Capitulo 8

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— Hm, interessante — Lúcifer mordeu o lábio inferior — mudei de ideia.
— Miserável.
— Você não é um churrasquinho não. Está mais para espetinho de pé de galinha. Muito triste, lastimável — ele deu as costas novamente enquanto ria da situação — e Bety, fique mais um pouco. Quero que nossa convidada tenha uma plateia para assistir as suas  vergonhas alheias. Cerrei os punhos e senti a mão de Bety segurar meu braço.
— Você não devia ficar desafiando o patrão.
— Você não viu o que ele fez?
— Ele fez o que fez por minha culpa, eu não devia ter deixado que usasse esse vestido.

— Isso não tem nada haver, é ape...
— Obrigada — Bety me interrompeu — de qualquer modo, você salvou o meu emprego. É a primeira vez que o vejo mudar de ideia em relação a demitir alguém.
— Salvei? Você não vai mais precisar ir embora então?
— Pode apostar que não. Mas você pagou o preço. Por isso foi beijada. Você o desafiou, então ele a desafiou. Mas não vamos perder tempo aqui, preciso lhe alimentar.
— Eu não sou um hamster — cruzei os braços enquanto observava a entrada principal da mansão. Era uma entrada bonita e detalhada.
— Um hamster não. Mas um castor atrevido, talvez.
— Eu preciso ver como é lá fora.
— Não — Bety segurou meu braço com mais força ao perceber que eu tinha a intenção de andar em direção a porta — você e eu vamos para a sala de jantar. Agora mesmo.
— Mas a exploração me chama.
— O patrão deve estar caminhando la fora, quer esbarrar com ele outra vez?

— É, vendo por esse lado acho melhor irmos para a sala de jantar.
Como já esperava, a sala de jantar era enorme. Bem no centro havia uma extensa mesa de mármore negro. Sobre ela várias decorações, como frutas, velas, panos de pratos e bandejas reluzentes. Ao fundo pude ver outra janela, esta maior que as outras, devia servir para dar uma boa iluminação ao lugar. A direita estava o balcão que separava a sala da mini cozinha particular. Havia dois cozinheiros andando de um lado para o outro, pareciam preparar algo. A esquerda um belo quadro pregado a parede, ao lado de alguns troféus, medalhas, condecorações e itens bastante peculiares.
— Kaila, que bom revê-la — uma voz feminina ecoou em minhas costas. Era familiar. Nos viramos para ver quem era e tratava-se da mesma mulher que havia me entregue o contrato na cafeteria no dia anterior.


ENTRANDO NO JOGO


— Você, a mulher louca não tão louca assim — dei um sorriso amigável.
— Eu prefiro Morgana – ela estendeu a mão e eu fiz o mesmo.
— Morgana, nome legal. Eu sou... bem, você já sabe.
— Sei mesmo. Então – olhou para Bety — vou rouba-la um pouquinho.
— É toda sua, senhora — Bety deixou a cozinha e Morgana puxou uma cadeira para que eu me sentasse, em seguida sentou-se ao meu lado. Suas roupas eram elegantes assim como sua postura ao sentar, seus olhos me encaravam com uma certa excitação, ela parecia estar gostando de toda aquela situação envolvendo o contrato estranho. Mas porque? O que ela ganhava com tudo aquilo e qual era de fato o seu papel dentro daquele jogo?

Em questão de segundos um dos cozinheiros aproximou-se trazendo consigo alguns pratos que acabara de preparar. Eles estavam bem organizados e cada um portava alimentos distintos. Dentro do primeiro havia um tipo de salada colorida acompanhada de uma mistura estranha que parecia ser purê de batata. O segundo era repleto de carnes diferenciadas e eu só reconheci a lagosta. O último possuía arroz, feijão, linguiça bovina, macarrão e salada de tomates. Finalmente algo que eu conheça e queira comer, puxei-o para mais perto e este estava acompanhado dos talheres.
— Cadê a colher? — vasculhei a mesa e os pratos, mas não haviam colheres ali. Apenas garfos e facas. Por algum motivo aquilo fez Morgana sorrir.

— Não estou vendo nenhuma tigela com sopa — comentou ela – colheres são usadas geralmente para apreciar um bom ensopado de camarões.
— De onde eu velho eles usam a colher até para tomar suco.
— Imagino. Vamos, sirva-se.
— Então — preciso urgentemente fingir saber o que estou fazendo para não passar mais vergonha. Tento me recordar da maneira em que as pessoas elegantes se alimentam nos filmes ou séries. Segurei a faca na mão esquerda e com a direita ergui o garfo — Você não vai comer? — pergunto, tentando fazer com que Morgana desvie a atenção de minhas mãos.

— Está errado — ela encara a faca — O garfo fica na esquerda e a faca na mão direita. Mas você pode comer como quiser na minha presença, só estou dizendo para que saiba em quais mãos segurar os talheres.
— Obrigada — destroquei os talheres — como pode ver, eu não entendo nada dessas coisas. Até ontem nem comida direito havia no meu apartamento.
— Estou aqui para lhe orientar em algumas coisas, fique tranquila. Me diga, Kaila — ela pousou suavemente as mãos sobre a mesa – qual é o seu plano?
— Plano? Como assim? — dei a primeira garfada.

— Sim, em relação a isso tudo. Você tem apenas duas escolhas, seguir as regras por bem ou por mal. Mas como tudo isso é novo para você eu sei que deve ter criado vários planos para burlar as regras.
Meu estômago revirou, mas me mantive firme. Ela estava correta, eu tinha um plano, mas será que ele era o caminho certo a se seguir? Ou eu devia apenas continuar ali curtindo todas aquelas mordomias que a vida estava me oferecendo? Ou melhor, o próprio diabo.
— Não existe planos — menti. Mas ela já esperava por isso.

— Entendo. Quero que saiba de algumas coisas importantes que talvez te façam ver a situação de uma maneira mais clara. Primeiro, você não é uma prisioneira aqui.
— Não sou? — falei tão rápido que uma lasca de tomate voou longe. Espero que ela não tenha visto isso.
— Não, você não é. Vai poder ir a onde quiser, gastar com o que quiser é visitar quem quiser. Mas não por agora, você está em fase de testes ainda e tudo vai depender da sua maneira de se portar diante do patrão.
— Ele — cerrei os punhos — como vou conseguir me portar de uma maneira elegante perto dele. Mal o conheço e já quero espreme-lo entre os dedos — Não me contive, será que eu devia mesmo ter dito aquilo diante de Morgana? Mas para a minha surpresa ela apenas sorriu.

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