— Sei que gostou — ele soltou o meu pé.
— Qual é o seu nome? Não quer que eu te chame de Lúcifer no meio da rua, quer? — momento perfeito para tentar arrancar alguma nova informação sobre ele, não é possível que aquele seja mesmo o seu nome.
— Lúcifer, esse é o meu nome.
— Você não é o diabo — e empurrei — você não é Lúcifer.
— Você sempre tirando suas próprias conclusões precipitadas Kaila. Na rua pode me chamar de Lu ou Luc, não me importo. E também temos a última opção, pode se referir a mim como mestre.
— Ah claro, mestre. Que tal se eu me ajoelhar também?
— Bom — ele bebeu outro gole — seria ótimo mas acho que as pessoas iriam nôs olhar e atenção é a única coisa que não precisamos na cidade.
— Não quer chamar atenção é? O poderoso diabo não quer ser visto comigo?
— Sente-se direito e coloque os pés no chão — ele fez um pedido bem estranho e nada haver com o assunto.
— Ué, por que?
— Anda — ele colocou o copo que segurava no chão e eu fiz o que havia pedido. Me sentei direito e a única coisa que ele fez foi deitar com a cabeça no meu colo.
— Estou começando a achar que você bebeu demais — falei sem entender nada daquilo.
— Eu quero te ver deste ângulo — ele ficou me encarando enquanto eu nem se quer sabia o que fazer ou dizer. Estou acostumada com ele me alfinetando, fazendo piadinhas e me torturando mentalmente. Mas Aquilo era novo — Você fica bem feia daqui de baixo, sabia? — ele riu e eu usei as mãos para tapar seus olhos.
— Então não olhe, caso não saiba, todo mundo fica feio deste ângulo seu idiota.
— Eu não fico — ele tirou minhas mãos dos seus olhos.
— Claro que não fica, você já é feio de todos os ângulos — dei um tapa em sua testa e em resposta ele beliscou a minha barriga me fazendo dar um pulinho no sofá.
— Você vai implorar pela minha presença quando tudo isso acabar, garota.
— Não vou não. Nem se quer quero lembrar da sua cara. Talvez eu venha visitar a Horrania e a Bety e nesses dias quero que você saía da mansão.
— Quando tudo isso acabar eu não estarei mais aqui.
— Vai se mudar é? — quis saber mas ele apenas sorriu.
— Você faz perguntas demais.
— Se você não fosse todo estranho eu não faria tantas perguntas — puxei o seu cabelo.
— Sua maneira de demonstrar afeto é muito bizarra, Kaila.
— Afeto, até parece. Mesmo se eu quisesse acho que não saberia demonstrar isso a alguém. Eu cresci sem afeto de ninguém, sem pais, amigos, parentes. Eu meio que sou uma garota fria.
— Não, você não tem nada de fria.
— Não cresci sendo mimada como você. O garotinho de ouro cheio de riquezas e funcionários para limpar a bunda.
— Mesmo se você tivesse funcionários Kaila, eles não conseguiram diferenciar sua cara da sua bunda.
— Morra — peguei o travesseiro ao meu lado e o posicionei contra a cara do diabo — agora vai sufocar até morrer.
— Sabe que isso só funciona em filmes né — Ele falou com a voz abafada — que tal jogarmos um jogo de cartas de frente pra lareira?
— Um jogo de cartas? — retirei o travesseiro do seu rosto.
— Sim, vamos jogar vinte e um.
— Eu sou muito boa com cartas e quase nunca perco.
— Ótimo — ele se sentou e alongou as costas — Vamos jogar então. Mas vai ser valendo algo, a cada nova derrota uma peça de roupa será tirada do perdedor.
— Vai pensando que eu vou fazer...
— Reclama demais — ele me interrompeu enquanto se levantava — se não quer jogar assim então tenho uma proposta melhor, mas vai ser bem mais dolorosa.
