofá e andei até a estante de livros apenas para não ficar parada com cara de idiota.

— Eu entendo, você nunca deve ter entrado no quarto de nenhum homem durante toda a sua vida. Quem iria querer você?
— Quartos de homens, por que eu iria querer perder meu tempo transando com qualquer um? — o encarei de longe.
— Não é isso que vocês chamam de curtir a vida? Sexo barato e noites viradas a álcool.
— Está me confundindo — voltei até ele e me sentei no sofá — eu não sou como essas pessoas lá fora, nunca fui uma garota como as outras. É por esse mesmo motivo que você nunca conseguirá encostar em mim como encosta nessas suas mulheres fáceis.

— Eu já disse, não quero encostar em você — ele encheu uma taça com bebida que estava sobre a mesinha a nossa frente e deu um gole.
— Sei — coloquei os pés sobre o sofá e me aconcheguei como uma tartaruga —  eu descobri algo sobre você. Desde então não te odeio tanto como antes.
— Não há nada que você possa descobrir sobre mim — Lúcifer começou a encarar os meus pés descobertos, já que as pantufas ficaram no chão.
— Você é como eu — falei puxando os pés para mais perto — você está vivendo duas vidas e não consegue decidir em qual permanecer, por isso sua personalidade muda tanto.
— Você tem pés gordos — enfim ele tirou suas conclusões após ficar olhando para os meus pés por alguns segundos.

— Não, eu não tenho.
— Tem sim — ele puxou um dos meus pés da mesma maneira que Bety e começou a apertar — olha, parecem duas patas de elefante.
— Você está me ignorando, isso sim.
— Amanhã você tem aula com a Cho, mas na quinta feira vou te levar na cidade para te dar uma coisa — e ele continuou ignorando o que eu havia dito, mas pelo menos falou algo interessante.
— Cidade?
— Sim. Vou aproveitar e comprar algumas coisas também. E é bom você ir bem arrumada, não quero passar vergonha.
— Até parece — fingi não estar animada com a ideia de sair dali um pouco. Ver pessoas, carros, lojas e respirar ar fresco novamente. Agora estou empolgada mas não posso esquecer o que vim fazer aqui, encontrar a chave que abre o cadeado da caixa em baixo da cama.

Meu Diabo FavoritoOnde histórias criam vida. Descubra agora