Fifty Three

361 28 17
                                    

Vulnerability

Alison

As últimas semanas passaram num estalar de dedos, tudo havia voltado aos eixos como antigamente.

Eu ainda não havia voltado a trabalhar e só de falar sobre isso meus pais já cortavam o assunto e começavam com o discurso de que eu não deveria voltar.

Desde do que aconteceu eles ficaram mais receosos ainda, nenhum dos meninos concordaram com a minha ideia de voltar e a Kath... Bom, a Kath gritou e listou mais de 100 motivos pra eu não pisar o pé na calçada de lá.

Confesso que parte de mim realmente não quer voltar e não é como se eu não conseguisse arranjar um emprego em outro lugar.

Por um outro lado, minha mãe e eu tínhamos começado a arrumar o quarto para a chegada do meu irmão.

Eu realmente estava me ocupando o máximo que eu podia e ver os sorrisos nos rostos dos meus pais enquanto passávamos pelas lojas de bebês no shopping era gratificante.

Tudo estava ocorrendo muito bem. E confesso que me dava um pouco de medo porque eu penso que a qualquer momento tudo poderia mudar.

E bom... Como diz uma sábia pessoa que eu conheço, esses pensamentos poderiam ser uma sabotagem da minha parte, por pensar que talvez eu não merecesse uma vida tranquila e em paz, com tudo dando certo.

Mas eu não posso deixar que isso me consuma porque não é a verdade.

Depois de tudo aquilo, querendo ou não, superando ou não, voltar a vida normal era estranho.

E isso foi tudo que a minha psicóloga ouviu de mim hoje.

- Certo... - Lydia balançou a cabeça assim que eu terminei de falar, fazendo algumas anotações em seu bloco. - Nós ainda temos meia hora sobrando - constatou depois de olhar para o relógio na parede. - Você não quer me contar mais nada agora?

- Eu acho que não.

- Tem certeza? - ela me encarou com as sobrancelhas arqueadas, endireitando a postura na poltrona. Eu franzi a testa, sem entender onde ela queria chegar. - Nem mesmo sobre o Joel?

- O que tem o Joel? - perguntei, congelando no lugar por um momento.

Lydia esboçou um sorriso aberto enquanto fechava seu bloquinho de anotações no colo e retirava o óculos de grau do rosto.

- Me diz você... - ela devolveu. - Já faz semanas que eu tenho ouvido você falar constantemente desse garoto. E isso é meio estranho pra mim. Porque você costuma falar mais sobre os seus pais e os amigos que eu conheço desde sempre. A Kath, o Chris, o Erick, o Richard e o Zabdiel. Mas o Joel é novidade - continuou, falando num tom levemente aveludado. - Não quer me contar o que está acontecendo entre vocês?

- Acho que não é uma boa ideia - murmurei, me remexendo inquieta no assento. - Minha história com o Joel é muito complicada e cheia de altos e baixos, Lydia... - deixei um suspiro pesado escapar dos lábios. - Ia demorar pra tentar explicar tudo.

- Que sorte você ser minha última paciente marcada pra hoje, então - Lydia depositou seu bloco em cima da mesinha. - Eu tenho todo tempo do mundo pra te ouvir.

Respirei e me encostei no sofá, pensando que não tinha mais para onde correr. Afinal, Lydia era minha psicóloga. Se eu quisesse obter resultados no tratamento, tinha que contar tudo para ela. Colocar para fora os sentimentos confusos que estavam me aflingindo naqueles dias. Eu não podia esconder absolutamente nada.

- Eu conheci o Joel no começo do ano. Era um domingo de manhã. Nós estávamos saindo da igreja quando eu esbarrei nele e derramei água na jaqueta dele. Joel ficou muito bravo e brigou comigo. Eu fui embora porque não quis escutar besteira. Achei que nunca mais ia ter que olhar pra cara daquele garoto insuportável de novo. Mas é claro que eu estava enganada... - revirei os olhos, brincando com minha pulseira. - A maior surpresa veio no outro dia. Eu descobri que o Joel era o melhor amigo dos meninos que estava se mudando de volta pra Hesperia depois de ter passado os últimos anos morando em Los Angeles. Só que as novidades não pararam por aí. Ele também estava matriculado na mesma faculdade e no mesmo curso que eu - ri, me lembrando daquela segunda-feira caótica. - O resto da história você pode imaginar. Nós fomos obrigados a conviver juntos por causa da faculdade e dos amigos em comum. E acho que essa foi a coisa mais difícil que eu já tive que fazer em toda a minha vida...

Not Steady Onde histórias criam vida. Descubra agora