Capitulo 23

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AS SERPENTES


Bem, tanto faz. Isso não é importante, se ele acha que pode me afetar trazendo outras garotas aqui, ele que se foda. Por alguns segundos fico ali parada encarando a porta, eu devia voltar para o meu quarto e seguir com os meus afazeres do dia. Mas minha curiosidade consegue ser mais forte do que qualquer outro desejo. Preciso saber quem é essa mulherzinha barata e o que ela quer aqui, seria outra a receber um contrato como o meu? Não, acho que não.

Suas roupas pareciam bem caras e o seus cabelos loiros estavam reluzentes, era uma mulher de classe. Mas não deixa de ser uma oferecida. Droga, porque estou com raiva dela? Nem a conheço e já estou julgando. O certo a se fazer agora é dar meia volta e ignorar isso tudo, mas não sou alguém que faz o certo. Ando devagar pelo corredor, me aproximando cada vez mais da porta vermelha. Agora não tem volta, estou com o rosto basicamente colado a madeira da porta, consigo ouvir alguns sussurros, eles estão conversando. Daqui consigo distinguir algumas palavras ou frases que sem contexto não fazem sentido algum. "Isso vai ser duro" Que porra de conversa é essa??? O que vai ser duro? Não me diga que eles vão transar? "Com o tempo, vai se encaixar"

MEU DEUS, ISSO É UMA CONVERSA OU UM ENREDO PORNÔ??? "Você é a melhor nisso"
Olha só o que esse filho da desgraça está falando para a baranga bunduda. Achou uma qualquer para comer sem dificuldades, antes ela do que eu, morro virgem mas não me torno uma mulher fácil como ela. Apoio às duas mãos na porta e aperto mais o ouvido contra a madeira, maldita escolha pois a porta se abriu bruscamente me fazendo perder o equilíbrio e cair de quatro dentro do covil. Que vergonha, não quero nem olhar, aposto que eles estão pelados me encarando e tentando entender o que aconteceu ali.

Meu tablet acabou caindo ao meu lado e por alguns segundos eu continuo ali, de quatro fitando o carpete, fingindo ser invisível. Será que me notaram?
— Bom dia, Kaila — era a voz dele. Então pelo visto eu não sou invisível, mas adoraria ser. Que vergonha, como vou explicar isso?
— Ótimo dia — respondo, pensando em algo convincente para dizer — estava passando para... bem, analisar o carpete, vou pedir a Bety para trocar alguns. Esse aqui é um ótimo carpete, bem sedoso, muito lindo — passei a mão sobre o tecido — esse aqui não precisa ser trocado. Bom, já vou indo — pego meu tablet e me levando rápido sem olhar para nada, apenas me viro e...

— Não dei permissão para você sair, volte aqui, agora que está aí venha aqui participar.
QUEEEEEEEE??? Ele quer que eu me vire e os veja pelados no sofá??? Pior ainda, quer que eu participe daquela merda toda? Quem ele pensa que eu sou para fazer um convite absurdo desse? Que vontade enorme de dar um socão naquela cara.
— Não quero atrapalhar, preciso ir.
— Você já atrapalhou, ratazana. Venha logo aqui.
Sem ter o que fazer, me viro lentamente já mentalizando uma cena lastimável, mas para a minha surpresa, eles não estavam pelados. Estavam sentados no sofá e ambos seguravam alguns papéis, sobre a mesinha haviam duas taças com algum tipo de bebida que eu desconhecia.

A mulher esbanjava um belo sorriso misterioso, seus lábios estavam bem tingidos de um vermelho escuro e ela era muito linda.
— É ela? A garota de quem estávamos falando?
— Sim — Lúcifer respondeu — essa aí é a pequena rata que você terá que se esforçar para ensinar algo.
Ensinar? Então aquela mulher será uma das minhas professoras?
— Olhe esse rosto — disse a mulher enquanto se levantava e dava passos até mim — Você é tão linda — ela deslizou os dedos sob as minhas bochechas. Que mãos quentes. E esse perfume, tão gostoso, me lembra bastante algo como um Jardim.

— Linda? Você está olhando do avesso — o diabo logo começou a zombar, ele também se levantou e veio até mim, ambos ficaram ali lado a lado bem diante dos meus olhos.
— Eu sei que você também a acha linda — continuou ela, mas dessa vez passando suavemente os dedos sobre o meu queixo — por que mais estaria investindo tanto nela?
— Você sabe, coisas profissionais. Agora pare de elogia-la. Ela merece é ser castigada por espionar a conversa dos outros.
— Eu não estava espionando... — tentei me defender.
— E ainda por cima é mentirosa — ele voltou a se sentar.

— Os mentirosos são os únicos que vivem a verdadeira vida — prosseguiu ela — quando eu terminar com você, estará irreconhecível. Mas não pense que irei pegar leve, sou a melhor no que faço e eu faço o impossível.
— E o que você faz? — Tive que perguntar, se ela seria uma das minhas professoras então eu precisava saber.
— Eu faço tudo, sou a elite das classes e eu crio as celebridades. Sem mais detalhes, iremos passar bastante tempo juntas então podemos falar do que eu faço outra hora.
— Ok então. Mas qual é o seu nome?
— Pode me chamar de Cho.
— Prazer, sou Kaila.

— Ela já sabe — O diabo adora se intrometer naquilo que não era chamado, mas eu já devia ter deduzido que Cho sabia o meu nome, afinal estavam falando sobre mim, antes de eu cair de quatro dentro da sala.
— Bem, já vou indo. Te vejo em breve Cho.
Andei rápido de volta ao quarto e fechei a porta, tenho que tomar mais cuidado para que coisas assim não se repitam. Que vergonhoso, fui pega xeretando e agora ele pode usar isso contra mim, para me atormentar. Liguei o tablet e para a minha surpresa havia uma notificação sobre o meu nível. Finalmente cheguei ao nível dois após completar aquela tarefa idiota, pelo menos a minha vergonha alheia não foi em vão.

Uma outra notificação se sobrepôs sobre o meu nível e nela dizia que eu havia desbloqueado uma nova área na mansão. Ótimo, agora posso ir em algum outro lugar, só preciso acha-lo. Amanhã começam as tais aulas que irão me tornar uma garota de classe alta, estarei um passo mais perto de ganhar esse jogo.
Meia hora se passou enquanto eu fazia os meus afazeres, como escovar os dentes, trocar de roupa e arrumar o meu cabelo. Fiquei ali de frente para a penteadeira apenas observando os detalhes do meu rosto, será que Cho me achava mesmo linda? Ou estava apenas tentando se familiarizar com sua nova aluna? E o que será que ela iria me ensinar? Moda? Maneiras a mesa? A tocar piano? Parece que terei que esperar até amanhã para descobrir.

— Senhorita Kaila — era a voz de Bety do outro lado da porta.
— Pode entrar, e já falei para parar com isso de senhorita.
— É costume — disse ela adentrando e vindo até mim — a senhori... digo, você é bem bonita, Kaila.
— Eu não acho.
— Pois devia, mesmo sem maquiagem o seu rosto é belo.
— Se você diz — sorrio, colocando o pente sobre a penteadeira — Bety, por que se envolveu com ele? Pelo que sei, todos aqui possuem um objetivo em comum, como pagar dívidas ou ter um lugar para morar. Mas e você? É a mesma coisa?

Meu Diabo FavoritoOnde histórias criam vida. Descubra agora