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Pandora


Inferno: Denominação criada para descrever um dos mundos espirituais onde todo o sofrimento e dor aguarda pelos que, no mundo material, foram contra as leis de Deus.

No internato, as freiras discursavam sobre o lugar todas as vezes em que éramos pegos burlando as regras. Elas diziam que Satanás iria nos castigar utilizando nossos piores medos e que não adiantaria achar que ele não sabia, porque o demônio, assim como Deus, tudo via.

Eu revirava os olhos sempre que imposta à doutrinação inútil e costumava curtir com a cara dos alunos impressionáveis que caíam no golpe das gárgulas, mas agora, diante daquela visão horrenda comecei a dar crédito ao que elas falavam, pois se ver Lianne nos braços de Adam, estampando o sorriso mais bonito que já possuiu não fosse a concretização do meu inferno pessoal, então o diabo não me faria mal algum.

─ Eve. ─  a voz surpresa de Adam preencheu o momento desnorteador apagando o sorriso bobo do rosto de Lianne.

─ Eu...

As palavras se recusaram a sair não importando a força que eu imprimi ao comando. Elas simplesmente empacaram na garganta e não poderia culpa-las. Não imaginaria presenciar aquela interação nem em um milhão de anos.

Sempre que pensava em Lianne, a imaginava em um quadro totalmente diferente e solitário, o que só contribuía para aumentar o remorso, mas ela não estava infeliz. E muito menos sozinha. Lianne estava bem, apesar de tudo. Ela conseguia sorrir e seus olhos brilhavam tanto quanto antes... Se não soubesse que sua cabeça havia sido danificada, jamais suporia que estivesse enfrentando uma merda de situação, pois ali estava a garota de sempre: Otimista, cheia de energia e boas vibrações... A namorada perfeita para Adam.

Meus olhos observaram a paisagem harmônica que os dois formavam e um aperto no peito ameaçou me roubar todo o ar. Eles ficavam bonitos juntos. Mais do que Adam e eu jamais conseguiríamos ser e por minha culpa. Por ser tão fodida e repugnante.

Eu jamais mereceria a pessoa que Adam havia se tornado. Jamais poderíamos ter aquilo que os romances descreviam, porque o problema estava em mim. Na minha total incapacidade de me fazer ser amada.

Durante toda a minha vida fui o patinho feio e não falo sobre beleza física porque não era cega e muito menos modesta. Sabia ser bonita, sempre fui, mas a beleza que realmente importava não acompanhou a superficial. Já Lianne... Nossa, ela sempre fora a mais inteligente, a mais amorosa, a mais amada e ainda continuava a ser.

─ Eu fico feliz que tenha vindo, finalmente. ─ a voz contida e meiga me fez fitar seu rosto tenso, cujo sorriso demonstrado, expressava todo o esforço em confirmar a fala.

Muitas coisas haviam sido perdidas com seu despertar, porém os trejeitos continuavam presentes e perceber que ainda podia entender o que se passava em sua mente com a mesma familiaridade de antes reconfortou meu coração enlutado. Pena que não tenha sido o suficiente para acalmar o ciúme e o desespero que o inundava.

─ Eu percebo. ─ comentei com minha costumeira ironia, deixando-a ainda mais tensa.

Onde havia ido parar o plano de reconquistar o relacionamento que possuímos? Na casa do capeta, foi onde ele foi parar.

Não havia maneiras de voltarmos ao que tínhamos sido. Não quando Lianne olhava para Adam como quem avistava o sol pela primeira vez e muito menos quando meu coração rugia em ciúme e amor pelo mesmo idiota.

─ Adam você pode me colocar na cama? ─ minha prima pediu da mesma forma amável que eu conhecia e o rapaz prontamente obedeceu depositando-a no leito de forma cuidadosa antes de ajuda-la com a movimentação dos membros inferiores.

PANDORA ||Livro 2||Onde histórias criam vida. Descubra agora