60 dias depois....
Eve
Os movimentos repetitivos das bolinhas metálicas ecoam pela sala silenciosa enquanto tento acalmar o coração e trazer ordem à mente para processar o questionamento da terapeuta.
Como me sinto sabendo que devo retornar à minha rotina?
Deslizo a língua por entre os lábios secos e esfrego uma coxa com a mão de forma ansiosa enquanto tento transformar meus sentimentos em palavras.
Viver com o Bordeline é como estar preso em uma grande tormenta em mar aberto. É uma verdadeira bagunça onde as emoções são as ondas gigantescas que lhe cercam e engolem por todos os lados o deixando confuso e completamente desesperado pela incapacidade de salvamento.
Não há como definir o que te atinge primeiro e você ao menos se importa em tentar descobrir porque a única sensação que lhe consome é o medo por saber estar prestes a se afogar, apesar da luta para não imergir.
É avassalador, doloroso, insuportável e, para alguns, mortal.
─ Leve o tempo que precisar, Evangeline. ─ Joceline garantiu, compreensiva pelo momento tenso. Estávamos naquilo há exatos sessenta dias e, apesar de certos avanços, ainda era tudo muito doloroso.
Voltar para casa. Me reinserir na rotina universitária e restabelecer vínculos sociais e afetivos iria sugar toda a minha força de vontade em aprender a conviver com o Bordeline da forma mais saudável possível. Então, sim. Eu estava surtando pra caralho no momento.
Me remexi no divã, tentando ficar confortável o suficiente para desembaralhar o entranhado de coisas que poluíam meu cérebro antes de fechar os olhos e expirar lentamente pela boca, exatamente como as técnicas aprendidas nas sessões de controle de raiva propuseram e visualizei o cubo de Rubik desordenado que assimilei aos meus sentimentos.
O tratamento psicológico obtido nesses dois longos meses havia me munido de ferramentas para aprender a discernir e avaliar minhas reações e o cubo servia bem como instrumento visual auxiliar.
Era tudo teoricamente simples. Eu só precisava reagrupar as cores para compartimentalizar as minhas emoções.
Vermelho funcionava para emoções primárias, azul para as secundárias. Amarelo para as positivas e verde para as negativas. As partes laranja e branca eram destinadas às possibilidades de enfrentamentos acerca de um gatilho e visualização positiva.
Geralmente a vertente vermelha sempre era a mais fácil de organizar, talvez porque, reconhecer medos e inseguranças fosse algo comum a quem possui problemas emocionais. Essas sensações são sempre as mais intensas e as catalizadoras para tudo o que vem depois.
─ Eu sinto que a maior parte do que me consome é o medo de falhar. ─ confessei, começando a mover as peças do cubo. ─ De não ser forte o suficiente e ceder aos vícios.
─ Algo mais? ─ Joceline pediu, sabendo que o cubo ainda não estava em ordem.
─ Euforia. Alegria... sinto uma curiosidade intensa sobre voltar e ver como tudo vai se estabelecer. Quero encontrar com Moira. Quero me envolver nos preparativos da chegada de Tyler. Quero recomeçar a minha vida.
Vermelho e amarela completadas.
─ E o que poderia agir como um impedimento à essas necessidades?
Mordi o lábio inferior, ainda de olhos fechados concentrada em encaixar as partes referentes às emoções que me prendiam ao medo.
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PANDORA ||Livro 2||
RomanceÉ NECESSÁRIO A LEITURA DO VOLUME I: SETE MINUTOS NO CÉU. Eve enfim conquistou seu objetivo. Adam é apenas a sombra do homem que um dia fora, assim como ele fizera com Lianne. Tudo ocorrera como o planejado: ele perdera tudo o que mais amava. Lianne...