— E qual seria a proposta? — me levantei e coloquei minhas pantufas de volta.
— É um milagre essas pantufas caberem nesses seus pés obesos — Lúcifer andou até a estante de livros e começou a revira-los até encontrar uma caixinha dourada — as regras serão as seguintes: quem perder vai levar uma chinelada bem dada em uma das mãos — ele retirou as cartas de dentro da caixinha e por alguma razão estava com um olhar de satisfação.
— Eu não vou fazer isso — reclamei — que coisa infantil. Me recuso.
Minutos depois estávamos sentados no carpete próximo a lareira acesa, o baralho encontrava-se no chão entre a gente e cada um segurava um chinelo de borracha. O jogo ia começar. Por que diabos eu aceitei isso? Acho que pelo prazer de dar boas chinelada no chifrudo.
— Vamos puxar uma carta de cada vez, aquele que tirar vinte e um terá direito a dar duas chineladas. Se a pessoa perder por que ultrapassou o número então ela leva apenas uma chinelada. Entendido? — ele me perguntou enquanto eu ficava aérea encarando as chamas ondulantes da lareira luxuosa.
— Entendi — voltei minha atenção para ele — vinte e um valem duas chineladas, vitória comum vale uma chinelada. Vou adorar esfolar seus cascos.
— Vamos ver até onde você aguenta, Kaila. E nem estou falando de sexo, nele você não aguentaria nem três minutos comigo — ele começou a embaralhar as cartas.
— O que? Eu escutei direito? Eu não aguentaria nem seus três centímetros? — Comecei a rir.
— Muito engraçada — ele voltou a posicionar o baralho no chão — uma virgenzinha comediante. Você começa. Pegue a carta e a coloque virada pra cima para que eu possa ver. Em seguida farei o mesmo.
— Você fala com muita certeza, não sabe se sou virgem — obvio que sabe. Fica estampado na minha cara. Peguei a primeira carta e a coloquei perto de mim, era uma rainha equivalente ao número dez.
— Sinto seu cheiro de virgem a quilômetros de distância — em seguida foi a vez do diabo, ele pegou um rei.
— Você deve estar se auto cheirando, você me olha como um cachorro no cio, a julgar por isso eu tenho certeza de que nunca levou uma mulher pra cama — puxei outra carta, um oito. Agora eu tinha dezoito em mãos, um ótimo número — eu paro aqui — dei um largo sorriso desafiando o demônio.
— Kaila, antes da noite ter fim você estará na minha cama — ele puxou mais uma, outro rei. Que merda, agora ele tinha um vinte — eu venci essa rodada.
— Claro que vou estar na sua cama — estendi a mão para receber a punição por perder — vou dormir nela, idiota.
— Caladinha — ele pegou o chinelo mas tenho certeza que vai hesitar ou bater devagar. E então BUM, o filho da puta nem se quer cogitou na ideia de maneirar na chinelada — isso é por todas as vezes que me desobedeceu.
— Você não sabe tratar uma dama — agora era a minha vez de embaralhar as cartas usando a minha mão avermelhada.
— Não vejo dama alguma — ele cruzou os braços observando os movimentos que eu fazia entrelaçando carta por carta. Posicionei o baralho na posição inicial e ele puxou a primeira carta. Era um rei.
— Minha vez — puxei um nove — a propósito, se lembra de quando me beijou pela primeira vez? — hora de fazer uma nova análise.
— O que isso tem haver com o jogo? — ele puxou outro rei. Que diabo de sorte é essa em que ele pega dois vintes em duas rodadas?
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Meu Diabo Favorito
Romance#20 Em Romance! "Nem Deus Poderá Salva-la Dos Meus Desejos Mais Sombrios" Kaila vê sua vida virar de cabeça para baixo após receber um pergaminho misterioso vindo de um sujeito que se diz ser o próprio diabo. Descrente e sem muita escolha, ela assin...