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Adam


O cheiro dela impregnava os meus sonhos todas as noites desde que eu viera para cá. Lembranças se misturavam às fantasias de um futuro que sabia não poder existir, e por minha culpa.

Cinco meses sem ela. Cinco meses em que eu fingia viver em um mundo colorido quando apenas o cinza tingia as paisagens.

Eve se tornara meu mundo e quando achei que poderíamos ser felizes, que estávamos criando a nossa própria versão de paraíso, o inferno se abateu sobre nossas cabeças. Hoje ela se tornara minha pior lembrança e o meu único vício.

Juro que tentava com todas as minhas forças, manter distância, mas sempre acabava ao seu redor como um dependente químico em busca de uma dose do entorpecente, pois fora por isso que voltei a esse apartamento. Para relembrar todas as mentiras. Fora isso que me fez comprar o maldito perfume e borrifar do seu lado da cama todas as noites.

Por que eu simplesmente não a superava? Fiquei longe todo o verão, conheci garotas legais e muito dispostas a transas casuais... Pelo amor de Deus! Eu vinha quase que frequentemente dormindo com Kasey, então por qual razão Eve não deixava de comandar minhas emoções e o meu coração? Por que me sentia morrer sempre que lembrava dela nos braços do infeliz do Banks?

Ela estava com ele agora. Era ele quem a tinha todas as noites e foi ele quem a chupou na porra da sacada para qualquer um ver. Ele. Não eu. Somente uma pessoa sem o mínimo de amor-próprio continuava aficionado em uma relação tão tóxica.

Mas eu a amava. Não importava o que Eve me fizera passar ou sentir, a amava com a mesma intensidade e loucura do início e isso estava me consumindo.

Rolei para fora da cama, abandonando o travesseiro que tinha o cheiro dela, e caminhei até a mochila no quanto do quarto sentindo que enlouqueceria.

Havia trago algumas peças de roupas para ir à universidade e pedi que Otavian me liberasse do estágio o resto da semana, alegando os preparativos para a Parada e o campeonato inter casas, mas acho que ele sabia a verdade, porque mencionou que a casa do lago estaria à disposição se eu quisesse dar um tempo da correria.

Eu não queria, evidentemente. O que me era desejado consistia em permanecer naquela porra de apartamento me empanturrando de besteiras enquanto intoxicava o olfato com o perfume da mulher que amava sabendo que nunca mais a teria.

Joguei algumas peças de roupa para fora da mochila até encontrar o chapéu de pelúcia ridículo que marcara nosso primeiro encontro e que agora era também, prova cabal do sofrimento que às vezes me roubava o ar.

— Como fui reduzido a isso? — questionei retoricamente enquanto analisava o quadro patético em que me encontrava e acabei acordando Hope que logo veio se enroscar entre minhas pernas em um passeio meio grogue.

— Desculpe pelo barulho, pequena. Eu só estava pensando muito alto.

Hope choramingou e colocou o rostinho entre as patinhas parecendo entender o meu desespero.

— Você também sente a falta dela, não é? — mais um som sofrido que partiu meu coração.

— Ela teve que ir, garota. A mamãe está sofrendo muito por causa dos erros do papai, mas sabemos o quanto ela te ama. Ela voltará por você. Só irá demorar um pouquinho.

Minha cadelinha chorou mais um pouco antes que eu a pegasse no colo e voltasse para a cama sentindo-me completamente esgotado.

— Vamos ficar bem, Hope. Eu prometo. — foi tudo o que pude jurar antes de apertar a cachorrinha e o chapéu de pelúcia contra o peito, fechar os olhos e deixar a primeira lágrima rolar.

PANDORA ||Livro 2||Onde histórias criam vida. Descubra agora