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Pandora

Você os matou! Você os matou! Você os matou!

Abri os olhos ao mesmo tempo em que o despertar me fez erguer o tronco. Suor banhava o meu rosto e a sensação de claustrofobia dominava meu consciente. Eu precisava de ar. Precisava sair daquele lugar.

O maldito pesadelo fora mais vívido do que nunca. A dor, duas vezes maior. Eu não suportava mais. Não queria aquelas merdas na minha mente dia após dia, momento após momento. Precisava fazer parar e só as corridas poderiam me aliviar.

Levantei da cama e corri para a porta do quarto desejando desesperadamente a liberdade, mas ela estava trancada. Por fora.

Ódio, fúria e desespero dominaram minha visão quando passei a esmurrar a madeira em busca de liberdade. Não seria possível que eles ousaram me enjaular como se eu fosse um animal. Eles não teriam a coragem.

Esmurrei mais duas vezes antes de forçar a maçaneta, acabando por machucar as minhas mãos. Um chute atingiu a parte inferior da porta e foi seguido por mais até que um movimento desequilibrado me levou ao chão.

Os gritos dentro da minha cabeça retornaram. A sensação de sufocamento e as imagens do pesadelo, também. Eu iria enlouquecer. Talvez eu já o tivesse feito.

— Pare. Pare. Pare. — implorei levando as mãos aos ouvidos na tentativa de diminuir o barulho ensurdecedor que os gritos criavam. Tinha que sair daquela casa. Tinha que correr...

A velocidade aplacava as vozes e o medo. Nas pistas eu era forte para lidar com os demônios. Correndo, meu mundo voltava a ficar em paz.

— Eve... — Adam chamou do outro lado da porta.

— Adam! — gritei voltando a forçar o trinco com vigor. — Me tira daqui. Eu preciso sair. Eu preciso correr!

— Eu não posso, anjo. — ele negou com tristeza. — Não até que a ajuda chegue.

Franzi o cenho sem entender completamente nada do que ele dizia.

— A única ajuda da qual preciso é a sua para escapar daqui. — argumentei sentindo o controle se esvair mais uma vez. — Deixe-me sair, Adam, por favor.

—Você está doente, anjo, e se sair nesse estado, poderá sofrer algum acidente ou fazer algo do qual não possa se arrepender. Eu.... Nós só queremos lhe manter a salvo até a chegada do médico.

— Eu não preciso da porra de um médico, seu idiota! — gritei sacolejando a porta com uma força recém-descoberta. — Vocês não podem me manter aqui contra a minha vontade. Isso é cárcere privado e pode ter certeza de que os denunciarei!

Tateei os bolsos em busca do celular, mas não o encontrei e, no frenesi maníaco, varri o quarto em uma busca desenfreada, porém, sem êxito.

— Onde enfiou a porra das minhas coisas, seu covarde? — inquiri, voltando para a porta chutando a madeira com toda a força possível. — Eu exijo que entregue as minhas coisas!

— Eve, se acalma, por favor. — ele pediu, fraco. Sua voz, apenas um sussurro sem vida. — Nós só queremos ajudar.

— Eu odeio você! — gritei entre o choro desenfreado. — Eu odeio todos vocês!

Gritei ferozmente na tentativa de eliminar metade da fúria que emanava do meu corpo e arremessei contra a porta, os objetos do quarto, exigindo que me libertassem antes de ir ao chão em um choro soluçante.

Me arrastei até a porta, ganhando pequenos cortes pelo corpo devido aos fragmentos do que fora estilhaçado, mas recebendo com alegria toda a dor, pois ela conseguia redirecionar o meu cérebro criando um pouco de alívio.

PANDORA ||Livro 2||Onde histórias criam vida. Descubra agora