PANDORA ||Livro 2||

19

Eve

A água cristalina molhou os meus pés ao beijar a areia branca e fina da praia paradisíaca. Inclinei o rosto na direção do sol vibrante e fechei os olhos ao encher o peito de ar antes de expirar calmamente, absorvendo a gama de bons sentimentos que inundava o meu corpo. Eu me sentia feliz como não acontecia a muito tempo. Verdadeiramente feliz por estar em casa, finalmente.

O riso infantil rodopiou pelo ar e serpenteou a minha volta despertando minha atenção além da paisagem tranquila para encontrar a menininha de longos cabelos pretos e olhos verdes que habitava em meus sonhos obsessivos da outra vida que já não me causava mais medo.

Ela sorriu em minha direção, apenas alguns metros de distância e eu retribuí me sentindo queimar em um amor poderoso e altamente protetor. Um amor maior do que tudo o que já havia experimentado até então.

A pequena garota nada disse. Ela apenas permaneceu sorrindo em expectativa, mas dentro da minha mente, uma necessidade imperiosa de alcança-la, nasceu. Movi os pés em sua direção, observando a alegria em sua expressão crescer enquanto sentia meu peito a ponto de explodir em uma mistura de emoções inéditas e poderosas que me incentivaram a andar mais e mais rápido.

O pequeno anjo saltitou em felicidade ao me ver chegar, porém, a cada passo dado em sua direção, mais ela recuava. Seu riso espalhando-se por todo o ar, preenchendo minhas veias com excitação enquanto sua imagem se embrenhava por entre as árvores da grande floresta delimitada pela praia.

Um temor trespassou pelo peito em um aviso para não continuar naquele caminho, porém, a compulsão por seguir a linda menina me tirou o poder de escolha. Eu queria tê-la em meus braços. Queria sentir a maciez de sua pele e acariciar seu rostinho perfeito e encantador.

Continuei a seguir o som melodioso que se expandia por entre as arvores em direção ao centro da floresta. Eu agora corria devido a necessidade de alcança-la. O coração, batendo cada vez mais forte para dar conta do esforço físico e emocional.

De repente, o riso parou. O vento que agitava os galhos das árvores cessou em conjunto despejando no ar um silêncio expectante. Não se ouvia nada além do barulho da minha própria respiração dificultosa pelo esforço da corrida. Nada além. Nem mesmo o som dos pássaros de outrora.

A mesma sensação que havia me guiado até ali, me fez caminhar mais alguns passos na direção final do sorriso e, quando enfim esmoreceu, me encontrei em uma bifurcação cujos caminhos eram guardados por duas garotas: Uma, poucos anos mais nova que eu e a outra, criança, ainda.

O dia estava quase no fim e o tom alaranjado do pôr do sol se infiltrava por entre as copas das arvores imprimindo uma atmosfera mística muito poderosa. Apesar de nada ser dito, minha mente compreendeu aquela representação.

Dois caminhos. Duas guardiãs. Uma decisão.

Venha comigo.

A garota do caminho da direita, o mais vivo e pulsante, falou em minha mente sob a entonação divertida e calorosa que me fez desejar segui-la. Olhei para sua imagem e senti-me verter algumas lágrimas ao vê-la sorrir e levantar a mão em minha direção em um claro convite.

Eu queria ir. O caminho a suas costas era bonito... tão cheio de luz e calor que mesmo sem optar por segui-lo, me fazia acolhida e amada. Na minha mente, eu a escolheria. Eu vinha escolhendo-a a vida inteira, mas o que havia na entrada da outra vertente também me era atrativo na mesma proporção.

Meus olhos caíram sobre a pequena criança antes de observar a paisagem do caminho que lhe fora incumbido, guardar. Havia cores também, mas essas, mais escuras e sombrias do que as texturas suaves que compunham o outo caminho.